
Eu devia ter uns cinco anos quando minha mãe – que sempre foi de muitos admiradores e amigos – fez uma amiga russa. Lembro dela ser ruiva de doer e - na minha feliz ignorância- seu português era uma gracinha. Um dia minha mãe apareceu em casa com uma Matrioska que havia ganhado de presente dela. Lembro da minha mãe abrindo bonequinha por bonequinha, dispondo-as na mesa uma a uma, e eu com olhos de admiração, ouvia a lenta explicação sobre família e como aquilo era muito bonito. O que pode parecer um afável gesto de carinho da amiga, da minha mãe, do homenzinho russo que inventou as bonequinhas, para mim até hoje representa muito mais. Representa uma infância e vida com filosofias diferentes sobre aquele presente. Ainda não sei bem. Mas, acredito que toda mulher é um renascimento de suas gerações. Das bisavós, das avós, das mães. Remodela a saia, busca aquele sapato que fica um tantinho apertado, aquele echarpe que voltou a moda, aquele anel que ficou de herança. Nós somos quem elas eram antes, só que com outras chances e com conselhos que não vamos ouvir nunca. Nós somos elas customizadas, com lavagem anos 2000. E quando antes eu observava aquelas bonequinhas e dizia “Olha, essa pequeninha aqui sou eu, mãe!”, hoje penso que sou aquela que abriga as outras. Todas as grandes mulheres da minha vida estão no recheio da minha alma.