9 de agosto de 2010

a menor história do mundo

A menor história do mundo dentro de um livro que coubesse dentro da palma da tua mão. Desde sempre a idéia foi essa. Hoje minha saudade faz dela um jeitinho de te ter por perto. Na sequência:

dedicatória
E só existe uma pessoa no mundo que entenderia a menor história do mundo, “você”.

capítulo 1_toda beira é final de dois

Quando fecha os olhos fica meio sem jeito de perguntar pela enésima vez o que se passa pela cabeça dele. Na verdade, acha que na maioria das vezes nada pensa. Idealiza a resposta: Penso em “você”. Pensamento bom, pensamento ruim, qualquer que seja. Como acontece com ela durante o dia todo. Responde: Nada. E a deixa sossegada. O fato de ser tão tranqüilo manterá o compasso. Faz silêncio por cerca de dois segundos, tempo o bastante para ela prestar atenção na luz que entra pela frestinha da janela e plagia a lua. Ela ainda desconfia que ele foi quem mandou colocá-la ali. Que foi ? Ele pergunta. Nada, ela diz. "Só acho que eu poderia escrever a menor história do mundo sobre a gente".

capítulo dois 2_ela

(Uma história que começa com ela para que ela seja eu, e eu apenas seja a voz que narra a história bonita.)

Café a cada cinco minutos. Disfarça que é para produzir mais, ter mais idéias, sentir-se mais acordada. Mente, o vício é pelo ar saudosista de uma Paris que nunca conheceu e de um inverno que não seja úmido. Perde na banqueta os livros misturados as revistas que escondem as canetas, os óculos e os pedaços de papel onde anota versos. Diz que Camelo é o melhor porque as músicas dele doem, que na teoria de boteco bom mesmo é quem fala mais alto, que acredita em amor, mas que dele quer distância.

capítulo 3_ele

Criou um mundo chamado “Folha em Branco”. É para lá que ele foge quando fica em silêncio por alguns minutos. Transforma o branco em cor, linha e devaneio. Tem sempre um pensamento convertido em arte nos objetos pelo quarto, nas roupas que usa, no cabelo que faz com que as crianças fiquem abismadas. Perde na banqueta as tintas misturadas aos pincéis que escondem as canetas, os óculos e os pedaços de papel onde anota versos. Diz que Amarante é o melhor porque as músicas dele trazem uma história, que bom mesmo é quem discorda, que acredita no amor, mas que não é hora.

capítulo 4_eles

Alguém tinha que dar o primeiro passo. Ela disse: “E então, tem gostado da cidade ?”. A Satolep que para ela parecia tão pacata e pequena tomara novos ares desde a chegada de tantos desconhecidos. Ele disse gostar, com ar de que esperava mais, um pouco mais de tudo. “Pede mais um copo”, “Conta mais como é aquela parte do Rio de Janeiro”, “Acho que você adoraria a Lapa”, “Você ? Que engraçado ouvir você!”. Alguém tinha que dar o segundo passo. Ele surgiu, lento e veemente, um beijo e enfim.

capítulo 5_como convém que seja

Ele canta, toca gaita, faz bolinhos para saborear depois de preparar o jantar. Sente vergonha quando a casa anda suja, quando não consegue chegar no horário. Ele tem um jeitinho manso, como quem não se preocupa a longo prazo, como quem vai viver por mais de cem anos. Traz uma poesia escrita no papel rasgado do caderninho onde desenha, paga um café, passa no supermercado só para matar aquele desejo que ela falou. Ele escuta tudo que ela diz, mesmo que pareça sempre distraído. Ela reclama. Pede atenção. No fundo sabe que ele se dedica, só não o chama de príncipe encantado porque tem um ar vadio. Mas gosta, afinal, assim fica mais charmoso. Ela fala muito e geralmente o atordoa com tantos pedidos e manhas, mas gosta mesmo quando escolhem sempre a opção mais simples para o sábado. Ela escreve um poema em pensamento toda vez que ele mexe nos seus cabelos, vai passando pela orelha, vai chegando ao pescoço e a segura com força, como quem não a deixa escapar por nada. Eles acreditavam no amor, perto, oportuno, (s)enfim.