13 de outubro de 2012

tudo sobre minha mãe


Desde que sai de casa passei a ter saudades antigas (porque existe a saudade nova, aquela de tempo recente). Não tenho muitas saudades do meu quarto (que virou quarto de hóspedes), por exemplo. Nem dos vinis do meu avô que ficavam espalhados nas paredes, nem dos quadros da Audrey, nem de sentir medo de ir até a cozinha porque tinha que andar o corredor inteiro. Não. Minha saudade ecoa em coisas específicas, como a mão da minha mãe. A minha mãe tem a mão mais bonita que já vi. E sei, porque reparo em mãos. Muito. A minha saudade propagou nas mãos da minha mãe fumando Benson Mentolado, nos tempos em que ainda era bonito fumar. Meados de noventa. Tenho a cena gravada. Unhas compridas, esmalte sempre clarinho, dedos finos e longos, o tal Benson Mentolado. Quando ela se expressava gesticulava com a mão bonita segurando o cigarro entre os dedos e acabava ficando numa moldura de fumaça. Minha mãe fumava bonito quando ainda era bonito fumar porque o fazia devagar e porque tinha a mão mais bonita que já vi. Todos na sala ficavam olhando pra ela. Os dedos compridos. O esmalte clarinho. Quando lembro dessa cena sinto falta do cafuné da mãe mais bonita que eu já conheci. Sinto saudade da mão da mãe mais bonita que já conheci. E é quando não aguento de saudade e acabo dormindo no quarto de hóspedes.