31 de dezembro de 2009

mas, já?

Até que ponto perdeu-se o sentimento entre tanta hi-tech? A sociedade deixou de brincar no escuro para gostar na velocidade da luz. Amores 2.0, perfis selecionados, mal se dá chance a pobre casualidade. Meu desejo para 2010? Que a felicidade comece a vir em banda larga.

30 de dezembro de 2009

casal qualquer/qualquer casal

- Então?

- O quê?

- Fala alguma coisa.

- Não gosto de falar.

- Vive falando pelas tabelas.

- Minha cabeça é que anda pelas tabelas.

- Eu odeio silêncio.

- Eu odeio o teu barulho.

- Sempre disseste que amavas a minha voz.

- Sempre amei a tua voz. Odeio é o barulho da tua loucura.

- Agora eu sou o louco?

- A insanidade vai muito além da tua camiseta bem passada.

- O problema é o jeito que me visto?

- Também odeio a tua burrice.

- Mania ridícula de falar em códigos.

- Mania estúpida de ser preguiçoso.

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- Quanto tempo tu precisa?

- Uma vida.

- Começou.

- É.

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- Tu és insuportável.

- Queria não saber que tu estas mentindo.

- Querias então que realmente achasse isso?

- Assim tu irias de vez.

- Eu vou ir. Tu vais caminhar até a sacada para ver se eu ainda vou estar lá. Quando bater a porta do carro vais começar a sentir calafrios por mais uma vez ter desistido. E vou saber mais uma vez que tu não sabes te cuidar sozinha.

- Que sorriso de mérito.

- Sorriso de burrice.

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- Promete que fica essa noite?

- Eu vou ficar pro resto da vida.

- Nem precisa tanto. Pode ser só até eu aprender a me cuidar.

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- Eu te amo insuportável.

- Eu te amo em silêncio.

28 de dezembro de 2009

entre amigas

- Os lábios se não fossem mudos, estariam pedindo algo.
- O quê?
- Ainda não sei bem o quê. Mas estariam pedindo.
- Falar em voz alta as vezes é pecado.
- E pecado mesmo é acordar sem ressaca.

Soledad

O Drexler

A chuva

O café

São um triângulo amoroso.

Eu, entre eles

Evito brigas

Aproveito-me da situação.

18 de dezembro de 2009

Heidegger

Será que a linguagem do cotidiano não é sintética como uma moeda? Eu te pergunto “Tudo bem?” sem querer saber como estas. Me respondes “Tudo e contigo?” como quem dá o troco. E vamos embora, sem dever nada um ao outro.

15 de dezembro de 2009

meu melhor

Hoje ouvi algo muito bom. Em um programa Maria Rita – salve! – disse que era uma mulher com M maiúsculo e que isso trazia todas as qualidades e defeitos de se ser mulher. Nunca ouvi melhor descrição sobre o que realmente é se sentir mulher, sem feminismo, sem machismo, sem extremos, simples assim. Sou, sim, um emaranhado de qualidades e defeitos, com M maiúsculo, por mais tolo que pareça.
Quando disser “NÃO!”, talvez espere um tantinho mais de atenção para dizer “SIM!”. Quando estiver cansada talvez chore, quando estiver alegre talvez fale demais, haverá brigas em que não direi uma palavra e hão de permanecer os momentos em que o silêncio será apenas charme.
Eu sou aquilo que é ser mulher. Olharei de longe como quem não viu, olharei de perto como se não houvesse mais ninguém, saberei quando há um cheiro diferente na camisa e desconfiarei quando a roupa for só para chamar a minha atenção.
Sou mulher com M maiúsculo, às vezes de esmalte descascado, às vezes sem maquiagem e sem máscara alguma. Por vezes darei mais valor, por vezes menos, irei embora como quem nada perde, voltarei implorando um abraço amigo.
Sou mulher com M maiúsculo, não posso por nenhum segundo me permitir a oferecer metade do que poderia ser. Sede de ser mulher, aquela que procura a todo instante alguém que seja tudo.
Sou infinitamente mulher, e por ser assim, vou esperar o entendimento de toda recaída, toda TPM, todo dengo, toda manha e toda vontade, seja a hora que for. E se eu disser que tudo isso é simples, acredito que seja obrigação de todo homen perceber. Afinal, sou uma mulher com M maiúsculo, e mesmo que eu me engane, vou estar sempre esperando o "melhor".

6 de dezembro de 2009

Y cuando me pierdo en la ciudad

Hoje senti que deveria escrever algo. Escrever para extravasar, para colocar no papel todo aquele turbilhão que há aqui dentro, para me sentir acompanhada quando alguém me lesse, para contar memórias, para doar ao mundo essa minha confusão. O papel ficou em branco um bom tempo. Coloquei para tocar uma velha canção que meu pai ouvia muito. Cocei a nuca. Pensei. Pisquei os olhos lentamente. E em voz alta:

- Eu não quero escrever.

Hoje quero ficar em silêncio. Hoje devo ficar em silêncio. E as luzes da cidade falarão todos os vocábulos que deveria colocar neste branco papel, o vento assobiando nas ruas, o movimento das pessoas. Hoje, não trancarei meus pensamentos nas palavras, deixei-os livres por todos os lugares do mundo, no meu silêncio.


Te vi
Juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal
No sé si eras un angel o un rubí
O simplemente te vi.

Te vi
Saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de mandala se quebró
O simplemente te vi.

Todo lo que diga está de más,
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabés comprender
Es solo un rato no más
Tendría que llorar o salir a matar.
Te vi, te vi, te vi
Yo no buscaba nadie y te vi.

Te vi
Fumabas unos chinos en Madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi.

Me fui
Me voy de vez en cuando a algún lugar
Ya sé, no te hace gracia este país
Tenías un vestido y un amor
Y yo simplemente te vi.


1 de dezembro de 2009

Como nossos pais? Será?

Hoje tive uma das melhores aulas de História da Arte desses dois anos. Juntou a fome com a vontade de comer. Passei o dia pensando na vergonha publicada sobre a UNE, sobre o movimento estudantil se esvaindo entre tantas segundas intenções. Hoje meu mestre – querido, muito querido – enquanto falava sobre a revolução da pós-modernidade e sobre o mundo (pois, “a arte é reflexo do mundo”), mostrou um belo documentário sobre aquele maio de 1968, onde o movimento estudantil parou a França por melhorias. Penso.

Onde foram parar as idéias de progresso? De ajudar uns aos outros? As cabeças pensantes da sociedade não deveriam ferver dentro das universidades? Sede de conhecimento do que estamos – ou, por vezes, não estamos – aprendendo? E o que estamos engolindo goela abaixo por uma formação rápida que em versão fast-food nos coloque em um mercado de trabalho hipócrita e efervescente, onde também, seremos burros de carga? O movimento estudantil se tornou trampolim para diversas outras funções que não sejam de cunho nobre, nobre de alma, nobre de vontades, nobre de saber, realmente, os valores de se estar em uma universidade pública – e também privada -. Os deveres e os direitos acumulados pelos estudantes, hoje já se confundem com grande baixaria de ambições.

Quando antes – no tempo dos meus pais - os universitários eram a nata intelectual da sociedade, hoje pouco se vê aqueles que realmente importam-se com o que estão ouvindo em sala de aula.

Estamos na era do “tanto faz”. Tanto faz se a UNE – assim como deputados que tanto julgamos – rouba milhões do governo, tanto faz se não tenho professor em determinada matéria, tanto faz se eu não conhecer a bibliografia do meu curso, tanto faz se o cara que me representa coloca dinheiro na meia, tanto faz porque mal sei o que é diretório acadêmico de uma universidade, tanto faz porque o importante é se formar, tanto faz porque realmente, mudou o milênio, mudaram os anseios.

Eu, saudosista, ainda acredito que a juventude possa ser mais. Mais interessada, com reclamações mais plausíveis, menos lúdicas, mais concretas. Afinal, nós não temos as mesmas reivindicações de anos atrás, nossos pais conquistaram e nos deram de bandeja uma sociedade democrata, livre e aberta. E o que nós, deixaremos para os nossos filhos?

No momento em que uma pessoa não faz questão de obter ensino de qualidade, mal lembra em quem votou na eleição passada e simplesmente acha que está tudo bem, merece ser representada por alguém que esconde dinheiro sujo nas cuecas limpas.

Nós, ainda pequena parcela que chega ao terceiro grau, temos a informação e os livros na mão, tem faltado é a dose de vontade. E isso tem feito toda a diferença.


Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português

Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês