Eu não sei se me acostumei mal com os amigos que cultivei durante toda uma vida. Eu não sei se me acostumei mal com as pessoas de quem eu gostei. Eu não sei se foi porque minha mãe me ensinou que a gente simplesmente não podia se importar com a opinião alheia porque todo mundo, no final, ia pra casa, esquecia dos nossos problemas e a gente ficava lá, preocupado à toa. Mas, em pleno 2013, por duas vezes no mesmo dia, o assunto foi o mesmo. Fofoca. E eu fiquei sem entender nada.
A palavra fofoca por si só já me parece velha. E feia. E cafona. Fofoca. Quem ainda tem disposição pra sair por aí falando essa palavra? Mas, tudo bem. Estava eu, no meio da roda de conversa, ouvindo o assunto fofoca. Quem pegou quem, quem andou com quem, quem dormiu com quem, quem isso, quem aquilo. No meio da notícia, caras esperando que mulheres fossem santas ao noticiar que algumas delas tinham andado com outros quaisquer. "Ele dormiu com mulheres que, cara, tu nunca imaginaria". E eu querendo entender o que leva alguém a já pré-moldar as vontades de alguém. Então, para ser alguém mais "respeitável" ela deveria fazer tudo o que você, meu caro amigo, imaginou que ela faria?. Essa é a lógica? Isso faz sentido?
Olha, em algum lugar alguém deve saber o quão baixo astral é tudo isso, alguém há de convir de que isso tudo envolve muita pequenez de alma, de ser gente grande, cabeça aberta, corpo e mente mais elevados. Isso tudo me parece coisa de gente que não vê o outro como gente também, como igual, ser vivo cheio de vontades. Acho que nunca parei pra pensar nas coisas que fiz, nos porres que tomei, nos micos que paguei, nos encontros bizarros que me meti. Daí, a fofoca me cegou e me peguei refletindo isso. Se eu nunca pensei, por que um outro pensaria? Se minhas amigas não cultivaram ressaca moral, por que alguém cultivaria por elas? Se elas não ligaram (em todos os sentidos da palavra) no dia seguinte, por que seria assunto pra alguém? Tudo me parece um pouco virado. O que foi, foi, passou, zerou.
As melhores pessoas que eu conheço não ficam encucadas com esse tipo de coisa. Meus amigos sempre estiveram mais preocupados em fazer arte, música, exposições, festas, passeatas, militância e o escambal, em comprar bons discos e ir a bons shows. Chico não deve ter contabilizado com quantas foi pra cama, Vinicius certamente não lembrava de tudo que fez por aí e Leila Diniz ficaria deveras envergonhada de ver uma mulher sofrendo por ter feito algo só porque alguém comentou alguma coisa. Tipo de gente que não grilaria a cuca porque não tem tempo pra gastar cuidando da vida dos outros. Só gente cuca grilada fica nessa de comentar quem estava com quem na noite passada. Só gente cuca quente se preocupa com quem a fulaninha já andou, ou com quem fulaninho já saiu há um tempo atrás.
Gente feliz não começa nenhum boato. Só gente triste dá início a alguma fofoca. Só gente malamada se importa com o que a fulaninha andou fazendo com o fulaninho. Inhos. Pequenininhos. Tudo diminuido. Tudo virado numa coisa inha. Uma tristeza só, tempo de vida perdido que podia ser revertido em orgasmo ou bondade ao próximo. Pode ser um jeito muito Caê de ver a vida. Pode. Mas, com certeza é mais leve, menos amargurado, menos julgado, menos condenado. E é perto desse tipo de gente que eu quero estar. Gente que não julga, que não contabiliza, que não se preocupa, que por vezes até nem lembra. Gente que só sente. E ri, ri pra vida.
Por um "Tribalismo" no pilar da construção. Pessoas que "não entram em doutrina, em fofoca ou discussão". Sempre.