23 de abril de 2012

congelados

(Versão da música linda do Caê, com o novo xodó musical)

Perguntei pra ele o que tinha acontecido com a poesia do nosso dia-a-dia e qual era o motivo de me sentir participante de uma maratona. Ele respondeu que não era só aqui. Que o fenômeno da falta dela acontecia em mais de um lugar. Disse pra eu cuidar da minha como quem diz: "Vê se te alimenta!'. "Vê se te alimenta e cuida da tua poesia". E eu pensei que seria bom se desse pra comprar na seção de congelados.

16 de abril de 2012

cultura do inquilino




Algumas coisas têm o poder de mexer com a gente. Quando isso acontece geralmente fico em silêncio por alguns minutos. Depois falo. E muito. Mas, de início, fico calada. Numa forma de deixar "essa coisa que têm o poder de mexer comigo" se acalmar e ficar. Acho que é um jeito de congelar "essa coisa". Esse final de semana foi um apanhado dessas sensações. O choque com a exposição do Bispo, a vista da cidade duas vezes (a chuva no Santo de Casa, a noite com os prédios de purpurina), o Medianeras. Nos picos de silêncio lembrei dos meus pensamentos sobre cidade, amor, pessoas e a relação entre isso tudo. Pensei muito nisso no domingo, mas falei (sem pensar) foi no sábado. Senti vontade de escrever pra amiga distante pra jogar conversa fora. Acho que todas as outras pessoas do mundo não tem muita paciência pra esse exercício (começam a olhar o celular, a verificar o e-mail...). Jogar conversa fora é o esporte que eu tenho praticado no momento. Falar sobre cidade, amor, pessoas e a minha relação com isso tudo, é a minha categoria. "Como é que eu devo fazer um muro no fundo da minha casa", "Como vou achar quem eu procuro se não sei quem é?", "Como tu tá?". Como algumas coisas têm o poder de mexer com a gente. Que bom que elas ainda existem.


9 de abril de 2012

indestrutível

Achei na carteira um bilhete que dizia: "Somos uma dupla indestrutível". Fiquei cantarolando: "Você me falou pra eu não me preocupar".
Alguém algum dia me disse que o tempo curava tudo. Comecei a desacreditar. O tempo só nos deixa menos jovens e mais preguiçosos. A gente não esquece. A gente fica com preguiça de sofrer.
O tempo não cura. O tempo nos leva.

5 de abril de 2012

la mejor


E minha melhor amiga... deu o fora. Juntou suas coisas, colocou a vida em malas, comprou uma passagem de ônibus e deu o fora. Deu o fora da cidade onde a gente nasceu, cresceu, curtiu, viveu, se estabacou, sarou. Onde a gente foi inconsequente, delirante, irresponsável, criança e adolescente. Minha melhor amiga deu o fora. Resolveu que ia estudar espanhol, que diria "por que me miras si no me sacas a bailar?" com prioridade. Minha melhor amiga deu o fora do trabalho e foi embora pra Buenos Aires. Resolveu que ia beber Quilmes até cair no chão. Minha melhor amiga deu o fora para crescer, curtir, viver, ser inconsequente, delirante, irresponsável e adulta, em Buenos Aires. Minha melhor amiga foi encantar aquela cidade, foi gargalhar, foi se soltar, foi ser mulher, foi ser feliz. Minha melhor amiga deu o fora de tudo aquilo que já não a fazia estremecer, vibrar, corar. Minha melhor amiga foi corar com gosto de vinho tinto, com homens de cabelo comprido, com casas coloridas, com uma cozinha quente pra chamar de sua. Minha melhor amiga deu o fora. Acho que nunca senti tanto orgulho dela como hoje.