Ao abrir os olhos reparou no acanhado risco de sol ultrapassando as fronteiras da remota janela de madeira. Ao deparar-se com tamanha desenvoltura permaneceu por um duradouro espaço de segundo entorpecida. Percebeu a liberdade daquelas partículas dançarinas do ar. Dançarinas de uma melodia silenciosa da respiração humana. Tão cotidianamente acostumada e desprendida. Sentiu inveja de tal alvedrio, tal desambição. E questionou seu modo de vida.
27 de maio de 2007
25 de maio de 2007
Sobre música e calendário
Há muito que tenho esta idéia fixa de que nasci na época errada. Pensamento óbvio daqueles que acreditam não se encaixar às peripécias deste mundo excitado. Quanta pressa, quanta rapidez, quantas fórmulas. Fiquemos sentamos lendo, discutindo, observando. Tenhamos tempo para descobrir novidades, deixemos de ser tão precoces.
Apreciemos arte, não finjamos sabedoria, sorriamos, brindemos e fugiremos ante tantos roteiros invisivelmente traçados. Quebremos os protocolos. Dancemos rock.
(Tenho medo de calçar sapatilhas e assumir esse visual “Popular americano anos 50” –única episódio que forneceram de valioso nessa época-. Porém, vá lá, o mundo é um incontrolável ciclo.)
Um abraço aos novos “amigos” cibernéticos .
BERRY, Chuck – Route 66
24 de maio de 2007
Ele não morreu
8 de maio de 2007
Ying-Yang
Teu contrário me agrada, me transborda de contentamento, luxúria, avareza. Despertas em mim os pecados impuros de uma alma arrebatada de sentimentos melancolicamente alegres. Tu és o pretexto da minha felicidade e do meu orgulho.
Dizer que és direita e eu esquerda, que és o silêncio e eu o esparro, és a noite e eu amanhecer, enche-me de interesse sobre como desta tua figura tão avessa formas um desenho tão propicio. Encontras em mim o espaço para tuas histórias ocultas e me ofereço em branco para fazer parte dos teus pensamentos extra-normais.
És o negro reflexo dos meus olhos, abarrotados de benignidade por ti, o avesso do que sempre quis, e no entanto, o que sempre fará de mim o oposto imprescindível.
2 de maio de 2007
Sobre o cansaço
Tenho vontade de tirar férias. Férias de meus trejeitos, trajetos, minhas manias, cobranças, idéias formadas, reclamações, espelhos. De meu quadrado, minha alcova, minha vida. Arremessar tudo para o alto, dormir até doer a base, rir até a barriga dizer chega.
Férias de tudo que me desgasta, me atormenta, me desassossega. Comer chocolate, tomar café, não me preocupar com a saúde. Férias desta imagem, de tudo que ditame lógico, estético.
Férias de mim mesma.
“Tá difícil ser eu sem reclamar de tudo. Passa nuvem negra, larga o dia, e vê se leva o mal que me arrasou pra que não faça sofrer mais ninguém. Esse amor que é raro e é preciso pra nos levantar me derrubou, e não sabe parar de crescer e dor. Não adianta me ver sorrir, espelho meu, meu riso é seu, eu estou ilhada."
Nana Cayme