30 de dezembro de 2006

Terceira pessoa do singular

Antes de Lanna nascer tudo já era programado. A mãe pediu uma “pretinha”, pós dois filhos claros de olhos verdes. Alguém escutou.
Com cinco anos brincava de Playmobil, tinha os cabelos escorridos pelas costas e as bochechas escondiam seu nariz. O irmão teimava em dizer que por isso só respirava pela boca.
Cresceu ouvindo as músicas do pai, suas histórias, suas brincadeiras. Lendo seus livros, procurando ser algo semelhante, ter um pinguinho de sua cultura, sua sabedoria sobre mapas.
Fez-se jovem e já sabia o que queria da vida. Mandar-se daqui para longe, ser livre.
Passou por diversas “fases”, por diferentes amores, difíceis momentos. Aprendeu com o pouco de experiência que tinha que pessoas mentem, pessoas são boas, pessoas vão embora e pessoas ficam, aprendeu que feridas cicatrizam e que delas só tiramos bom proveito (há quem goste de comer as casquinhas, não é mesmo?).
Aprendeu tarde a arriscar, a largar tudo, soltar as mãos, fechar a porta. Aprendeu que tudo isso era necessário, tanto para ela quanto para os que delam careciam. Aprendeu a desconexar tudo, misturar os sentimentos em uma salada de frutas, com muito chantilly.
Mesmo que tardio aprendeu a não voltar aos velhos tempos de si, aprendeu apenas a reconhecer novas Lannas dentre as que a formam. Suas fases se abastecem destas, cada qual com seu momento: Lanna sensível, Lanna forte, Lanna sentimental, Lanna sem vergonha, Lanna braba e tantas outras.
Aos dezesseis anos de idade ouviu o pai cantarolar uma canção, parou por um momento. Jogou os argumentos e princípios no lixo e mudou mais uma vez. Seu bom senso de estética a fez observar melhor ao seu redor, rever a situação, calcula-la como uma boa jogadora de truco.

Sempre foi apaixonada por Reveillon, este a traz em sua mais nova versão, em mais novo estilo e forma, novo conhecimento de mundo e estatísticas. Esta permite ousar e colocar para fora de seus pensamentos o que sempre quis para si. O inigualável.
2007 vem de puro roxo, vermelho, zebra, onça, dourado e o escambal. Vem repleto do estrago, eles têm razão, vem sem medo e sem tempo.

Boa sorte

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

(Seu Collares cantando Chico – Bom conselho)
Bom conselho mesmo Sábio