31 de dezembro de 2009

mas, já?

Até que ponto perdeu-se o sentimento entre tanta hi-tech? A sociedade deixou de brincar no escuro para gostar na velocidade da luz. Amores 2.0, perfis selecionados, mal se dá chance a pobre casualidade. Meu desejo para 2010? Que a felicidade comece a vir em banda larga.

30 de dezembro de 2009

casal qualquer/qualquer casal

- Então?

- O quê?

- Fala alguma coisa.

- Não gosto de falar.

- Vive falando pelas tabelas.

- Minha cabeça é que anda pelas tabelas.

- Eu odeio silêncio.

- Eu odeio o teu barulho.

- Sempre disseste que amavas a minha voz.

- Sempre amei a tua voz. Odeio é o barulho da tua loucura.

- Agora eu sou o louco?

- A insanidade vai muito além da tua camiseta bem passada.

- O problema é o jeito que me visto?

- Também odeio a tua burrice.

- Mania ridícula de falar em códigos.

- Mania estúpida de ser preguiçoso.

.

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- Quanto tempo tu precisa?

- Uma vida.

- Começou.

- É.

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- Tu és insuportável.

- Queria não saber que tu estas mentindo.

- Querias então que realmente achasse isso?

- Assim tu irias de vez.

- Eu vou ir. Tu vais caminhar até a sacada para ver se eu ainda vou estar lá. Quando bater a porta do carro vais começar a sentir calafrios por mais uma vez ter desistido. E vou saber mais uma vez que tu não sabes te cuidar sozinha.

- Que sorriso de mérito.

- Sorriso de burrice.

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- Promete que fica essa noite?

- Eu vou ficar pro resto da vida.

- Nem precisa tanto. Pode ser só até eu aprender a me cuidar.

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- Eu te amo insuportável.

- Eu te amo em silêncio.

28 de dezembro de 2009

entre amigas

- Os lábios se não fossem mudos, estariam pedindo algo.
- O quê?
- Ainda não sei bem o quê. Mas estariam pedindo.
- Falar em voz alta as vezes é pecado.
- E pecado mesmo é acordar sem ressaca.

Soledad

O Drexler

A chuva

O café

São um triângulo amoroso.

Eu, entre eles

Evito brigas

Aproveito-me da situação.

18 de dezembro de 2009

Heidegger

Será que a linguagem do cotidiano não é sintética como uma moeda? Eu te pergunto “Tudo bem?” sem querer saber como estas. Me respondes “Tudo e contigo?” como quem dá o troco. E vamos embora, sem dever nada um ao outro.

15 de dezembro de 2009

meu melhor

Hoje ouvi algo muito bom. Em um programa Maria Rita – salve! – disse que era uma mulher com M maiúsculo e que isso trazia todas as qualidades e defeitos de se ser mulher. Nunca ouvi melhor descrição sobre o que realmente é se sentir mulher, sem feminismo, sem machismo, sem extremos, simples assim. Sou, sim, um emaranhado de qualidades e defeitos, com M maiúsculo, por mais tolo que pareça.
Quando disser “NÃO!”, talvez espere um tantinho mais de atenção para dizer “SIM!”. Quando estiver cansada talvez chore, quando estiver alegre talvez fale demais, haverá brigas em que não direi uma palavra e hão de permanecer os momentos em que o silêncio será apenas charme.
Eu sou aquilo que é ser mulher. Olharei de longe como quem não viu, olharei de perto como se não houvesse mais ninguém, saberei quando há um cheiro diferente na camisa e desconfiarei quando a roupa for só para chamar a minha atenção.
Sou mulher com M maiúsculo, às vezes de esmalte descascado, às vezes sem maquiagem e sem máscara alguma. Por vezes darei mais valor, por vezes menos, irei embora como quem nada perde, voltarei implorando um abraço amigo.
Sou mulher com M maiúsculo, não posso por nenhum segundo me permitir a oferecer metade do que poderia ser. Sede de ser mulher, aquela que procura a todo instante alguém que seja tudo.
Sou infinitamente mulher, e por ser assim, vou esperar o entendimento de toda recaída, toda TPM, todo dengo, toda manha e toda vontade, seja a hora que for. E se eu disser que tudo isso é simples, acredito que seja obrigação de todo homen perceber. Afinal, sou uma mulher com M maiúsculo, e mesmo que eu me engane, vou estar sempre esperando o "melhor".

6 de dezembro de 2009

Y cuando me pierdo en la ciudad

Hoje senti que deveria escrever algo. Escrever para extravasar, para colocar no papel todo aquele turbilhão que há aqui dentro, para me sentir acompanhada quando alguém me lesse, para contar memórias, para doar ao mundo essa minha confusão. O papel ficou em branco um bom tempo. Coloquei para tocar uma velha canção que meu pai ouvia muito. Cocei a nuca. Pensei. Pisquei os olhos lentamente. E em voz alta:

- Eu não quero escrever.

Hoje quero ficar em silêncio. Hoje devo ficar em silêncio. E as luzes da cidade falarão todos os vocábulos que deveria colocar neste branco papel, o vento assobiando nas ruas, o movimento das pessoas. Hoje, não trancarei meus pensamentos nas palavras, deixei-os livres por todos os lugares do mundo, no meu silêncio.


Te vi
Juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal
No sé si eras un angel o un rubí
O simplemente te vi.

Te vi
Saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de mandala se quebró
O simplemente te vi.

Todo lo que diga está de más,
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabés comprender
Es solo un rato no más
Tendría que llorar o salir a matar.
Te vi, te vi, te vi
Yo no buscaba nadie y te vi.

Te vi
Fumabas unos chinos en Madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi.

Me fui
Me voy de vez en cuando a algún lugar
Ya sé, no te hace gracia este país
Tenías un vestido y un amor
Y yo simplemente te vi.


1 de dezembro de 2009

Como nossos pais? Será?

Hoje tive uma das melhores aulas de História da Arte desses dois anos. Juntou a fome com a vontade de comer. Passei o dia pensando na vergonha publicada sobre a UNE, sobre o movimento estudantil se esvaindo entre tantas segundas intenções. Hoje meu mestre – querido, muito querido – enquanto falava sobre a revolução da pós-modernidade e sobre o mundo (pois, “a arte é reflexo do mundo”), mostrou um belo documentário sobre aquele maio de 1968, onde o movimento estudantil parou a França por melhorias. Penso.

Onde foram parar as idéias de progresso? De ajudar uns aos outros? As cabeças pensantes da sociedade não deveriam ferver dentro das universidades? Sede de conhecimento do que estamos – ou, por vezes, não estamos – aprendendo? E o que estamos engolindo goela abaixo por uma formação rápida que em versão fast-food nos coloque em um mercado de trabalho hipócrita e efervescente, onde também, seremos burros de carga? O movimento estudantil se tornou trampolim para diversas outras funções que não sejam de cunho nobre, nobre de alma, nobre de vontades, nobre de saber, realmente, os valores de se estar em uma universidade pública – e também privada -. Os deveres e os direitos acumulados pelos estudantes, hoje já se confundem com grande baixaria de ambições.

Quando antes – no tempo dos meus pais - os universitários eram a nata intelectual da sociedade, hoje pouco se vê aqueles que realmente importam-se com o que estão ouvindo em sala de aula.

Estamos na era do “tanto faz”. Tanto faz se a UNE – assim como deputados que tanto julgamos – rouba milhões do governo, tanto faz se não tenho professor em determinada matéria, tanto faz se eu não conhecer a bibliografia do meu curso, tanto faz se o cara que me representa coloca dinheiro na meia, tanto faz porque mal sei o que é diretório acadêmico de uma universidade, tanto faz porque o importante é se formar, tanto faz porque realmente, mudou o milênio, mudaram os anseios.

Eu, saudosista, ainda acredito que a juventude possa ser mais. Mais interessada, com reclamações mais plausíveis, menos lúdicas, mais concretas. Afinal, nós não temos as mesmas reivindicações de anos atrás, nossos pais conquistaram e nos deram de bandeja uma sociedade democrata, livre e aberta. E o que nós, deixaremos para os nossos filhos?

No momento em que uma pessoa não faz questão de obter ensino de qualidade, mal lembra em quem votou na eleição passada e simplesmente acha que está tudo bem, merece ser representada por alguém que esconde dinheiro sujo nas cuecas limpas.

Nós, ainda pequena parcela que chega ao terceiro grau, temos a informação e os livros na mão, tem faltado é a dose de vontade. E isso tem feito toda a diferença.


Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português

Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês

26 de novembro de 2009

Insatisfação Crônica

Hoje vi “Vick Cristina Barcelona”, atrasada, depois de todo mundo se esgotar de comentar. Era o tipo de filme que sempre deixava como a terceira opção na locadora, tenho um certo preconceito com Scarlett Johansson. No entanto, que bela surpresa nessa mera quarta-feira candente. Além do show dado por Penélope Cruz, ouvi da sua boca a melhor denominação da história do cinema: Insatisfação Crônica. A doença de procurar em todos os cantos do mundo algo que sacie uma certa vontade confusa, uma vontade que mal se sustenta, e de tanto querer ser, se confunde no que não é. Quem sofre deste mal pouco é entendido, não sabe esclarecer o que acontece. São coisas que simplesmente calham, despedidas, recomeços, pequenos ou grandes passos no amor. Complicado, porém crônico, e só de saber que podemos dar um nome para isso já confere uma certa leveza aos ombros.

23 de novembro de 2009

salvadora

O romance está

para mim

como o ovo

está para Salvador Dali

E daqui

estou eu

disfarçada de cisne

meu mundo é um moinho

Nessa madrugada desanimada, ultrapassa pela janela aquele calor das noites que o verão vem trazendo. Nessa madrugada desanimada, estou cá eu e Cartola, triturando sonhos mesquinhos que um dia ei de ter. E vamos nós nessa malemolência das noites que o verão nos impõe, sem esperar nada, armados para algo que ainda não sabemos o que é. Mas, ainda é cedo.

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

9 de novembro de 2009

Sobre o dia em que menti

Aquele dia, eu menti. Não queria admitir, mas menti. Menti pelas diversas razões que levam alguém a mudar os fatos. Fúria, raiva, desprezo, tristeza, medo. Menti porque a verdade me pareceu destoar do momento. Porque de alguma forma minha “nova verdade” me faria mais forte.

Talvez, isso pertença mais ao mundo feminino, os homens simplesmente discutem com argumentos baixos e palavrões bruscos. Nós, mulheres, queremos ir mais longe, queremos dividir a ferida.

As folhas do calendário foram se esvaindo (se colorindo de reuniões e indo com as noites), eu engoli aquela falsidade, e agora, abandono em palavras o que antes tanto me incomodou.

Todos deixam um pouquinho de si quando vão embora, menti. Aos trancos e barrancos (entre gritos e xingamentos) alguém me disse: “Não te preocupa tanto!” (claro, multiplicando a hostilidade dessas palavras). E eu, que pensava não dar valor para estes vocábulos, me encontrei hoje, aqui, com um quê de ser/estar pelo que se é. Leve de vontades.

Dei por mim que todo homem terá defeitos, alguns farão barulho ao comer, alguns não terão lido aquele livro, alguns não conhecerão tal música, alguns terão ciúme, alguns serão caseiros demais, outros serão da noite, todos terão deformidades que os farão mais verdadeiros de essência, menos chatos. Dei por mim que os príncipes não existem, nem cavalos brancos, e que todos que parecem ser assim, caem e se perdem de suas majestosas fantasias.

Posso dizer que menti, pois ficou em mim um apreço infinito pela vida real, pela realidade dos tons dos domingos chuvosos (porque nem todo dia será de sol a pino), e nem tudo estará perfeitamente colocado em seu lugar, nem todos falarão as frases que sonhei, nem todos os trabalhos chegarão nas datas corretas e nem todas as amigas serão do modo como descrevi.

E mesmo que tamanho pessimismo não combine comigo, aprendi a colorir a realidade, ver beleza no perder a hora, admirar uma sexta sem programação, e claro, não esperar que as pessoas façam tudo certo, esperar que elas simplesmente façam, ou não.

Eu menti ao dizer a alguém que havia partido sem deixar rastros. Deixou, sim, uma grande e bonita vontade de ser “simples e suave coisa”.


Ouvindo: Orquestra Imperial (Um dos poucos cd's que escuto de cabo a rabo, e é mais um da série: “Achados e perdidos nas gavetas virtuais!”)

6 de novembro de 2009

Sobre anteontem

Aqui cai uma tempestade de dar medo. No lugar onde todos descansam, nós ficamos a olhar para alguém que já se foi. Temos em nossas mãos aquele corpo cansado, já derrotado, antes contador de histórias. Acabou a fadiga, acabou a medicação, acabou a luta. A vida se desfacela diante de nós. Nós, que antes tão frágeis, tão cuidados por ela, hoje somos platéia desse espetáculo dramático, nossa atriz principal abandonou o palco.
Esta chuva veio lhe levar para longe Vózinha, longe dos choros contidos, das explicações vagas, da maldade de sofrer durante tanto tempo. Estarás naquela motoca, rumo ao horizonte, avante e sempre, bem-aventurada de essência - qualidade dos bons.
Um beijo, Pequena

3 de novembro de 2009

Vai levando


"Mesmo com toda a fama, com toda a brahma
Com toda a cama, com toda a lama
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa chama
Mesmo com todo o emblema, todo o problema
Todo o sistema, todo Ipanema
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa gema
Mesmo com o nada feito, com a sala escura
Com um nó no peito, com a cara dura
Não tem mais jeito, a gente não tem cura
Mesmo com o todavia, com todo dia
Com todo ia, todo não ia
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa guia
Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando esse toque
Mesmo com toda sanha, toda façanha
Toda picanha, toda campanha
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa manha
Mesmo com toda estima, com toda esgrima
Com todo clima, com tudo em cima
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa rima
Mesmo com toda cédula, com toda célula
Com toda súmula, com toda sílaba
A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula"

28 de outubro de 2009

amor, amour, love, liebe, karl


Comecei a semana em prol do amor. Talvez o universo esteja conspirando para que eu escreva sobre ele – amor, amour, love, liebe, karl -. Ele se esconde onde ninguém percebe, em bilhetes, em um gesto de atenção, em um desenho na mão. A paciência que se esvai entre os casais envelhecidos está exatamente nesse erro: Deixar o amor se esvair dos pequenos lances. Ninguém necessita de televisão aberta e faixa no avião, ela não precisa de flores quando é alguma data especial, talvez ele só precise que ela não esqueça de trazer uma novidade (quiçá um novo tempero) na janta de (mera) terça-feira.
É por isso que venho aqui falar do amor que é simples de nascimento, do olhar, do movimento que ela faz com o cabelo, da forma como ele caminha. O amor está no silêncio que fica entre as velhas músicas (notadamente escolhidas) que tocam, está na gargalhada que ela dá na mesa do boteco, está no modo como ele repara que é o responsável. O amor está em não esquecer, por um segundo, que se é amor.


“Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num
fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar”


26 de outubro de 2009

Um brinde

Se existem dois seres humanos que eu não me canso de ouvir falar, são Chico e meu pai. Poderia ouvi-los por horas a fio. Sou uma eterna admiradora de escutar suas histórias (mesmo que por vezes elas se repitam), malemolências de uma vida repleta de percalços, viagens, passagens de rodoviária. Homens que levam consigo “olhinhos infantis”, a sabedoria de viver com um sorriso no rosto, com um sorriso nos olhos. Homens que possuem sempre um quê de anedota em suas frases. Talvez seja por isso que é tão bom escuta-los. Homens que têm luz própria, malandros de essência, eternamente apaixonados. Homens que têm a lei de serem “obrigatoriamente felizes”. Homens que nasceram muito antes do “tempo da maldade”.
Meus eternos ídolos, um lá e o outro aqui, que sabem sempre fazer os meus dias um tanto quanto mais bossa, e minha vida um tanto quanto mais nova. À vocês, um brinde.

É bão?


Quem me dera ter, vida com trilha sonora, cabelo que não fica feio em dia de umidade, genética de atleta, mente de filósofo. Quem me dera ter, marido com cara de revolucionário, dom para tocar um instrumento musical, dinheiro para passar uns tempos em Cuba. Quem me dera ter, um fusca 71, câmera 16 mm, juros 0. Quem me dera ter, quem me dará? O mundo as vezes é injusto, Sebastião.

Ao som de: Buena Vista Social Club (Tinha esquecido, por algum tempo, este cd jogado as traças das gavetas virtuais.)

"Mas eu sou menina"

Faça as contas. Duas amigas, quatro comédias românticas, um pacote de pipoca, uma pitada de sal, alguns edredons grandes e quentinhos, dois pares de pantufas. Acrescente amores mal resolvidos, unha quebrada, preocupação com a prova passada, estafa, gargalhada e café batido. A fórmula seria brevemente resolvida com uma caixa de lencinhos de papel. Estar rodeada de mensagens românticas é diretamente proporcional aos suspiros e almejos de momentos maiores de tudo, homens maiores em tudo. No entanto, no mundo feminino, nada pode ser tão simples. E é por isso que nós resolvemos com dias como estes. As vezes é tão bom ser mulherzinha.

"Chegando as 6, tá bom demais"

O cheirinho de verão começa a tomar as ruas da velha cidade. Enquanto ela observava o cuidadoso passo dos vagantes através do parapeito da sacada, tentava entender o porquê daquilo tudo. Está chegando a estação mais quente do ano. As meninas começam a mostrar os ombros. Os homens começam a planejar as fugas dos relacionamentos. Há um frenesi envolvendo os amantes. E os andantes, vistos através do olhar atormentado daquela sacada, têm um quê de ansiedade. Está chegando a estação mais quente do ano, e ela, sinceramente, não está com a mínima paciência.

25 de outubro de 2009

Eis que quero


Eis que quero um domingo assim: Filme de Almodóvar. Pincel cheio de cor. Quarto cheio de bagunça. Eis que quero um domingo assim. Braço estreito do abraço forte. Braço forte do abraço extenso. Que demore e se prolongue até a hora de levantar do tédio. Bendito tédio. Eis que quero um domingo assim. Acordar e morrer de ser domingo.

19 de outubro de 2009

Ser como

"Uma liberdade de pensar num espaço maior, de não ter tantos limites, de flutuar em nuvens de imagens e pensamentos simples e belos. Essa é minha idéia, não que seja assim. Não sei como é. Sei que queria ganhar dinheiro só pra fazer coisas bonitas."

Erica Gonsales

E a vida não



"Um lugar deve existir, uma espécie de bazar, onde os sonhos extraviados vão parar. Há de haver algum lugar, um confuso casarão, onde os sonhos serão reais, e a vida não."

Chico

15 de outubro de 2009

Pra você eu digo sim

É quando todo o corpo se preocupa em enviar aquela mensagem, como uma certa missão, a batalha é intenção. Tudo começa com os olhos, são os gerenciadores, aqueles soldados que ficam observando atentamente cada movimento do batalhão inimigo. Então, começam a especulação. Cada gesto é altamente verificado e seu relatório enviado ao cérebro. Esse tem o papel de pai ciumento. Caso goste ou não, manda logo ordem ás bochechas, que ao saber da boa notícia se contraem de emoção e em uma agitação tremenda logo fazem questão de deixar escapar os dentes.
Quando a menina sorri, mal sabe ele que é o culpado. E mal sabe que os dentes são os chefões daquela mensagem, que logo logo enviarão o alvará para todos os pêlos do braço levantarem em sinal de rendição.

12 de outubro de 2009

aonde, um dia


“O senhor tem recordação daqueles dias de chuva ininterrupta em Satolep, daquele cinza metálico que se deita sobre tudo e todos? Pois foi num desses períodos, em estado de completo desconforto com o mundo, que comecei a avistar o lugar aonde um dia quisera chegar.” Deu-me um cigarro e pôs outro na boca. Acendeu-os. “E então?”, perguntou-me, depois da minha primeira tragada. “Sinto-me melhor em tudo”. Respondi.

trecho de Satolep, Vitor Ramil

5 de outubro de 2009

Descansa


Hoje vi Satolep anoitecer as duas da tarde. Cada perambulante guardava sua agonia esondida que quase aflorava com a água daquela chuva. As luzes da praça se acenderam, os passarinhos voltaram todos para seus ninhos, os carros corriam descompassados.

Ninguém sabia ao certo como agir naquela situação, naquele entardecer que chegou sem avisar. Os boêmios comemoraram, as meninas sentiram medo e apertaram as mãos de seus namorados, as árvores teimavam em levantar vôo. Satolep. Satolep merecia um descanso. Dorme cidadezinha, o sol já vem cuidar de ti.

8 de setembro de 2009

era noite em satolep

A janela ainda ficou molhada da chuva. A madrugada silenciosa me fez abrir a antiga caixinha preta guardada a sete chaves na última gaveta do armário. Nela havia história, amor e tragédia. Haviam flores murchas. O exemplo concreto do tempo passado. Do tempo passando. Eu abri a caixinha dos sentimentos guardados. Senti a dor do pior dia da minha vida como se fosse hoje. Eu revivi as cenas da agonia e da insanidade. E a cada palavra lida a certeza dos cem anos suportados. Dos cem anos amadurecidos. E dos cem anos que ainda virão, cem anos de solidão, aprendendo a deslembrar esse dia. Volta para o teu lugar caixinha. Volta quando o mundo te entender. Mas volta, um dia. E me faz esquecer.


“I don't know why nobody told you

How to unfold you love

I don't know how someone controlled you

They bought and sold you”

28 de agosto de 2009

Eu quero... AGORA!



Eu quero comprar sapatos. Eu quero abrir um café e que dele seja feito uma casa de arte e que nela tenha bastante vanilla. Eu quero ter uma sala inteira cheia de livros e que do meio deles brote uma televisão gigante. Eu quero que do meio da televisão gigante brote um vídeo-game e que de dentro do vídeo-game brote um montão de sorrisos. Eu quero um montão de sorrisos. Eu quero um sofá daqueles que a gente deita e nunca mais levanta. E quero uma banheira cortada para que seja daqueles sofás que a gente nem senta. Eu quero dar umas três voltas ao mundo. E quero que o mundo inteiro caiba dentro da minha mala. Por sinal, eu quero um montão de malas. Eu quero ter amigos que falam bobagens pro resto da vida. Quero vê-los engordar. Quero ver o tempo passar em suas gargalhadas. Eu quero ver o tempo passar. Eu quero relógios antigos, nem precisam funcionar. Eu quero pintar o apartamento todo de branco de camisa velha, igual a filme. Quero sujar o rosto de alguém de tinta e abandonar o trabalho na metade. Eu quero chegar em casa e no meio da noite ter uma idéia brilhante. Eu quero acordar a todos com as minhas idéias. Eu quero ter para sempre o meu bloquinho recheado de novos projetos, mesmo que nenhum deles fique de pé. Eu quero conhecer um montão de gente de gosto estranho. E eu quero comprar todas as revistas coloridas das bancas de jornal. Eu quero comprar todas as canetas coloridas das papelarias. E eu quero comprar todas as bolsas dos brechós. E eu quero. Quero muito. E eu preciso. Preciso muito trabalhar para pagar os meus sapatos.

20 de agosto de 2009

a dois de dia

Tem um monte de passarinho cantando, tem princípio de chuva e tem um pouquinho de solidão escondida em tudo isso. No canto deles, na roupa dela, no andar, no velho tênis. Tem um pouquinho de solidão em cada abraço que não foi dado, em cada palavra que não foi dita, em cada vazio, cada presente esquecido. Tem um pouquinho de solidão em cada mentira, cada resquício de maquiagem da noite passada, cada barulho de salto alto. Tem nos olhos dela, na forma como segura a caneta, como expõe uma vontade, na meia calça. E tem um pouquinho de solidão em cada carro que passar nesta rua, em cada perfume estranho que trouxe na camisa. A solidão da cidade diminuiu meu passo. Caiu um pingo de chuva na ponta do meu nariz... E eu aprendi a olhar para mim mesma.

12 de agosto de 2009

O homem da minha vida



Hoje é aniversário do homem da minha vida.

O único. Que não falha, que não tarda, que é cheio de defeitos. O único que continua me achando linda mesmo com calça de moletom e sem maquiagem. Que me acorda gritando, que fala mal do meu quarto, que não tem ciúme. Que debocha do beiço. Que me fez ser bamba, que me fez ser samba, que me fez ser bossa. Que me fez ser política. Que me fez ser forte. Que é tango. Que eu peço dinheiro. Que não me dá.

O único homem da minha vida que será pra todo sempre o único homem da minha vida. Que nunca trairá. Que nunca cairá. Que nunca deixará de ter uma resposta pras minhas perguntas. Hoje é aniversário do único homem no mundo que vai estar sempre do meu lado, em qualquer situação, pra sempre.

E as vezes, prestando atenção, na teimosia e no jeito, é que vejo nele meu reflexo. Imaturo e verde, mas que sonha sempre, em crescer perto de alguém que a todo momento leva um sorriso no rosto, que assobia quando nervoso, e que, vai ser o único a secar as minhas lágrimas sem nem perceber, debochar dos amores que tive, e me incentivar a ser sempre mais e melhor, apenas pelo prazer de orgulha-lo.


Ao homem da minha vida, muito obrigada por existir. Um abraço daqueles de meio braço com o mate na mão. Eu tenho precisado deles.


Neneca



5 de agosto de 2009

Dorme


Talvez eu tenha um mundo só meu e que é recheado de poesia transparente nele há bolas de sabão que são tão grandes quando um gigante adormecido deitado ao pé de uma árvore minúscula que cabe na palma da mão vazia de incertezas mas que gritam tão alto no silêncio barulhento tanto quanto a respiração do homem ele dorme e acorda a cada compasso incerto a cada dúvida coesa e a todo momento em que acontece algo que possa mudar o seu caminho estourar as bolhas jogar sabão no chão estourar o chão e jogar as bolhas no ar
O gigante dorme
e eu
acordo e
nesse mundo
cadenciado nós
vamos vivendo

31 de julho de 2009

Perceber

Voltei a ser criança por alguns momentos. Comecei a olhar a rua e as pessoas de uma forma diferente, nova, cheia de vida. Caminhei na noite agitada do centro da cidade bem devagarzinho. Passou por mim um cachorrinho com uma luva na boca, uma meininha linda com o menor all star que já vi, um louco fazendo rimas no sinal e uma loja iluminada - recheada de móveis que ficariam lindos em um galpão -. Talvez estas coisas estivessem ali o tempo todo. O cachorrinho com a luva, a loja, o louco. Mas hoje foi diferente. Hoje tudo se tornou um pouquinho mais encantado.

28 de julho de 2009

Reflexão do dia

"Quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nas pessoas ao nosso redor? E ir deslizando pelos pequenos detalhes, na beleza não manifesta e, ao mesmo tempo, ofuscante? Quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nos olhos do outro, sem qualquer pressa, sem procurar ali dentro o próprio reflexo?"

Fazia tempo que eu nao lia Rita Apoena... Dica: http://ritaapoena.zip.net/

27 de julho de 2009

Sobre aqueles que são iguais

Não sei nem o que dizer.
Que V E R G O N H A.

24 de julho de 2009

Citando Kant (e pra você, o que é Belo?)


Fazia tempo que uma aula de Filosofia da Arte não chamava tanto minha atenção. Geralmente essa aula serve para tudo, menos para ouvir o que a professora fala. Talvez seja a voz calminha e a forma como ela faz a Filosofia parecer algo tão distante de nós. Mas hoje, especialmente hoje, foi diferente. Ela citava Kant, o Belo e todas suas regras. Para ele o Belo é um objeto de “prazer sem interesse”. O artista deve produzir a obra por deleite, não por outra finalidade. Ele agrada universalmente sem conceito e é uma conformidade a fins sem fim. Fiquei pensando nisso um longo tempo. Prazer sem interesse. Uma das melhores frases que eu poderia ouvir na vida, vinda lá do século XVIII diretamente para os meus ouvidos “contemporâneos”. Nada condiz tanto com a Arte como o prazer. Um artista deve por natureza desprover de considerações/conceitos/julgamentos para encontrar o Belo. Precisa arrebatar, mexer, tirar do sério, mudar o rumo, interromper um hábito e alegrar o dia. É como o prazer de fazer o que se gosta. E só se faz Arte porque se é apaixonado. Prazer sem interesse. Ou seja, gênios.

“Se o meu olhar é múltiplo e o olhar de todos é múltiplo, onde estão os pontos de intersecção?”


20 de julho de 2009

Quente e Letrista


Me peguei pensando em certas coisas que me incomodam, decepcionam, como lã que pinica no inverno. Pessoas que não têm um ponto de vista me aborrecem. Sujeitos em cima do muro, sem opinião - ou que pensam que tem , mas mudam no outro instante para concordar -. “É, era isso que eu estava falando”.

No entanto, o pior dessas gafes (talvez por falta de visão), é não ter certeza do que se quer. Alguém sem planos e vontades é alguém mais pobre de alma. Que não almeja, não atormenta, cai, levanta, se fere, vê a vida como um grande palco, ensina aos filhos a ver tudo da melhor forma, conta aos netos todas as peripécias que passou e ainda faz anedota delas.

Alguém que aperta a mão firme, que fala olhando nos olhos, que abraça e discursa com todas as letras, que não tem entrelinhas, nem medos, nem “e o que será que vão pensar”, “e o que será que eu poderia estar fazendo se estivesse em outro lugar, em outro tempo, e eu estou perdendo esse tempo, como eu vivo meu momento?”.

Que bom é conviver com alguém recheado de certezas. Mesmo que tudo vá dar errado. Mesmo que a vida não seja um filme, novela mexicana, teatro. É poético e encantador ver alguém discorrer sonhos, aspirações. Somos aquilo que passamos aos outros, ninguém é aquilo que imagina ser, ou aquilo que é entre quatro paredes.

Que todas as pessoas do mundo sejam quentes e letristas. Sejam apaixonadas, apaixonantes. Vemos o brilho dos olhos de alguém ao ter certeza de algo, vontade, sede de viver até a última gota, de arrancar os cabelos, de sentir, de chorar. Que cada dia seja um romance, um pedido de casamento, uma mensagem dizendo: consegui aquela conta! Que seja atopetado de certezas. Mas que seja, sempre. E nunca “será?”.

O Bial disse “filtro solar”, eu digo “tenham sede”.


“Estranho é quem não gosta de sentir isso tudo, estranho é quem prefere o amor a paixão, paixão (ou vontade, como queira) é fogo, é fera, é bicho, é desejo, é obsessão, é loucura, é adrenalina. É o que quer que seja, na hora que ela quer que seja, e então, quem rege você não são as teorias e sim instinto. Agindo por impulso nos tornamos verdadeiros. E ai já viu. Tudo vira conto de fadas.” Eu, 2006

Resiliência

I wanna be forgotten,
and I don't wanna be reminded.
You say "please, don't make this harder."
No, I won't yet.

I wanna be beside her,
She wanna be admired.
You say "please, don't make this harder."
No, I won't yet.

Oh dear, is it really all true?
Did they offend us and they want it to sound new?
Top ten ideas for countdown shows...
Whose culture is this and does anybody know?
I wait and tell myself "life ain't chess,"
But no one comes in and yes, you're alone...

You don't miss me, I know.

Oh Tennessee, what did you write?
I come together in the middle of the night
Oh that's an ending that I can't write, 'cause
I've got you to let me down

I wanna be forgotten,
and I don't wanna be reminded.
You say "please, don't make this harder."
No, I won't yet.

I wanna be beside her,
She wanna be admired.
You say "please, don't make this harder."
No, I won't yet...

17 de julho de 2009

Remédio anti-monotonia



...
é tudo o que tenho pra dizer hoje.

10 de julho de 2009

hm. é?


Se tem algo engraçado é uma conversa de duas amigas em total tédio. Entre comentários e risadas é que surgem coisas como isso: uma lista de atitudes que você deve seguir se quiser ser CHATO.
Na sequência...

1. fale sobre cultura
2. seja blasé
3. fale 'você'
4. aprecie latim
5. fale sobre guitarras e artistas que ja morreram
6. ouça pink floyd e todos os tipos de música fora de foco, pq você nao é um 'alternativo', você é um CHATO
7. vá aos lugares da moda na hora em que eles estão fechando - que fique claro, você não é polêmico, é CHATO
8. seja um socialista nao praticante e use a expressão 'típico capitalismo selvagem'
9. use letras maiúsculas e pontue bem suas frases, mesmo que seja no mundo cibernético e mais hahahaha ou hehehehe. Apenas. Porque você nao quer descontrair, você quer chatear. Porque afinal, você é um CHATO
10. critique tudo e todos - principalmente todos. Nunca se satisfaça. Afinal, perfeição nao existe. Nada nem ninguem é bom o suficiente. Nem você, pq você é CHATO