Lá em casa todo ano de eleição era bem agitado, com direito
a muita discussão, carreata, comício, bandeira, adesivo, atenção no horário
eleitoral, meu pai voltando com alguma novidade que escutou na esquina do Café
Aquários. Nos tempos de eleição eles ficavam mais cheios de vontade, minha mãe
ficava mais ocupada e meu irmão fumava mais. Nos domingos de eleição todos nós ficávamos
na sala esperando a contagem dos votos, eles tomavam cafezinho, ansiosos e eu,
no meio, desejava ter dezesseis anos pra poder participar daquilo. Por vezes
tinha festa da vitória com choro emocionado, por vezes eu ficava triste porque
via meus pais desesperançosos. O que eu via era esperança e entendia o que
aquilo representava. Mal sabia de qualquer coisa da vida, mas entendia. No meu
olhar infantil tinham os malvados e os bonzinhos (os quais transformariam o
país em um lugar melhor pra se viver). E, claro, os meus pais estariam ao lado
dos bonzinhos, sempre. Um dia eles desistiram. As bandeiras foram desaparecendo,
os adesivos foram deixando de ser colados e assim por diante. Depois de um
tempo consegui perceber que foi um sentimento que envolveu muita gente. Não só
lá em casa. O que incomoda mais.
Hoje é domingo. Dia de eleição. Tive que justificar meu voto, o que doeu, a sensação foi de colocar toda a esperança em uma sacola de lixo e assinar. Não tem todo mundo na sala esperando a contagem de votos, não tem cafezinho, não tem festa da vitória, não tem partido, não tem lado, não tem malvado e não tem bonzinho. Tem um fiozinho de esperança nos meus grandes amigos que entraram na política e nos meus amigos que se esforçaram em permanecer atentos nas eleições de Pelotas e que, em sua maioria, me pareciam firmes na ideia de mudança. Tem um fiozinho de esperança naqueles que nem conheço, mas que levantaram a bandeira do amor em São Paulo. Tem um fiozinho de esperança na nossa geração. Fiozinho de esperança que, pelos meus pais e pela vontade de ver a melhora do país que sempre vi nos olhos deles, espero nunca perder. O Galeano disse e nesse domingo vou ficar mentalizando: “Esse mundo de merda está grávido de outro”.
Hoje é domingo. Dia de eleição. Tive que justificar meu voto, o que doeu, a sensação foi de colocar toda a esperança em uma sacola de lixo e assinar. Não tem todo mundo na sala esperando a contagem de votos, não tem cafezinho, não tem festa da vitória, não tem partido, não tem lado, não tem malvado e não tem bonzinho. Tem um fiozinho de esperança nos meus grandes amigos que entraram na política e nos meus amigos que se esforçaram em permanecer atentos nas eleições de Pelotas e que, em sua maioria, me pareciam firmes na ideia de mudança. Tem um fiozinho de esperança naqueles que nem conheço, mas que levantaram a bandeira do amor em São Paulo. Tem um fiozinho de esperança na nossa geração. Fiozinho de esperança que, pelos meus pais e pela vontade de ver a melhora do país que sempre vi nos olhos deles, espero nunca perder. O Galeano disse e nesse domingo vou ficar mentalizando: “Esse mundo de merda está grávido de outro”.