13 de maio de 2006

Mãe, trás coca?

Em ritmo de dias das mães, fico assim, sem frases ensaiadas, presentes com laços, rosas, e um cartão. Tenho apenas palavras, que talvez em quinze anos de existência nunca foram ditas.
Não me pergunte o porquê, nem por onde, nem quando, nem como, mas nunca fui de falar sobre o que sinto. Talvez porque todas as vezes que arrisquei, no momento seguinte não sentia mais, e acabava por mentira.
Mas concordarei quando disseres que silêncios são grandes motivos para a mente pensar o que bem entender.
Para uma pessoa as palavras são importantes: minha mãe.

Cresci calada, braba e cheia de pensamentos loucos na cabeça, sou taxada em casa como “revoltadinha”, que explode, que briga. De poucas demonstrações de carinho e frases vagas no natal e ano novo.
Minha mãe pensa o que quer sobre os meus sentimentos, culpa do meu silêncio.

Hoje li algo realmente interessante. Machado de Assis falava que nascíamos para juntar as qualidades e defeitos dos pais. Tenho certeza que meu pai e minha mãe foram feitos um para o outro, e eu, nasci para os dois estarem em uma pessoa só, sem quebra de identidade ou integridade. Com a cor bronzeada de meu pai, com o nariz de minha mãe, com os tiques nervosos dela e os “quero fazer pra me livrar” dele.

Tenho a família como algo além de tudo, algo fora de explicações e/ou demonstrações de carinho, algo totalmente maior que amizade, cumplicidade e amor. Seria o ápice de tudo que importa nessa vida, algo que não passa, não congela, não se destrói.

Minha mãe é avoada, sempre com a cabeça distante, pensamentos feitos de borboletas. Eu, nasci com a mesma qualidade/defeito. Quando estou perto dela sinto que pensa no tempo que está perdendo e poderia estar fazendo outra coisa, ou talvez, pensando que tem algo a fazer. Nunca pára. Nunca. Observei-a muito em toda minha vida e sempre quis ser parecida. Não deixar as coisas para depois, assumir totalmente as responsabilidades, ser mais dedicada. Nunca consegui.
Sempre deixei as coisas para a última hora, “tentei” ser responsável, e nunca fui “dedicada”.

Não sei se minha mãe já sentiu “orgulho” da minha pessoa, como a mãe do Ronaldinho sentiria, mãe do Lula, nunca fui um fenômeno, e talvez, nunca tenha me esforçado para ser o tal. E sempre foi isso que minha mãe tentou: Neneca te esforça, te esforça Pretinha, tu és inteligente, tu tens um baita potencial.
Medíocre, essa seria a palavra certa. Estar sempre “na média”, que fosse muito abaixo, claro que de preferência acima, mas não “na média”.

Quis sempre chamar a atenção das pessoas da minha casa, mesmo que já a tivesse e mesmo que fosse dentro do meu mundinho. Meu mundinho, quantas vezes eles já não pediram para eu sair de lá.
Sou uma medrosa, os tenho como algo tão importante e de tanto valor que fico sem jeito quando erro, quando tiro notas ruins no colégio, quando não me esforço e não faço nada para reverter a situação. Quando dizem que eu sou braba demais, que não me dedico, que não faço nada, que não dou abraços, que não chego perto.

Eu queria, confesso, mas nunca soube ser muito assim com eles. Não sei porque, e não, eu não preciso de um psicólogo. Apenas fui desde pequena “meio assim”, fria com as pessoas que gosto, medo de machuca-las e/ou decepcioná-las.

Queria dizer a ela o quanto é importante em cada instante do meu dia, que quando brigamos abre-se um buraco em mim, que caminho pisando em ovos. Dizer a ela o quando eu a admiro e quero colo. Dizer que preciso que me puxem para um abraço, mas que preciso deles.

Sei o quanto já errei, o quanto já a deixei triste e quantas erros meus ainda não estão por vir. Desculpas para o passado e desculpas antecipadas.
Precisa ser dia das mães para eu tomar vergonha na cara, paciência.

Eu te amo mãe, de verdade.

Menininha de família. Sabe como é.