29 de janeiro de 2014

hoje

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Mariana me chamou e disse: - me diz coisas bonitas da vida? Respondi que preferia que ela o fizesse. Tô mais precisando ouvir que falar. Assumi o silêncio pela primeira vez na vida. Cheguei a conclusão que não quero mais dar satisfação pra ninguém, mesmo que as perguntas sejam por amor, cuidado, preocupação. Será a primeira vez que ninguém vai saber o que penso, sinto, atrapalho, temo, odeio, deslumbro e anseio. Meus dilemas sempre tiveram meio que uma platéia de grandes amigos. Todos eles meio atentos, meio dispersos. Pra todos escolhia uma versão que coubesse no tempo que estavam disponíveis, de acordo com o lugar onde estávamos, se estavam longe de mim, se estavam perto. Em cada versão eu já não sabia mais do que estava falando. Acabava embaralhando as opiniões alheias com as minhas vontades e fazendo um grande mix tipo suco verde de sentimentos. Ficava um gosto horrível e mesmo assim eu achava que aquilo fazia bem. Confiava nisso. Ou, que em algum momento adiantaria pra alguma coisa. Não adianta. Ninguém pode resolver os problemas de ninguém. 

Hoje fui correr às 7:30 da manhã, a rua parecia tão quietinha e vinha um solzinho que ainda não machucava. Pela primeira vez eu senti vontade de não gritar.  

28 de janeiro de 2014

vamos dar um tempo

Só por aquele dia eu casaria contigo. Esqueceria que com mais de cinco minutos juntos nós brigaríamos, que o jeito como tu levanta a sobrancelha me irrita, que não concordamos em quase nada que envolva trabalho, que tendemos a rejeitar os amigos que rodeiam o outro. Por aquele dia eu esqueceria das vezes em que construí as palavras que tu deveria dizer e tu não disse. Por aquele dia eu esqueceria todas as vezes em que saí furiosa pela rua. Esqueceria o dia em que tu me deu um pé. Esqueceria as cenas em que tu foi embora e eu pensei que nunca voltaria. Por aquele dia eu esqueceria que tu reaparecia na minha vida e eu me deixava levar. Por aquele dia eu suportaria o teu jeito cheio de marra, o teu ego lá no céu, o modo como tu acha que as pessoas não são boas o bastante. Boas pra mim. Boas pra ti. Como se nós fossemos grande coisa no meio disso tudo. E também suportaria que tu sempre escolhe as pessoas erradas pra admirar. Por aquele dia eu suportaria saber que tu teve passado e que tu tem futuro e que nada disso depende de mim. Por aquele dia eu não me importaria que tu pensasse que é meu dono e falasse comigo como se debochasse do amor que eu sinto só porque tem esse poder. "Tu não admite, mas tu me ama mais que qualquer coisa". Só por aquele dia eu deixaria de te dizer que tu não é, que eu sou do mundo, que qualquer um pode concorrer contigo e que muitos tentam. Não podem. Por aquele dia eles não podem. Por aquele dia eu confiaria a minha terapeuta a minha vontade de te trancafiar, a minha vontade de te abandonar, a minha vontade de te esquecer, a minha vontade de voltar. Por aquele dia eu aprenderia a expressar os meus sentimentos, a não temer, a me desligar. Por aquele dia eu te confessaria que fui até lá matar os fantasmas que me atormentavam durante todo o nosso relacionamento e que quando vi eles não existiam mais porque fantasma só existe pra quem sente medo. Por aquele dia eu levantaria a bandeira branca, te juraria mundos e fundos, te ofereceria uma vida, segurança, foda e filhos.  

Acontece que o tempo passa. Vai chegar o dia em que já não vamos saber quem que abandonou o barco, quem se perdeu no caminho, quem conheceu outras pessoas, quem trocou a janela de um pra responder a janela de um outro. Vamos virar pessoas de amigos em comum que sabem de notícias esparsas e fingem se importar. A sensação de peito quente que nós sentimos naquele dia vai virar só uma lembrança de um dia bom. E um dia vamos combinar de tomar um café só pra provar que estamos bem, que namoramos pessoas incríveis, que o trabalho é incrível, que estamos ficando ricos, que vamos casar com um fulaninho qualquer chamado Pablo. E o Pablo vai chegar em um sedan de aposentado comprado em 60 parcelas e tu vai dizer que a conta fica contigo. Eu vou ir embora. Tu vai seguir com a tua vida brilhante e cheia de sucesso. 

Porque é isso que o tempo faz quando a gente para de se importar. O tempo passa e leva a vida da gente sem a gente ver. E a gente acha que essa vida automática é boa até o dia de olhar realmente para o Pablo. E aí a gente olha pra ele e vê que de nenhum jeito, em nenhum lugar, nem por nenhum esforço, ele faria eu sentir as coisas que senti naquele dia. 

3 de janeiro de 2014

balanço geral

Um ano novo na praia com chuva. Pedi pra Iemanjá me dar uma luz. Iemanjá do Cassino cheia de cachaça me deu uma força. Porto Alegre aquele calorão. Fiquei confusa. Chorei por amor um Guaíba inteiro. Apareci em revistas. Carnaval no Rio. Se a canoa não virar, olêolêolá, eu chego lá! Eita, quero viver assim! Quase me afoguei bêbada no Leme e vi o Cristo do fundo do mar. Porto Alegre aquele calorão. Carnaval na Cidade Baixa. Chorei um pouquito más. O teu cabelo não nega mulata. Comecei a namorar e manter a casa arrumada. Fui promovida. Tô rica! Gastei tudo. Aprendi a fazer pratos novos com Alecrim. Alecrim para presidente! Fiz 23 cercada de gente fina no junho em que o gigante acordou. Senti vergonha alheia. Fiz uma tatuagem da Dilma no braço (mentira). Ganhei um toca discos. Fui promovida de novo. Tô rica! Salário em discos, comida e um curso de escrita. Gastei tudo. Tirei um siso, tive crise de gastrite, emagreci, engordei, emagreci. Conheci algumas pessoas incríveis fundadoras do Clube da Barganha dos Corações Intranquilos. Terminei meu namoro. Voltei. Terminei. Voltei. Aulas de dança. Salsa, sambinha, coisa e tal. Show do Amarante. Fui pro Rio. Show do Amarante de novo debaixo do sol. Piscina de mar na Barrinha da Lagoa em Florianópolis. Dei piti no avião de medo. Terminamos. Show do Devendra. "Minha filha não aguento mais vou embora de casa". Minha mãe comigo em Porto Alegre. Fiz uma tatuagem de mantra bicho grilo no braço (verdade). Vó morre aos 98. Todos juntos em Pelotas. Vejo a exumação do vô e percebo que meias duram mais que humanos. Tudo parece resolvido por lá. Começo a fazer terapia. Volto a namorar. Vamos morar em São Paulo. Opa talvez não. Taidje me ensina a segurar a cordinha da Good Vibe. Tento aprender. Natal, família, todos juntos, ainda estranho. Mãe desiste de tentar. Um punhado de discussões. Vinho branco gelado. Capotei. Feliz ano novo. 

Tava lendo a coluna do Gregorio Duvivier e quis escrever um resumo de 2013 também. Todas as coisas lindas que continuem lindas. De resto, Iemanjá do Cassino cheia de cachaça vê se me dá essa força. 


20 de dezembro de 2013

quanto a gente não tá contente

Quando a gente tá triste as fotos de todas as pessoas são sorrindo, cantando, vibrando, amando. A gente vê a felicidade do outro e vai se afundando num limbo em que acha que não vai ter nada disso em um futuro próximo. Principalmente tranquilidade. Acho que só queria que alguém viesse na minha direção e dissesse que vai resolver todos os meus dilemas existenciais. Ou, que vai me dar um dramin tão grande que vai me fazer dormir e acordar em 2020. Eu vou ter 30 anos e não vou ligar pra nada disso. Realmente espero que quando tenha 30 anos não ligue pra nada do que me atormeta hoje. Espero que quando eu tenha 30 anos minha terapeuta me libere. E espero que em todos os finais de ano eu me mude pra Aruba. Espero que em 2020 eu esteja lembrando desse post, rindo, bebendo em um copo com guarda-chuvinha. 

13 de dezembro de 2013

socialmente inativa

Minha única resolução para 2014 é nunca mais me obrigar a ir em eventos socialmente chatos. Aniversários, festinhas de conhecidos, comemorações de alguma coisa que não me interessa. De 90 até aqui eu sorria a cada convite e inventava logo uma desculpa, mas me envergonhava e acabava indo. Chegava lá, ficava ouvindo aquele monte de papo passado sobre viagens e grandes conquistas e pessoas que querem largar tudo pra viver uma vida sem rotina. E eu ali pensando porque raios valeria a pena estar perdendo Tapas e Beijos. No ano que se inicia não vou exitar em responder pergunta ué guria mas por que que tu não vai guria? - PORQUE EU PREFIRO FICAR EM CASA VENDO TV, GURIA. 

11 de dezembro de 2013

Precisei entrar em um curso de dança pra me dar conta de que não sabia dançar. Precisei entrar em um curso de escrita pra me dar conta de que não sabia me expressar. Por isso nos próximos capítulos eu estarei dançando e escrevendo sobre tudo que acontece. Então, em algum momento da prática vou conseguir bailar e dizer realmente o que sinto. 

8 de dezembro de 2013

pra você eu digo: não sei

Aprendi com as mocinhas de filmes que as grandes decisões deveriam ser feitas gritadas na rua com muita certeza e brilho nos olhos. Cresci crendo que o homem que eu amasse se aproximaria, me faria uma pergunta, eu o abraçaria e nós comemoraríamos o meu sim. Talvez eu tenha me dado conta com 23 anos que não sou uma mocinha. Além disso, pode ser que eu tenha descoberto que basicamente não tenho certeza de nada. O que é levemente desesperador.

Nos meus sonhos eu seria aquela mulher pronta pra ir para onde fosse, firme, faca na bota, sem medo de nada, que tem o anseio de viajar o planeta inteiro,que é cidadã do mundo. Eu tenho pânico de avião, de mudanças, de distância, de saudade e principalmente de ficar sozinha. Eu seria a última pessoa no mundo que ficaria realmente feliz em, por exemplo, ir sozinha fazer um intercâmbio ou algo do tipo. E eu realmente me envergonho e falo pouco sobre isso.

Saber que a minha vida vai mudar em poucos dias me fez virar um zumbi que mal fala e chora com pouco. Chorei comendo sushi. Chorei ouvindo Alcione. Chorei na praia. Chorei no quarto. Por todo e qualquer motivo. E não é algo como depressão ou coisa séria. Tenho total consciência da alegria de todas as coisas. É por medo de avião, de mudança, de distância, de saudade e de ficar sozinha e de saber que isso tudo se aproxima.

Porque as pessoas não tem medo do mundo. E as pessoas vão embora porque enxergam nos outros lugares oportunidades pra crescer e tal e coisa e tudo mais. Eu me pergunto até que ponto vale a pena. Mas, elas acham que vale. E eu de cabeça baixa sigo me envergonhando de não ter essa coragem. Me culpo, tento pensar diferente, mas me imagino tendo que pintar as paredes do meu apartamento de branco e sair do Bom Fim e entregar ele pra alguém que não vai valorizar a paisagem da janela. Eu sabia que pelo andar da carruagem ele seria pequeno pra gente e sabia que chegaria a hora que a gente teria que ir pra outro lugar, já tinha pensado nisso e tinha certeza que a parede dos quadros seria cinza. Eu só não imaginei que a opção de dividir a vida contigo seria em uma das cidades mais populosas do mundo.

Se eu fosse a mocinha esperada teria te respondido que SIM na primeira vez que tu perguntou. E não foram poucas as vezes que tu perguntou e pergunta. Mas, eu fico em silêncio pra ver se o tempo volta e tu desiste dessa ideia pra gente seguir com a nossa vidinha pacata. Trabalho, gastar todo o nosso salário no El Tonel, deitar de barriga pra cima de tanto comer carne e prometer que vamos parar de comer tanto. E assim repetidamente. No meu silêncio eu tento me deslocar pra um lugar onde eu não preciso me sentir completamente descontrolada por não ter certezas. Onde a minha vida segue igual sem nenhuma mudancinha. Sem nenhum livro encaixotado.

Alguns amigos me disseram que se eu realmente quisesse não sentiria medo de nada. Eu particularmente não acho que a vida se resume tão facilmente. Nesse tempo eu aprendi a ser cuidada por ti e aprendi muito mais sobre ceder, sobre parceria e sobre amizade. Vi que eu poderia ser a mulher que respira fundo e não se importa que tu chegue bagunçando a casa mesmo que eu tenha acabado de arrumar porque dane-se uma casa arrumada. Vi que eu gostava daquela mulher que eu me tornava. Vi que a vida é real porque tu é real e que a vida que eu sempre projetei de felicidade plena não existe. Vi que eu posso ser uma chata inconstante que se chateia por nada e que se tiver dapavirada não se alegra por nada que tu oferecer. E tu te esforça muita. E tu foi incansável. In-can-sá-vel. Mesmo com todas as minhas cicatrizes. Mesmo com todos os meus problemas não solucionados. Mesmo com tudo tu foi meu amigo e segurou todas as barras que eu dividi contigo.

Talvez pareça falta de amizade eu não conseguir nem responder. Mas, não é. É por saudade já antecipada da tranquilidade de tudo. É medo de não ter certeza de nada. 

28 de novembro de 2013

Era verdade que as pessoas somem, que entram e saem da nossa vida como um vidro que entra no pé, um corte que fecha e nunca mais se fala nem no vidro nem na dor. Era verdade que as pessoas mentem, que elas têm defeitos, têm falhas, cicatrizes. Era verdade que as pessoas brigam, se deixam, não importa o tempo, nem a história, nem ninguém. Era verdade quando disseram que as pessoas vão morar longe, que mudam de vida, que começam do zero, não importa quem fique. Era verdade que as pessoas morrem, que viram um pózinho, que as vezes as roupas duram mais que os próprios corpos, não importa quem sofra. Era verdade quando disseram que eu deveria me preparar pra esses dias. Mas, talvez amanhã caminhando na rua alguma coisa aconteça e então vou sorrir e vou esquecer que isso tudo era verdade. E quando acontecer vou me surpreender de novo porque é isso que a gente faz. A gente costura o coração em cada noite de sono e todo dia pela manhã ele acorda pronto pra rasgar de novo e de novo e de novo. A gente não dorme. A gente fica se preparando pro dia seguinte. 

25 de novembro de 2013

40 anos em 2

Viver é tão maluco, mas tão maluco, que quando acontece qualquer coisa que boba que pode chatear algo imensamente grande acontece pra testar as forças. Todo o meu corpo dói de tudo. De pensar, de ver saídas, de procurar uma solução pro meu passado viver presente no meu futuro. Parece que a qualquer momento vou derreter tipo filme americano de ficção científica. De dentro de mim vai sair uma outra eu, de pele bem novinha, com a alma lavada, sem nenhuma cicatriz desses últimos tempos. 

A sensação que tenho é a mesma de ressaca que não deixa lembrar, só que ao contrário. Ao invés de tentar ver o que fiz eu tento pensar em como vai ser o futuro e tudo parece embassado. Hei de ter esperança no porvir pelo histórico de ver saída através de amor. Minha mãe ensinou isso pra gente. Ou foi meu pai. Já não tem como separar.

Um dia quando acordei fiquei um tempo conversando sobre meu medo do tempo passar depressa demais e meus filhos não poderem viver tudo de legal que vivi. Poucas pessoas no mundo entenderiam o pânico que se instaurou em mim. O dono da dor sabe o quanto dói, né Zeca? Só quem amou pode entender, a realidade é dura, mas é aí que se cura, né Zeca? 

Vai dar tudo certo. Pela primeira vez na vida não vou chorar uma lágrima. Vou resolver. E, depois que tudo estiver bem vou olhar pra todos nós com a sensação de que, sim, o amor pode curar qualquer coisa. Viver é uma maluquice. 

Daqui a pouco vamos estar fazendo um churrasco e discutindo a vida do Genuíno. Vai ter mate demanhã, vai ter abraço largo e coração tranquilo. Eu prometo. 

1 de outubro de 2013

sobre o grêmio

- Tu acha que é muito adulta, muito dona de si, mas não é, Lanna. Tu não é adulta. Tu acha que tá preparada pra morar junto, pra ter filho, mas não tá, Lanna. Na primeira briga tu ia bater a porta e ir embora? Ia me por pra fora? Tu tem problemas como todas as outras pessoas do mundo, mas fica chorando três dias dentro de casa achando que essa é a melhor forma de resolver as coisas. Não é. Todo mundo tem problemas, todo mundo sente dor. E ninguém esconde a cabeça no travesseiro pra curar essas coisas, nem no meu peito, nem foge e se esconde. E eu não quero que tu te esconda, eu não quero te ver chorando, eu quero te ver sorrindo. Fugir é covarde, Lanna. E não me vem com essa de que é porque tu sente mais que as outras pessoas. Essa coisa de "mais amor", "mais amor isso", "mais amor aquilo", é bonito, mas tu não é só amor. Fica aí achando que é a única pessoa sofrendo com tudo isso, mas não é. Todo mundo sofre. E as pessoas não são só coisas boas, Lanna. As pessoas fazem coisas muito ruins. As pessoas abandonam umas as outras assim como tu fez várias vezes. E não adianta só ficar falando de amor pra lá, amor pra cá. Amor é eu saber que tu tem um cílio mais pra baixo que os outros, amor é eu ir no supermercado e comprar só dois iogurtes pra gente tomar no café da manhã pra no outro dia ter que ir no supermercado de novo contigo porque eu quero ir no supermercado contigo todos os dias, amor é eu tentar te acalmar cada vez que a gente briga e tu sai caminhando, amor é eu te amar mesmo que tu me coloque pra dormir no sofá, amor é eu querer fazer todas as tuas vontades mesmo que seja impossível porque tu passa os dias inteiros pedindo coisas. Tu pede muito, Lanna. O dia inteiro. E é difícil, é muito difícil fazer todas as tuas vontades. E eu me esforço. E eu não fujo. E eu não quero mais que tu faça isso porque eu não vou aguentar. 

- Tu quer um tempinho pra ver os gols da rodada?

- Sim, é rapidinho. O Grêmio ganhou hoje. 

23 de setembro de 2013

maionese desandada

- Neneca?
- Eu.
- Desandou a maionese.
- Não acredito. Tu também? 
- Não, a maionese. Eu tô fazendo uma maionese e desandou, a mãe tá aí? Ela sabe fazer ficar boa de novo. 
- Ah, maionese. Não, mas liga pra casa.  

- Mãe?
- Sim. 
- Desandou a maionese. 
- Então vem pra casa. 
- Não, mãe. A maionese, eu tô fazendo uma maionese e desandou. Como que faz pra ela ficar boa de novo? 
- Ah, cozinha um ovo, bate no liquidificador... 

19 de setembro de 2013

conta comigo

Pode contar comigo me parece infinitamente maior que eu te amo. Papo de mal amado. Mas, nem é. Pode contar comigo, na bebedeira, na falta de dinheiro, no pneu furado, numa ligação 3 da manhã, numa conversa as 7, se precisar desabafar, se precisar só desabar, ou construir, ou gargalhar, ou ver um filme ruim, ou engordar, ou emagrecer, conta comigo. Mesmo, pode contar. A teoria é falha, mas é sincera, é autobiográfica. Não pude contar com pessoas que diziam me amar, nunca deixei de contar com pessoas que disseram conta comigo. Contar com outro envolve doação e amor pode ser egoísta. 

11 de setembro de 2013

sonho

Descobri que sonho muito. 
sonho |ô| 
(latim somnium, -ii
s. m.
1. Conjunto de ideias e de imagens que se apresentam ao espírito durante o sono.

Sonhos são pedaços da gente espalhados por aí que querem voltar pra casa?  

26 de junho de 2013

hay que endurecerse

Tô aprendendo a viver sem romance melado. Só com a vida real mesmo. Uma adaptação. Quase a mesma adaptação que largar o cigarro. Por sinal, a saudade que bate vez ou outra é a mesma. Tanto cigarro quanto romance melado (piora quando alguém conta uma história bonita ou quando alguém fala em "PITO"). De ter músicas em comum, "GRANDE CANÇÃO", dividir um Che Guevara, emails infinitos, chororô, essas coisas. Acabou chorare. Mas, só as vezes. Nas outras eu acho que vou morrer. Crise de abstinência e identidade. Dá e passa. Passa. Passou. Ou ao menos eu vou me convencendo. Beleza. Tá tudo bem, tudo zen, meu bem. Sem o bem, pra não ficar melado. E sem demora pra não irritar. Um dia explode ou vira estilo de vida. Será que eu quero ser essa pessoa?  

14 de maio de 2013

parem com essas coisas

Meu irmão se foi pros EUA. Levou com ele meu sobrinho e os gritinhos "tia, tia, tia" correndo atrás de mim. Diz que voltam em dezembro e eu finjo que vai passar rápido. Minha amiga Erika todo dia adia a volta de Portugual, diz ela que descobriu por lá a África e as melhores festas do mundo. Diz que volta em junho e eu finjo que acredito. Meu amor se foi ao Peru descobrir alguma coisa de Inca que havia dentro dele. Diz que volta logo e eu finjo que nem vai doer. Pra saudade o mundo nunca é pequeno. Não me venham com essa. 

30 de abril de 2013

saudosistas do futuro


Eu não sei se me acostumei mal com os amigos que cultivei durante toda uma vida. Eu não sei se me acostumei mal com as pessoas de quem eu gostei. Eu não sei se foi porque minha mãe me ensinou que a gente simplesmente não podia se importar com a opinião alheia porque todo mundo, no final, ia pra casa, esquecia dos nossos problemas e a gente ficava lá, preocupado à toa. Mas, em pleno 2013, por duas vezes no mesmo dia, o assunto foi o mesmo. Fofoca. E eu fiquei sem entender nada. 

A palavra fofoca por si só já me parece velha. E feia. E cafona. Fofoca. Quem ainda tem disposição pra sair por aí falando essa palavra? Mas, tudo bem. Estava eu, no meio da roda de conversa, ouvindo o assunto fofoca. Quem pegou quem, quem andou com quem, quem dormiu com quem, quem isso, quem aquilo. No meio da notícia, caras esperando que mulheres fossem santas ao noticiar que algumas delas tinham andado com outros quaisquer. "Ele dormiu com mulheres que, cara, tu nunca imaginaria". E eu querendo entender o que leva alguém a já pré-moldar as vontades de alguém. Então, para ser alguém mais "respeitável" ela deveria fazer tudo o que você, meu caro amigo, imaginou que ela faria?. Essa é a lógica? Isso faz sentido?

Olha, em algum lugar alguém deve saber o quão baixo astral é tudo isso, alguém há de convir de que isso tudo envolve muita pequenez de alma, de ser gente grande, cabeça aberta, corpo e mente mais elevados. Isso tudo me parece coisa de gente que não vê o outro como gente também, como igual, ser vivo cheio de vontades. Acho que nunca parei pra pensar nas coisas que fiz, nos porres que tomei, nos micos que paguei, nos encontros bizarros que me meti. Daí, a fofoca me cegou e me peguei refletindo isso. Se eu nunca pensei, por que um outro pensaria? Se minhas amigas não cultivaram ressaca moral, por que alguém cultivaria por elas? Se elas não ligaram (em todos os sentidos da palavra) no dia seguinte, por que seria assunto pra alguém? Tudo me parece um pouco virado. O que foi, foi, passou, zerou.

As melhores pessoas que eu conheço não ficam encucadas com esse tipo de coisa. Meus amigos sempre estiveram mais preocupados em fazer arte, música, exposições, festas, passeatas, militância e o escambal, em comprar bons discos e ir a bons shows. Chico não deve ter contabilizado com quantas foi pra cama, Vinicius certamente não lembrava de tudo que fez por aí e Leila Diniz ficaria deveras envergonhada de ver uma mulher sofrendo por ter feito algo só porque alguém comentou alguma coisa. Tipo de gente que não grilaria a cuca porque não tem tempo pra gastar cuidando da vida dos outros. Só gente cuca grilada fica nessa de comentar quem estava com quem na noite passada. Só gente cuca quente se preocupa com quem a fulaninha já andou, ou com quem fulaninho já saiu há um tempo atrás. 

Gente feliz não começa nenhum boato. Só gente triste dá início a alguma fofoca. Só gente malamada se importa com o que a fulaninha andou fazendo com o fulaninho. Inhos. Pequenininhos. Tudo diminuido. Tudo virado numa coisa inha. Uma tristeza só, tempo de vida perdido que podia ser revertido em orgasmo ou bondade ao próximo. Pode ser um jeito muito Caê de ver a vida. Pode. Mas, com certeza é mais leve, menos amargurado, menos julgado, menos condenado. E é perto desse tipo de gente que eu quero estar. Gente que não julga, que não contabiliza, que não se preocupa, que por vezes até nem lembra. Gente que só sente. E ri, ri pra vida. 

Por um "Tribalismo" no pilar da construção. Pessoas que "não entram em doutrina, em fofoca ou discussão". Sempre. 

16 de abril de 2013

é verdade

Tudo que eu disse foi usado contra mim.

4 de março de 2013

o maravilhoso dia em que eu acordei de ressaca e resolvi ser fiel ao gostar dele


Ele chama a minha banda preferida de "bandinha", debocha do tropicalismo, não gosta de carnaval. Ele reclama que eu grito, que eu dramatizo, que eu faço "treta". Ele consegue beber e não passar do ponto, não comer porcarias durante a semana, manter o mesmo tom de voz em qualquer situação. E no meio da minha bagunça eu vi que gostava dele assim. Assim bem diferente de mim. No meio do povo eu quis ele que me faz uma pessoa mais calma, menos gritona, menos pilequenta. No meio do bloco eu quis ele porque ele me faz ser melhor e mais feliz, mesmo insegura, reclamona, birrenta (e muito ciumenta). No meio da rua eu quis ele porque ele tem uma aura de gente do bem, porque ele me cuida, porque ele traz remédios, porque ele pergunta se eu os tomei, porque ele briga comigo se eu me alimento mal, porque ele se importa mesmo que eu diga que não se importa. No meio do meu sofrimento eu quis ele porque ele faz brincadeiras e eu fico gargalhando no carro como se fosse cena de filme, só que é só a nossa vida sendo a nossa vida. No meio do chão da minha casa eu chorei porque eu cansei dessa gente toda e de fingir desprendimento dele e de tentar explicar aos amigos que isso tudo é assim mesmo. Eu me prendi no abraço dele e precisei me ver sozinha pra sentir vontade de voltar pra lá. Eu não sei se ele se prendeu no meu, mas acho que ele não se importa que eu não gosto muito da "bandinha" dele. Eu gosto dele. Muito. Eu gosto muito dele. 

5 de fevereiro de 2013

é melhor


Seria fácil se fosse preto no branco. Quem ama não trai. Quem ama fica junto. Quem ama dá jeito. Quem ama faz acontecer. Quem ama não tem dúvidas. Quem ama vira uma espécie de Deus cheio de forças. Quem ama não vacila. Quem ama vira mocinho de filme americano. Quem ama isso, quem ama aquilo. Durante muito tempo eu também achei que fosse assim... Pá pum. Que amar seria o passe livre das complicações, da falta de segurança, dos dilemas, das desculpas esfarrapadas, do "deixa pra depois", "agora não é hora". Eu achava que amar seria a carteirinha necessária pra se ter certeza. Era a prova da Ordem daqueles que respondem SIM/NÃO sem esitar. - Eu te amo, mas... - Ahhhhhh então não ama, amor não tem "mas". Mais ou menos assim. Só que daí eu cresci e mudei de idéia. E aí eu vi que o preto no branco na verdade é tecnicolor. Que quem ama uma pessoa pode conseguir ficar com outra. Que quem ama as vezes não fica junto, sim. Que quem ama as vezes não consegue dar jeito, não consegue fazer acontecer, pode ter dúvidas e pode não ter de onde arranjar forças em determinados momentos. - Eu te amo, mas eu quero dar o fora. - Eu te amo, mas eu quero ser feliz. Eu cresci e percebi que essa idéia tão monocromática, pragmática e regrada, não podia ser amor. Não o meu amor. Que não combinava com a minha vida caos colorido que sempre transformei em cais. Nem com a Leila Diniz. Nem com Secos e Molhados. "Simples e suave coisa, suave coisa nenhuma". Nem com as paredes da minha casa. Nem com a regra de "só fazer o que dá vontade" que minha mãe me ensinou. Nem com a peça de cortar os pulsos em que eu via meu sofrimento no Ricardo e chorava porque o nome disso é "identificação". Nem com aprender a guardar o amor. Nem com Futuros Amantes. "O amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio". Nem comigo. Seria fácil se fosse outro retrato em branco e preto. Mas, não é. É melhor. 


29 de janeiro de 2013

planinho

- Alô? Oi amiga, sou eu. Eu sei que tá meio tarde... Mas, tô ligando pra pedir uma coisa. Pode recusar, viu? É... Então... Faz um planinho comigo? Só um. Ou dois, se não for pedir demais. Pode ser bem pequenininho e pro mês que vem. Pra semana que vem, se preferir, pra não se estender. Um planinho bobo, sem nada demais. Pode ser uma cerveja de pé em copo de plástico, um café bicolor que vem com bolachinha no pires, qualquer coisa (ou se quiser ser megalomaníaca podemos voltar a pensar naquele velho plano de alugar uma casa enorme com pátio pra poder ter todas as plantas do mundo e um cachorro chamado Baden por causa do Baden Powell). Só peço um planinho pro futuro. Vai aí um bom tempo que saí do futuro de alguém e viver só no presente (ou no ontem) tá me dando um certo saudosismo de planos. Abstinência de planos. Taí um ponto problemático da vida de solteiro que ninguém comenta. Não fazer parte do futuro de ninguém. Não ter aquela pontinha de figuração na cena do futuro de alguém (mesmo um joinha em alguma grande conquista). Não ter nenhum planinho pra dividir. Será isso porque no colégio nós fazíamos muitos planos? Acho que fui uma criança que fantasiou demais, acho que foi culpa do Pequeno Príncipe, acho que aquele livro não pode ser solto na mão de uma criança sem supervisão. Mas, sempre foi tão saudável imaginar um monte de coisas só pra dividir planos. Melhor que dividir dinheiro, casa, cama, perrengue. Os planos são a parte mais legal dessa brincadeira toda. Faz? Faz um planinho comigo? 

- Vamos planejar que tu vai parar com essa mania de ligar pras pessoas de madrugada. 

28 de janeiro de 2013

sem título

Trabalhar com criação as vezes dói. Criar qualquer coisa, móveis, roupas, casas, aeronaves, canecas, obras de arte, talheres. Mas, uma coisa que precisa ser criada do zero. No papel em branco. Como na faculdade quando o professor dizia: desenhem isso aqui. Mas, assim? Sem nem um vinhozinho antes? Criar sem inspiração é mais ou menos como abraçar alguém sem vontade. A gente até abraça. Mas, quando o abraço termina parece que arrancaram um pedaço da gente. É meio como ser infiel as próprias vontades. E eu não sou do tipo que reclama da profissão, de rotina, dos dias. (Aliás, eu gosto muito. E aliás 2, esse papo road trip de que jovens precisam fazer mochilões pela europa e conquistar o mundo e ir atrás de seus sonhos e conhecer gente de todos os cantos e etc é opressor demais pra mim. É muita pressão de felicidade colocada em outro lugar pra quem tem pouco dinheiro no banco (tipo eu assim) e que adora o aqui porque durante muito tempo sentiu saudades.) Depois da notícia da tragédia de ontem acabei dormindo e tendo um monte de pesadelos. Tive pesadelos com todos os meus medos. Enquanto eu vinha caminhando pro trabalho percebi que vários desses medos eu nem sabia. Passei o dia lembrando disso. Depois, numa roda de amigos um papo sobre "quando vamos largar isso tudo" e eu em silêncio pensando que "isso tudo" era a vida da gente, como deve ser complicado o dia da Juliana, a moça do caixa do supermercado que é minha amiga e que escuta os meus problemas, principalmente quando o preço do queijo sobe. Passei o dia tendo que criar coisas no papel em branco. Um branco que era meio papel meio eu. Deu branco total. Tô desde cedo me sentindo pequenininha. Meio boba. Meio em branco. Criei. Foi. Nasceu. Mas, doeu. Em dia de luto nacional deveria ser proibido criar alguma coisa. Errado. Em dia de luto nacional deveria ser proibido reclamar de qualquer coisa. 

22 de janeiro de 2013

bat macumba êê bat macumba oba

Um dia eu vou escrever uma dissertação sobre o INCENSO DO AMOR. O tal. O bárbaro. O maravilhoso incenso do amor que já ganhou fama internacional entre todos os nossos amigos. 

O histórico de 2012 foi bem complicado, principalmente as bad vibes do amor programadas que eu entrava. Duravam cerca de uma semana. O pico era na terça, na quarta eu me animava, na sexta eu já tava bem e a vida continuava e aí eu ficava feliz de novo e aí algo rolava e eu voltava a estaca zero e aí eu entrava na bad vibe do amor de novo num ciclo vicioso até perto da chegada do fim do ano (e aqui é válido um adendo, data em que acendi o primeiro Incenso).

A Duda (minha vizinha, amiga, confidente e mãe substituta) já sabia como era a logística. Numa quarta ela apareceu com uma sacola de presentes pra me animar. Eu tenho um fraco por presentes (principalmente os que custam menos de 5 reais). Da sacola saíram vários agradinhos que fizeram meu coração sorrir. Um desses agradinhos era o INCENSO DO AMOR. 

Veja só. Eu não sou praticante de nenhuma religião. Não por falta de fé, mas porque é muito difícil escolher uma só e envolve uma complexidade esquenta cuca que eu particularmente acho uma perda de tempo de vida. Eu acredito em tudo que me dizem. Principalmente em religiões que envolvem gente de branco. E tem também que eu nasci no dia de Santo Antônio e eu acho que, se ele tanto TESTOU A MINHA FÉ NO MUNDO nos últimos tempos é porque no futuro vai me retribuir com um COMPANHEIRO que seja o paraíso em forma de homem. Vai chegar a hora da bonança. Então, acreditar é comigo mesmo. (E, antes que alguma feminista salte dizendo que estamos colocando nossa felicidade nas mãos de algum homem, vos digo: muito curtimos a dança da solidão e até fizemos uma coreografia pra isso estilo Macarena.) 

Bom, contou a Duda que o achado do Incenso do Amor foi numa loja de artigos de Umbanda. E, como o que importa é crer, a casa logo virou uma defumação geral. No meio da fumaça a gente comentava: e será que funciona? COF COF, eu espero que sim. 

Olha, a única certeza que posso dar é que: a casa ficou cheirosa e GOOD VIBES DO AMOR tomaram o ambiente (o que não é difícil, pois é um ambiente bem enxuto). O resto não posso provar que seja 100% responsabilidade do tal, mas... A Duda tá vivendo o grande amor da vida dela e as amigas pra quem demos o Incenso (com letra maiúscula em respeito) estão vivendo romances (que se emails tivessem classificação indicativa viriam com uma tarja dizendo NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS). 

Será o fim de uma era? Será que o fim de era tem cheirinho bom? 

É isso. 2013 tá aí cheio de bossa e novidades. O que importa é acreditar. Está claro que, após aceso, a culpa de todos os males do mundo deixam de ser minhas e passam a ser do Incenso. E querido, eu confio em você. Faça de mim o seu brinquedo. 


9 de janeiro de 2013

também não é assim

Acho que eu tô fazendo merda. É. Pode ser que eu esteja fazendo merda. Nunca tinha passado por isso na minha vida. Vontade extrema de não dar a menor satisfação pra ninguém. Porque eu sempre dei satisfação, mesmo que ninguém me pedisse. Tudo o que eu fazia envolvia comentários de 2 ou 3 amigas. E, eu filosofando sobre, é por isso, por isso, mas veja por esse ponto, se pensar melhor tem tudo pra dar certo, se não der certo depois a gente vê, fica tranquila. Não por fraqueza, dúvida, nem pra pedir opinião, mas por uma sensação louca de que se eu falasse haveria uma rede pra me segurar caso eu caísse. Um aviso: olha eu tô indo pra forca, se der errado liga pros meus pais e diz que eu amava eles. Caso desse merda, caso não desse, só pra poder comemorar junto depois. Ouvi tanta coisa sobre essa história toda, tanta teoria furada, tanta pseudo dica, tanta proteção, que a rede pra me segurar caso eu caísse acabou me prendendo e me sufocando. E é amor, eu sei. Só por amor. Toda teoria, dica, proteção, cerveja, dose de tequila pra esquecer, todo blush que passaram na minha cara. Só que no meio dessa rede também tem muita cobrança. Cobrança de ser feliz, vida loca, livre, mulher, dona de si, nariz empinado, sorriso estampado, cuca fresca. E isso tá dando trabalho porque as vezes só quero ficar na minha. E, porque as vezes as coisas são bem mais complexas do que parecem, as pessoas bem mais profundas e as histórias bem mais cabeludas que nossos resumos. Porque eu não sei o que fazer e eu não tenho que fazer nada. Mas, eu tô com o coração apertado, cuca esquentada, querendo resolver uma situação que não depende de mim. O tempo é a resolução e ele decide, eu não posso me meter, e se eu pudesse talvez não me meteria. Ninguém acelera o tempo porque tá feliz, nariz empinado, vida loqueando, bêbada, na rua, maquiada (e as manhãs são tão piores). Deixa o tempo dar jeito nisso. Essa semana foi conturbada demais pra conseguir dar satisfação, pra conseguir aprofundar qualquer assunto, pra conseguir dizer o que eu acho disso tudo, e acho que eu não acho nada, eu não tô sabendo de nada e eu não quero nada. Quero não querer nada por um tempo. Só pra poder ficar em silêncio. Sem dar satisfação de nada. Correndo todo o risco de estar fazendo merda e arcando com isso. 

7 de janeiro de 2013

descoberta


- O mundo entrou numa egotrip louca, né?
- O mundo anda bem estranho. 
- As pessoas tem olhado os outros meio de cima, né? Tenho me sentido meio em avaliação.
- Mais que no colégio, né? E olha que eu sofri no colégio. É isso, estamos vivendo um grande colégio tardio. 
- É, tá tudo bem estranho. Se for parar pra pensar, 5 anos atrás era tudo bem simplinho, todo mundo era simplinho e a gente aguentava beber bem mais. 
- 2007, grande ano, talvez o ano em que o Gil aprendeu nosso nome e atendia melhor nossa mesa. 
- A gente não tinha ressaca também. Saía sexta E sábado. Sair sexta e sábado é uma virtude pra quem tem boa saúde. 
- Eu por exemplo, tinha um profile no orkut com apenas 12 fotos e era feliz. 
- Saudades do orkut com apenas 12 fotos. 
- Mas, aí começou a desvirtuação, o pessoal começou a usar depoimento como bate-papo, eles aumentaram o número de fotos...
- Foi aí que começou essa egotrip louca.
- Foi quando aumentaram o número de fotos do orkut.
- Foi. Que incrível. Que descoberta. Freud estaria orgulhoso. 
- E a gente?
- A gente segue procurando se ligar em gente que não se liga nessas coisas. 
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- Saudades do Gil, cara. 
- Grande Gil.  


com http://renatargarcia.blogspot.com.br/

8 de dezembro de 2012

modernidades


5 horas da manhã. Eu tava esperando um táxi e um cara que eu não conhecia se aproximou perguntando se eu tava triste. "Olha, na verdade eu não sei te responder". Ele disse que tava. Ele se apaixonou por uma mulher e ontem, na festa, descobriu que ela era prostituta. Pra piorar, ela também não quis ficar com ele. Ele chorou na minha frente, na rua, esperando um taxi. E eu, logicamente, chorei com ele, porque eu sou do tipo que chora. "Vai dar tudo bem certo, amores serão sempre amáveis" (e todos os meus mantras e todos os mantras que pudessem confortar).

Encontrei meus amigos de novo, desisti do táxi, disse pra todo mundo que o amor é a coisa mais linda do mundo porque a gente chora a dor de um estranho na calçada de uma festa. Eu não sei se o fato de ter ouvido os problemas do cara ajudaram em alguma coisa e mudaram o rumo da vida dele (vida: esse enorme pote de sorvete cheio de feijão), mas eu passei a ter mais fé no mundo. O Odair José teria ajudado mais. Talvez. Em pleno 2012 encontrei uma pessoa que encontrou um estranho e contou uma dor de amor pra ele. Em época de amor líquido, época de fingir que não se conhece, época de falar pouco (porque falar muito espanta, responder na hora dá bandeira, ser legal configura relacionamento e veja o livro das regras no anexo, att) um estranho me contou uma dor de amor.

Não sei onde me encaixo nessa nova onda de relacionamentos interpessoais aflitos. Não sei se eu sei e nem se eu consigo ser moderninha líquida, mesmo sabendo que o Tio Bauman esperaria isso de mim. E, não por precisar de qualquer tipo de envolvimento mais duradouro/estável ("na modernidade a duração era princípio de ação") porque nunca tive essa “bolação” de tempo e segurança (quando fui um casal nunca comemoramos datas porque não sabíamos nenhuma delas e nunca ligamos muito se fazia um ano ou dezoito que estávamos juntos). Acho que decepciono Tio Bauman porque gosto de poder falar e tenho total propensão a gostar de jogar conversa fora por aí, conhecer quem não conheço e principalmente por não ter nenhuma espécie de escudo protetor que me faça querer afastar as pessoas. Nisso, uma grande queda por homens que não gostam de mulheres que se fazem de difícil (eu nunca entendi qual é a moral de se esforçar pra mostrar indiferença a alguém que se dá bola).

8 horas da noite de um dia cheio de ressaca sendo curada em Satolep. Amor espalhado pela casa, nos petiscos da mãe, no churrasco que o pai começou a preparar, nos gritos dos irmãos, na voz do sobrinho falando “tia, tia, tia”, muitas histórias sendo contadas. Minha mãe perguntou se eu tava feliz. Agora sim, muito. 

5 de dezembro de 2012

deslumbre


Quando já tava nessa cidade há uns seis meses pensei que quando completasse um ano da minha chegada aqui escreveria uma carta endereçada a mim contando como foi. E uma aos amigos que fiz aqui, agradecendo e convidando pra mais alguns desses de histórias pra contar. Aos dez anos aqui ou em qualquer outra cidade que me acolhesse eu leria a carta e lembraria como foi aquele primeiro ano em Porto Alegre. Turbulento. Incansável. De muitas noites sem dormir. Ainda não é dia o dia escolhido pra escrever a carta, mas é final de ano e, se a publicidade agir em mim como deveria, é época de emoções à flor da pele. Por sinal, a frase à flor da pele me lembra que quando era criança ganhei uma “agenda da tribo” em que dezembro vinha com a música do Zeca Baleiro. “Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”. Feliz, ando à flor da pele feliz. Dezembro é meio beijo de novela. Meio propaganda do Zaffari. Onze meses de Porto Alegre.

Eu sempre soube que iria morar aqui. Nunca soube como seria. Perdi muito ao vir e ganhei muito chegando. Uma balança que nunca despencou muito pra um lado ou pra outro. Deixei uma vida de dois, virei um, aprendi em alguns momentos a ser dois de novo, desaprendi. (No livro que eu ando lendo “O que é o Amor” a autora diz que os amantes são sempre ignorantes). Aprendi aqui, sentada vez ou outra no Cantante, a costurar o meu coração só pra poder rasgar de novo. Porque viver é andar por aí rasgando o coração. Ninguém deixa de fazê-lo porque aprendeu a ser mais forte ou mais sábio. E, também não quero, nunca, esse tipo de sabedoria. Aprendi, tomando um “Carioquinha”, a administrar a balança (infelizmente não a do meu peso). Felicidade, dinheiro, gastrite, amor. E, por aí vai.

Dei jeito no que tinha que dar. Troquei lâmpadas. Gritei de câimbra na panturrilha (herança genética que me atordoa e que me traz sentimento de casa) sem meu pai por perto pra trazer Gelol na madrugada. Fui, na maioria do tempo, radiante. Emocionada. Deslumbrada. E o Aurélio diria “que se entusiasma facilmente por algo”. O melhor sentido da palavra deslumbrada. Uma ótima palavra que perdeu o valor nas bocas por aí. Uma ótima definição pra esse tempo aqui.

É terça. E adoro terças. Me vi de frente. Sem fantasia. Me olhando no espelho e pensando: eu passei por isso. Eu consegui me virar. Onze meses conseguindo me virar. Sem deixar nenhum aluguelzinho sem pagar, passando uma semana com apenas alguns trocados na carteira, descobrindo novos lugares que são meus, comprando uma pilha de livros que não tenho tempo pra ler, cultivando amigos e fazendo jantares pra comemorar que eles existem e que sempre se arranja tempo pra eles.
Eu que sempre fui meio descrente de mim consegui onze meses. Sem contar. Acordando e perguntando: hoje é dezembro? Hoje é. Que tempão que passou. E, como passou rápido. E, ainda tem um mês pro dia da derradeira comemoração que certamente vai passar voando e vamos todos gargalhar lembrando daqui a muito tempo. “Vamos celebrar nossa própria maneira de ser”. Desorganizada, quase sempre meio de chegada, quase sempre meio feliz até triste, deslumbrada.

Feliz onze meses, Porto Alegre. 

3 de dezembro de 2012

sei



Não sei se foi a passagem de Mercúrio, não sei se é a chegada do fim do ano, não sei se é felicidade de Natal (porque decidi gostar de Natal, eu e ele acertamos os pontos e resolvemos nos amar), mas eu tô uma mulherzinha. Ontem me peguei no telefone falando um "que amor" mais longo que de costume. Tenho ligado mais para as amigas. Tenho feito mais comentários sobre voltar pra academia. Tenho cogitado comprar uma máquina de costura. Tô querendo pintar a casa, tô pensando em quadros novos pra ela, tô pensando em desenhar em um canto da parede. Chorei vendo um vídeo de casamento que me mandaram. Chorei vendo um vídeo de criança. Só de mulherzice. Uma mulherzice aguda e feliz de fim de ano. Do tipo que fortemente se impressiona com um jantar a luz de velas no restaurante mais bonitinho dessa cidade, com abrir a porta do carro, com locadora e com Smiths. Mulherzices boas que geraram comentários. "Tá felizinha, é?". "Tô, Mercúrio se foi, né?". "Aham, sei". 

23 de novembro de 2012

pequenos términos de mundo


Por volta das 21h30min desta quinta-feira (22), um acidente no quilômetro 3,3 da BR-293, em Pelotas, deixou dois mortos e sete feridos. A colisão frontal entre um Gol vermelho e um caminhão Volkswagen ocorreu próximo ao supermercado Atacadão.

No carro do meu pai só um pneu furado e uma placa amassada. Das poucas músicas que eu sei tocar no violão uma diz: "a vida é mesmo coisa muito frágil". E é mesmo. A vida é muito frágil e tão dizendo por aí que o mundo tá pra acabar. Eu não sei se tá mesmo. Mas, sei que o meu mundo sacolejou, o chão ruiu, o céu ficou cinza, o telefone parou de fazer barulho. "O pai nasceu de novo". Meu pai já nasceu nessa vida umas 4 vezes. Tudo fez menos sentido hoje. Estar nessa cidade. A dor que eu senti no peito ontem. Estar longe. Pra que serve tudo isso? Tudo deixou de fazer sentido hoje. O que eu tô fazendo aqui mesmo? Por que eu nunca aprendi outras músicas no violão? Eu não sei. Só sei que a vida é frágil. Que é um sopro. Que meus 22 anos não são nada. Que se o mundo for terminar mesmo que termine logo e sem aviso. Mas, que não me assuste mais desse jeito. Por favor. 

12 de novembro de 2012

sinto muito

O mais irônico não é isso. O mais irônico é que vou passar a madrugada de segunda executando a escala de atividades minhas que já deveria ter feito. O meu samba acho que é Juízo Final, mas é difícil escolher um. Se tu estivesse por aqui te pediria pra me tirar da enroscada em que me meti. Mas, não. Não está. E, eu também não pediria. Perguntaria do Dirceu, te diria que é necessário assistir ao filme da Tropicália e esqueceria metade das coisas que pensei que gostaria de dividir. Queria mesmo era te contar dos meus problemas e sinto a tua falta. Muito. Sinto muito a tua falta. Sinto muito.