12 de dezembro de 2011

das preferências

Eu gosto de prédio antigo, banheiro anos 70, velhinhos na rua. Eu gosto de gente humilde, gosto do centro da cidade, de lugares que ainda deixam as pessoas fumarem. Gosto de casa com cara de que pode bagunçar, de gente que pode bagunçar com a gente, de sofá com rasgadinho escondido pela almofada. Gosto de cor, de amizade com o vizinho, de roupa que cai lá embaixo e tem que buscar, da moça da lavanderia japonesa que não para de falar. Prefiro café batido com nescafé, ficar na lapa do que na zona sul, sidra do que champanhe caro, o Liberdade do que qualquer outro “point”, escrever bem em português do que mal em outras três línguas. Não é romance. Não é merchandising de filme brasileiro. Não é saudosismo. Não é riponguice. É escolher as coisas simples porque são mais legais. É preferir as pessoas simples porque elas são, na maioria das vezes, muito mais legais do que as coisas, os “points” e todo o resto. E, se tudo isso está fora de moda (e casa bonita tem cara de escritório), eu estou pra lá de “out”, meu bem.

9 de novembro de 2011

pérolas do youtube

Aos amigos,









À toa, a boa

Andando pelo centro me dei conta de que ainda não tinha prestigiado a Feira do Livro. Senti vergonha por não contribuir em prol da cultura da cidade, tomei vergonha na cara e fui dar uma olhada. Quase na hora de ir embora senti vergonha novamente por querer economizar os poucos trocados que trazia na carteira e, para me sentir uma cidadã melhor, comprei logo um L&PM Pocket que não faria tão mal ao orçamento. Engraçado, porque nunca fui de me enganar que estava na Europa brasileira e forçar a barra lendo no meio da praça, mas hoje resolvi “inovar”. Peguei meu L&PMPocket (livro de gente com pressa) e sentei perto do tio que tira fotos naqueles cavalinhos, em frente a um senhor vendendo picolé e ao lado de uma senhora gordinha simpática. Engraçado porque nessas situações as pessoas começam a parecer mais sociáveis ou a gente que se tornou mais sociável só em parar um pouquinho no meio da Feira. Lembrei da primeira vez que andei de avião, do medo que eu sentia e do cara que sentou do meu lado naquele ônibus que anda pelo aeroporto. Acho que ele sacou minha angústia e foi logo fazendo perguntas sobre a minha vida, se eu era arquiteta por carregar um “tubo” e o que eu fazia em Porto Alegre. Também acho que ele ficou decepcionado porque eu não era arquiteta e só levava um banner no maldito “tubo”, acho que o fato de eu ser de Pelotas me transformou em uma pessoa muito mais distante daqueles outros que voltavam para sua “POA” do coração. Engraçado, eu que falo muito falei pouco com ele. Mas daí ele começou a assobiar “A Rosa”, porque acho que também ficava nervoso, e eu pensei: “e o meu projeto de vida?”. Voei tranquila cantarolando baixinho: “bandida, cadê minha estrela guia...”. As pessoas são muito mais legais do que a gente acredita que sejam. A Feira, a praça, o tio que tira foto nos cavalinhos há uns 20 anos, o picolezeiro, até meu livro de gente apressada, são muito mais legais se a gente se propõe a enxergar isso. Hoje eu me propus, ouvindo o cara assobiar Chico eu me propus, tenho é que fazer isso mais vezes.

1 de novembro de 2011

a culpa é do Fidel

Quando eu fiquei sabendo estava no carro. Senti vontade de parar e entender o que estava acontecendo como se a notícia fosse com o meu avô ou algo assim. Pensei: mas será possível, isso parece gripe!
A primeira vez que eu vi piadinhas na internet pensei que eram só mais alguns dos tantos babacas que a gente vê por aí. Eu deixei de escrever porque tendo lido muito e se tem uma coisa que eu aprendi é que as pessoas precisam de alguma bandeira para levantar. “Saiu de moda falar do idiota do Rafinha Bastos, então vamos falar o que não sabemos sobre o Lula”. Prometi a mim mesma que eu não me meteria nessa. Faz um tempo que eu estou contida e não discuto sobre política. Só que dessa vez, ou eu sairia no braço com alguém ou só perderia tempo (o que esse ano está sendo muito valioso).
Acontece que eu dei a sorte (ou o azar, vai saber) de cair em uma família politizada. Com pais que sempre foram de esquerda, que fugiam do DOPS e que trabalharam pra que o nosso país fosse o que é hoje.
Acontece que é mais do que isso. Acontece que a minha mãe também teve câncer e se tratou pelo SUS, esse mesmo das piadinhas (posso dizer de boca cheia que isso não foi um dos momentos mais engraçados da minha vida). Acontece que o meu pai é safenado e também se tratou pelo SUS. Acontece que eu não consegui ficar quieta ao ler pela enésima vez alguém fazendo piada sobre essa situação. Meus pais, aqueles que lutaram pelo “poder” da esquerda no Brasil, foram contemplados pelo “país de todos”.
E mesmo que eu esteja ocupada e só sinta vontade de mandar todo mundo calar a boca (assim mesmo, bem estúpida), me dei ao luxo de parar tudo e escrever aqui a minha vergonha alheia. Vergonha de quem fala sem saber sobre o que está falando, vergonha de quem “compartilha” sem saber porque está compartilhando, vergonha de quem macaqueia e “segue” alguém sem sentido, vergonha de quem não reconhece onde chegamos (e o homem que nos encaminhou a este desenvolvimento) e vergonha de quem finca os pés na ignorância e nos impede de ir para frente.

(Agora eu vou voltar a estudar porque preciso que esse meu computador comprado em doze vezes com uma bolsa do MEC seja usado em prol de algo melhor do que lições de moral.)

28 de outubro de 2011

pra dar o fora com o meu broto

Só sei que quando acabar essa maratona eu vou curtir com o meu broto. Dando tudo certo ou dando tudo errado eu vou curtir com o meu broto um bocado de dias. Vou colocar todos os livros de volta na estante, o Omeprazol de volta a caixa de remédios e vou dar o fora com o meu broto. Porque eu “nunca fui muito de ganhar” e a probabilidade de me dar mal é muito grande. Também porque, se tudo der certo, preciso acumular muita coragem e pra isso nada melhor que uma viagem. Eu vou viajar com o meu broto. Tirar fotos com ele. Conhecer um punhado de lugares diferentes ao lado do meu broto. Vou comer um monte de coisas exóticas e torrar todas as minhas economias em chinelos havaianas e água de côco. E então eu vou voltar. Caso tudo dê certo, caso tudo dê errado, eu terei que voltar. E aí, depois eu vejo, acerca da vida, das economias e do acúmulo de chinelos. Só sei que agora eu preciso dar o fora com o meu broto e mais nada.

21 de agosto de 2011

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Não existe tristeza pior do que lembrar da felicidade.

quer ser meu amigo?

Tem dias que sinto vontade de arrancar meu coração fora. Vê-lo e segurá-lo forte. Abraçá-lo até ele se acalmar e ficar mansinho. Depois, convencê-lo de que não há motivo para a tormenta, para a agonia, para sentir-se só. Eu o colocaria para ouvir jazz e nós dois fingiríamos que gostamos. Tem dias que eu queria ser amiga do meu coração, mas ele simplesmente me ignora.

5 de julho de 2011

pelo meio de tudo



Eu nunca disse que seria tranquilo ficar distante de quem a gente ama. Nunca disse que seria simples fazer planos furados. Nunca passou pela minha cabeça que o último ano de faculdade seria moleza. Nunca desdenhei os trabalhos de final de semestre, os livros, os prazos. Nunca faltei com os compromissos e nunca disse que queria desistir de tudo. Acho que nunca quis que fosse fácil e nunca comentei que estava sendo muito difícil. Como em uma bola de neve já nem sei onde tô em meio a tudo isso. Em meio a tanta distância, prazo, livro, neve. Tô pelo meio. De tudo isso.

7 de junho de 2011

Babacas, mexam comigo


Se hoje eu tivesse o poder de colocar uma nova palavra no dicionário seria EMPUTECIMENTO, do verbo ficar puto. Não porque nos dias de hoje ninguém dá bola pra palavra, pra responsabilidade, pro outro que tá do lado. Nem porque ninguém tá nem aí se esse outro tá passando trabalho. Não porque gentileza já não faz mais sentido. Nem porque tem gente babaca que não tá nem aí pra nada disso.

O emputecimento não existe por esses motivos porque ao mesmo tempo que isso acontece, tem alguém muito legal bolando um novo projeto, um novo show, uma nova poesia, uma nova revista de design – puxando pro nosso lado. Essas pessoas fazem valer a pena conviver com os babacas e isso acontece desde que o mundo é mundo.

O emputecimento acontece quando um babaca desses, que não doa nada pra sociedade, que não pensa em nenhuma novidade, que não faz nada de inovador, que não tem ninguém pra elogiar, que ninguém pode dizer: “QUE INCRÍVEL ISSO QUE ELE FAZ!”, ou melhor, “COMO ESSA PESSOA SE DESTACA!”, incomoda um amigo nosso. Porque, além disso, são medrosos e falam as frases pela metade. E, deixar no ar é bem coisa de babaca.

Eu nunca gostei de escrever reclamações. Já tem tantas no mundo. Na fila do banco, na padaria, na bar. Queria só fazer e escrever coisas bonitas. Mas, tem dias cinzas como esse que a decepção é tamanha, que eu não poderia escrever nada além do que sobre a palavra EMPUTECIMENTO.

19 de abril de 2011

quase fim, quase começo

Se formar não é ruim. Se o emprego demorar a gente pede empréstimo pra mãe, vai levando. Se o mestrado não vingar a gente espera mais um pouco, vai ver a banca acostuma com a nossa cara e resolve dar uma chance. Se não tiverem planos mirabolantes para abrir uma empresa de sucesso, a gente toma cerveja pra esperar o insight.
Acontece que alguém precisa dizer isso pra gente em voz alta, com uma carta, placa, outdoor, post it. Que o amor dos pais, dos amigos, do namorado, não vai acabar se a gente resolver ir pra outro lugar. Que desempregado pode ser interessante. Que o TCC não é a última vez que a gente vai abrir o Word. Que a gente vai poder ver os (ex)colegas sempre que sentir saudade, vai poder continuar tomando mate junto e vai poder continuar reclamando das mesmas coisas.
Alguém deveria esperar a gente na frente da faculdade e dizer: “Vocês sempre vão poder voltar”. Dizer que a gente deixou um pouquinho de si ali, que fez alguma diferença a nossa presença e dedicação esse tempo todo.
Eu não quero ter medo de me formar, mesmo que já tenha, mesmo que o medo seja misturado à vontade de colocar logo a cara no mundo. É um medo bom. Um medo de quem não se imagina fazendo outra coisa além do que faz. É um medo que nos faz aproveitar melhor esse último ano de decisões inacabáveis. Inacabáveis até o momento que a gente decidir fazer outra coisa.
Seria muito bom ouvir isso de alguém, mesmo que seja de mim mesma. Mesmo que eu seja quem cole o post-it no espelho, mesmo que eu seja quem diga que essa (ainda) não é a hora de borrar a maquiagem e que ainda tem muita coisa pela frente.
Tem quem diga que se fim fosse bom, era começo. Anotei no papelzinho que a gente deve ficar alegre, porque felizmente, tem os dois.


18 de abril de 2011

amor à vista


Acho engraçado lembrar que depois de ver ele não pensei em outra coisa senão numa maneira de tê-lo pra mim. A palavra “conquista” tem um quê de malandragem, mas acho que eu precisara disso porque de alguma forma sabia que ele me faria feliz. Uma conquista de amor à primeira vista é conquista branca, tem credibilidade poética.
Aqui tem Toquinho, tem início de frio e tem coração quentinho. Me peguei pensando nisso, no dia que ele chegou de camiseta de marinheiro e mudou tudo por aqui.

3 de abril de 2011

enquanto dorme, felicidade plena e cerveja quente

A sensação de que nada pode melhorar não quer dizer muita coisa. A gente se acostuma, se adapta, se cansa e acha que tá tudo muito bom. Um copo de cerveja gelada em um dia de calor talvez não possa melhorar muito. A questão é que: Piorar, tudo pode. Mas, assim, ficar tudo bem, é uma dádiva.
Não quero agradecer ao cosmos pela vida bem levada, pelo amor bem vivido, pelo estudo bem fundado. Não quero dizer: Ah, se melhorar estraga. Eu quero agradecer pela segurança de tudo poder dar errado. Azar é do errado. Isso é felicidade plena, não o cansaço de poder melhorar todas as situações.
Felicidade plena é quando todo o resto compensa, quando o sono é leve para acordar quando o outro se mexe, quando o cartão coloca no crédito e tem praia mais tarde. Felicidade plena é ter paciência para esperar a cerveja gelar, e claro, ter a sabedoria de que beba-la quente é ter história pra contar. Uma história como a nossa pra escrever de ressaca.

Rio de Janeiro, 2011

6 de fevereiro de 2011

sala de espera

Faz mais de mês que sofro de saudade. Sofrer desse mal dói muito porque distância já traz ânsia no nome e não é por acaso. Ele mora longe de mim, tem outro sotaque, outros costumes, come “tapioca” e eu nunca provei. Talvez sejam mais motivos para eu me encantar com ele a cada dia que passa. O mesmo encantamento do dia em que ele sorriu para mim e mal sabia que podia me levar para onde quisesse. Agora a ânsia é de vontade. Sofrer desse mal incomoda muito porque “nem o prego agüenta o peso do relógio” e as horas se tornam dias. Acho que aprendi que esperar tem um quê de bonito. Ainda falta. Mas, falta pouco. E então, o único motivo para sofrer será de calor.