16 de julho de 2006

PALHAÇO, POR QUÊ?

A mentira é pífia, menor. É capacidade de distorcer uma verdade para fins nem sempre escusos. É natural do humano. O ator não mente como profissão. Ele cria uma verdade que só se faz real por quem assiste. Cria de um pseudo-nada, da capacidade do público de ter coisas para serem criadas. O Palhaço só puxa as tábuas do teu alicerce, o que despenca foi colocado por você. Se há muito em cima, o tombo é maior...
Ser palhaço é ficar no limiar do riso e do choro. O público, que em geral ignora as questões metafísicas de um palhaço, ri. Ri de sádico. De ver o palhaço na ridícula situação de um palhaço. Coitado do público, mal sabe que o palhaço é ele mesmo. Ele às avessas, ele com coragem. O Palhaço faz rir com seus próprios defeitos para que você não sofra com os teus...
Bobo


Sempre tive medo deles, algum motivo obscuro escondido detrás tanto riso e maquiagem. Seria crime não falar sobre a peça de ontem, mesmo que faltem adjetivos (loucos, acredite, loucos), procurar palavras rebuscadas e complexas (pois, assim fiquei) para tentar entender o cotidiano de um palhaço, o outro lado da história.
PALHAÇO, POR QUÊ? é o nome. E não poderia ser diferente.
Risos e lágrimas, como a face de um, nos transmitem um “nãoseioquê” de emoção diferente, algo sem explicação.
Fiquei chateada por encontrar o teatro “vazio”, não poder ver a platéia toda de pé batendo palmas para artistas que nos tocam tão fundo, não se importando se aparecem em rede globo ou não. Queria ver a platéia de pé batendo palmas para o que tocou Los Hermanos, mesmo que eu e a Lara tenhamos tido reação como mil crianças, valendo por todos eles.
E daqui a pouco estamos lá de novo, último dia em Pelotas, vale a pena.
Palhaços... Quem diria, me fizerem estremecer, e dessa vez, não de medo.

15 de julho de 2006

XEROX, R$0,10

Temo que o “diferente” tenha entrado no circulo vicioso da moda de personalidades. Em seus desfiles de excentricidades, onde, ao tentar o destaque acabamos nos tornando cada vez mais parecidos.
Porém, as coisas mais simples seriam as mais difíceis, como o jeito de prender o cabelo e o modo como a blusa cai no ombro. Ao “xerocar”, perdemos as melhores partes, como o brilho da figura e suas cores, ao usar algo falsificado perdemos o entusiasmo de possuir algo só seu, original.
Ao deparar-me com fotos minhas no orkut de uma menina, pensei mais sobre o assunto, tentando encontrar explicações para tal. Falta de segurança, talvez, o tentar apoiar-se à imagem de alguém, com medo de olhar para si, tentar obter a arte final de uma obra inacabada. Usar os conceitos, formas e jeitos de outros, seria uma mentira deslavada, forma de base para insegurança infantil e/ou falta de conhecimento próprio.
Vide a bula, procurando assim características de total destaque, ou fiquemos, mais uma vez, todos iguais.
Analistas e psicólogos que se preparem, esta geração vem repleta de depressões, músicas sobre éguas e falta de inteligência.

10 de julho de 2006

O BERÇO FEITO DE MÁGICA

Faz tempo que não apareço por aqui. Tenho estado indiferente com palavras e/ou minha personalidade.
Dizem que é coisa da idade, acredito ser coisa de todas as idades. Momento de transação, transformação. Quem sou eu? Onde estou? Para que sirvo? Onde fica o botão do volume?

Mistura de italianos com espanhóis, filha de apaixonados por tango, sobrinha de homens do samba, irmã de atriz de teatro e cientista, neta de um sábio do truco. Nascida em berço de mágica, crescida com ensinamentos de bossa nova, a menina, entre violões e cigarros, entre poesia e Carlos Gardel, estava confusa.
Torcedora do São Paulo Futebol Clube, influenciada pelo pai. Estuda história e literatura, abandona os números e vai deixando tudo “para lá” de mansinho, com o intuito de que fosse organizar as idéias no outro dia, no outro e no outro...
Inconstante, chata, dengosa e sonolenta, como se isso a resumisse.
Apaixonada por livros e boas histórias, ouve músicas e sente saudades, sente saudades e ouve música. Apaixonada por tudo que lhe chama a atenção, pequenas coisas, não esquecendo de citar o olhar perdido e as caretas que faz para animar os amigos.
E tem amigos. Como se não bastasse um, uma porção deles, muitos verdadeiros, alguns nem tanto, mas com certeza estariam prontos para quando precisasse.
Tem um cachorro, sim, quem não tem? Preto, como a cor da camionete que sonha em ter, enorme, para andar sem rumo por aí, por ali, por lá, por acolá. Por onde quiser, por onde ela mesma se levar.
Tem nome de fada, já diziam por aí, há história na família de que foi o pai que escolheu, mas a mãe não confirma a versão.
Não acorda de manhã e já vira confusão.
- Dormi tarde ontem...
Como se a desculpa fosse outra, diz a cada dia de forma diferente, faz tudo a cada dia de forma diferente, degusta o novo, trata com carinho o velho (velhas paredes, velhos retratos, velhas canções e sonhos).
Sonhos. Ela os tem aos montes, sonha em ir embora, sonha em morar em Cuba, ah, e fazer faculdade de medicina em terras de Fidel Castro, porém também pensa em conhecer a cidade da avó no cantinho da Itália. Talvez amanhã eles mudem e então ela sonhará cada vez mais alto, como uma criança que almeja o alvo mais difícil e sem querer acaba quebrando o vaso mais bonito.
Sou Lanna, filha do homem mais inflexível e culto que conheço, “menina mulher da pele preta” como chama a irmã, Neneca como chama o pai, Lili como fala calmamente a mãe e Mana como grita o irmão.
Estou no lustre do castelo, esperando o momento certo para ligar o motor de uma enorme camionete preta e ir embora, de malas prontas e muita vontade. Saudade também, muito bem guardada. Dos tempos que não vivi, tempos em que nem tinha nascido, saudades dos abraços no meu Vô Nona que não pude dar, saudades dos passos de tango que Vô Ico não pode me ensinar.
Sirvo para trazer a máxima alegria e ajuda no que posso, trago também muita compreensão e um copo de coca-cola sem gás e com muitas pedras de gelo e/ou um trident de canela. Sirvo para ver filmes brasileiros, com preferência a desenhos do Charlie Brown, tomar uma cerveja ou talvez ficar conversando debaixo a um lençol de estrelas, por horas a fio.
Botão do volume? Ah o tal do gritar... isso aí já é coisa dos Collares, nascemos sem essa peça.