2 de agosto de 2007

Sobre a memória do infinito


“E esse medo infantil de ter pequenas coragens...” Vinicius

Perguntei-me algo bacana ao longo do dia. Onde tudo vai parar? Tudo. Os bilhetes, as latas de tinta, os pincéis, os livros, os vinis, as cartas de amor. Alguém em algum lugar encontra-os, guarda-os, recicla-os, e então? Outra história os toma, outros personagens, outras formas de vida.
Os artefatos ao meu redor tem uma historinha. Quem já não olhou para eles? Que lembranças devem trazer? Cada qual com sua poesia subentendida, a magia das pequeninas partículas formando um elemento historicamente ilusionista. São muito mais que minhas milhões de palavras neste humilde estabelecimento. É um verdadeiro turbilhão de anseios silenciosos no atrito estático do corpo em movimento nulo. Como pode.
Li um livro – ótimo – a pouco. Lygia Fagundes Telles, no último conto do livro descreve a história de um anão de jardim. O escrito se passa através dos sentimentos e aforismos do pobre enfeite, e isso pareceu-me curioso. Comecei fundamentalmente pelas paredes de meu quarto. Logo após minhas folhas, o abajur, os tênis. Todos com sua existência e culpabilidade, aguardando o final de sua vida útil.
Cheguei a conclusão de que se minhas meias pudessem discorrer, simplesmente, me odiariam. Minhas almofadas me adorariam, e os discos do vovô falariam bem sobre minha pessoa.
No entanto, um dia eles vão embora. Perdidos em caixas de mudanças, ou talvez desprezados na passagem dos anos. Cada qual tão meu, com nossa história, suas e minhas. Serão de outra pessoa, serão do mundo, terão mais e mais historietas. Crueldade pura.
Não fica triste Abajur. Prometo te levar comigo pro resto de minha crédula vida útil. Terás tempo de me expor por onde já passastes, e me relembrar de tudo que já fui. Tu és o cais entre meu passado e os momentos que ainda virão. Teremos ótimas risadas, porém, agora temos que dormir, boa noite.