22 de outubro de 2012

sobre a Luli e pecados

Quando a gente era adolescente, com uns catorze, quinze anos, por aí, a Luli tinha um apartamento que nós transformamos em um ninho. Era diferente. Ela morava com a mãe e a mãe dela nunca parava em casa. Isso fazia com que a gente tivesse a total liberdade de colocar música muita alta e de nos alimentarmos muito mal. Nuggets, quase sempre. Só ouvíamos as mesmas músicas e os vizinhos cultivavam um grande rancor por aquela baderna. Principalmente o síndico gordo e suado, que era um cara mau. Ficávamos alternando entre o dvd do Tribalistas e Los Hermanos (e a gente se orgulhava muito que "só a gente no mundo inteiro" gostava de Los Hermanos, porque éramos meio imbecis nesse sentido). Desenhávamos nas paredes, escrevíamos poesia, discutíamos sobre amor e sofríamos, sofríamos, sofríamos por amor, mas na maioria das vezes inventávamos só pra poder sofrer mais um pouquinho porque achávamos bonito. Eu até desenhava, veja só. A Luli sempre foi artista. Com a Luli eu aprendi que algumas pessoas simplesmente nascem com a arte no coração, outras não. Acho que nunca disse à Luli o quanto sinto falta de ir chorar no colo dela, me enrolar no edredon da Pocahontas e pedir "Luli, arranca isso de mim". Eu sinto falta, Luli. Eu sinto falta de um tempo que a gente inventava isso pra criar mais bonito, pra chorar ouvindo Los Hermanos. Eu sinto falta. Faz alguma coisa, Luli.  


Falados os segredos calam
E as ondas devoram léguas
Vou lhe botar num altar
Na certeza de não apressar o mundo
Não vou divulgar
Só do meu coração para o seu
Pecado é lhe deixar de molho
E isso lhe deixa louco
Não, eu não vou me zangar
Eu não vou lhe xingar
Lhe mandar embora
Eu vou me curvar
Ao tamanho desse amor
Só o amor sabe os seus
Não, eu não vou me vingar
Se você fez questão
De vagar o mundo
Não vou descuidar
Vou lembrar como é bom
E ao amor me render