10 de julho de 2006

O BERÇO FEITO DE MÁGICA

Faz tempo que não apareço por aqui. Tenho estado indiferente com palavras e/ou minha personalidade.
Dizem que é coisa da idade, acredito ser coisa de todas as idades. Momento de transação, transformação. Quem sou eu? Onde estou? Para que sirvo? Onde fica o botão do volume?

Mistura de italianos com espanhóis, filha de apaixonados por tango, sobrinha de homens do samba, irmã de atriz de teatro e cientista, neta de um sábio do truco. Nascida em berço de mágica, crescida com ensinamentos de bossa nova, a menina, entre violões e cigarros, entre poesia e Carlos Gardel, estava confusa.
Torcedora do São Paulo Futebol Clube, influenciada pelo pai. Estuda história e literatura, abandona os números e vai deixando tudo “para lá” de mansinho, com o intuito de que fosse organizar as idéias no outro dia, no outro e no outro...
Inconstante, chata, dengosa e sonolenta, como se isso a resumisse.
Apaixonada por livros e boas histórias, ouve músicas e sente saudades, sente saudades e ouve música. Apaixonada por tudo que lhe chama a atenção, pequenas coisas, não esquecendo de citar o olhar perdido e as caretas que faz para animar os amigos.
E tem amigos. Como se não bastasse um, uma porção deles, muitos verdadeiros, alguns nem tanto, mas com certeza estariam prontos para quando precisasse.
Tem um cachorro, sim, quem não tem? Preto, como a cor da camionete que sonha em ter, enorme, para andar sem rumo por aí, por ali, por lá, por acolá. Por onde quiser, por onde ela mesma se levar.
Tem nome de fada, já diziam por aí, há história na família de que foi o pai que escolheu, mas a mãe não confirma a versão.
Não acorda de manhã e já vira confusão.
- Dormi tarde ontem...
Como se a desculpa fosse outra, diz a cada dia de forma diferente, faz tudo a cada dia de forma diferente, degusta o novo, trata com carinho o velho (velhas paredes, velhos retratos, velhas canções e sonhos).
Sonhos. Ela os tem aos montes, sonha em ir embora, sonha em morar em Cuba, ah, e fazer faculdade de medicina em terras de Fidel Castro, porém também pensa em conhecer a cidade da avó no cantinho da Itália. Talvez amanhã eles mudem e então ela sonhará cada vez mais alto, como uma criança que almeja o alvo mais difícil e sem querer acaba quebrando o vaso mais bonito.
Sou Lanna, filha do homem mais inflexível e culto que conheço, “menina mulher da pele preta” como chama a irmã, Neneca como chama o pai, Lili como fala calmamente a mãe e Mana como grita o irmão.
Estou no lustre do castelo, esperando o momento certo para ligar o motor de uma enorme camionete preta e ir embora, de malas prontas e muita vontade. Saudade também, muito bem guardada. Dos tempos que não vivi, tempos em que nem tinha nascido, saudades dos abraços no meu Vô Nona que não pude dar, saudades dos passos de tango que Vô Ico não pode me ensinar.
Sirvo para trazer a máxima alegria e ajuda no que posso, trago também muita compreensão e um copo de coca-cola sem gás e com muitas pedras de gelo e/ou um trident de canela. Sirvo para ver filmes brasileiros, com preferência a desenhos do Charlie Brown, tomar uma cerveja ou talvez ficar conversando debaixo a um lençol de estrelas, por horas a fio.
Botão do volume? Ah o tal do gritar... isso aí já é coisa dos Collares, nascemos sem essa peça.