5 horas da manhã. Eu tava
esperando um táxi e um cara que eu não conhecia se aproximou perguntando se eu
tava triste. "Olha, na verdade eu não sei te responder". Ele disse
que tava. Ele se apaixonou por uma mulher e ontem, na festa, descobriu que ela
era prostituta. Pra piorar, ela também não quis ficar com ele. Ele chorou na
minha frente, na rua, esperando um taxi. E eu, logicamente, chorei com ele,
porque eu sou do tipo que chora. "Vai dar tudo bem certo, amores serão
sempre amáveis" (e todos os meus mantras e todos os mantras que pudessem
confortar).
Encontrei meus amigos de
novo, desisti do táxi, disse pra todo mundo que o amor é a coisa mais linda do
mundo porque a gente chora a dor de um estranho na calçada de uma festa. Eu não
sei se o fato de ter ouvido os problemas do cara ajudaram em alguma coisa e
mudaram o rumo da vida dele (vida: esse enorme pote de sorvete cheio de feijão),
mas eu passei a ter mais fé no mundo. O Odair José teria ajudado mais. Talvez.
Em pleno 2012 encontrei uma pessoa que encontrou um estranho e contou uma dor
de amor pra ele. Em época de amor líquido, época de fingir que não se conhece,
época de falar pouco (porque falar muito espanta, responder na hora dá
bandeira, ser legal configura relacionamento e veja o livro das regras no
anexo, att) um estranho me contou uma dor de amor.
Não sei onde me encaixo
nessa nova onda de relacionamentos interpessoais aflitos. Não sei se eu sei e
nem se eu consigo ser moderninha líquida, mesmo sabendo que o Tio Bauman
esperaria isso de mim. E, não por precisar de qualquer tipo de envolvimento
mais duradouro/estável ("na modernidade a duração era princípio de ação")
porque nunca tive essa “bolação” de tempo e segurança (quando fui um casal
nunca comemoramos datas porque não sabíamos nenhuma delas e nunca ligamos muito
se fazia um ano ou dezoito que estávamos juntos). Acho que decepciono Tio
Bauman porque gosto de poder falar e tenho total propensão a gostar de jogar
conversa fora por aí, conhecer quem não conheço e principalmente por não ter
nenhuma espécie de escudo protetor que me faça querer afastar as pessoas.
Nisso, uma grande queda por homens que não gostam de mulheres que se fazem de
difícil (eu nunca entendi qual é a moral de se esforçar pra mostrar indiferença
a alguém que se dá bola).
8 horas da noite de um dia
cheio de ressaca sendo curada em Satolep. Amor espalhado pela casa, nos
petiscos da mãe, no churrasco que o pai começou a preparar, nos gritos dos
irmãos, na voz do sobrinho falando “tia, tia, tia”, muitas histórias sendo
contadas. Minha mãe perguntou se eu tava feliz. Agora sim, muito.