29 de janeiro de 2014

hoje

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Mariana me chamou e disse: - me diz coisas bonitas da vida? Respondi que preferia que ela o fizesse. Tô mais precisando ouvir que falar. Assumi o silêncio pela primeira vez na vida. Cheguei a conclusão que não quero mais dar satisfação pra ninguém, mesmo que as perguntas sejam por amor, cuidado, preocupação. Será a primeira vez que ninguém vai saber o que penso, sinto, atrapalho, temo, odeio, deslumbro e anseio. Meus dilemas sempre tiveram meio que uma platéia de grandes amigos. Todos eles meio atentos, meio dispersos. Pra todos escolhia uma versão que coubesse no tempo que estavam disponíveis, de acordo com o lugar onde estávamos, se estavam longe de mim, se estavam perto. Em cada versão eu já não sabia mais do que estava falando. Acabava embaralhando as opiniões alheias com as minhas vontades e fazendo um grande mix tipo suco verde de sentimentos. Ficava um gosto horrível e mesmo assim eu achava que aquilo fazia bem. Confiava nisso. Ou, que em algum momento adiantaria pra alguma coisa. Não adianta. Ninguém pode resolver os problemas de ninguém. 

Hoje fui correr às 7:30 da manhã, a rua parecia tão quietinha e vinha um solzinho que ainda não machucava. Pela primeira vez eu senti vontade de não gritar.  

28 de janeiro de 2014

vamos dar um tempo

Só por aquele dia eu casaria contigo. Esqueceria que com mais de cinco minutos juntos nós brigaríamos, que o jeito como tu levanta a sobrancelha me irrita, que não concordamos em quase nada que envolva trabalho, que tendemos a rejeitar os amigos que rodeiam o outro. Por aquele dia eu esqueceria das vezes em que construí as palavras que tu deveria dizer e tu não disse. Por aquele dia eu esqueceria todas as vezes em que saí furiosa pela rua. Esqueceria o dia em que tu me deu um pé. Esqueceria as cenas em que tu foi embora e eu pensei que nunca voltaria. Por aquele dia eu esqueceria que tu reaparecia na minha vida e eu me deixava levar. Por aquele dia eu suportaria o teu jeito cheio de marra, o teu ego lá no céu, o modo como tu acha que as pessoas não são boas o bastante. Boas pra mim. Boas pra ti. Como se nós fossemos grande coisa no meio disso tudo. E também suportaria que tu sempre escolhe as pessoas erradas pra admirar. Por aquele dia eu suportaria saber que tu teve passado e que tu tem futuro e que nada disso depende de mim. Por aquele dia eu não me importaria que tu pensasse que é meu dono e falasse comigo como se debochasse do amor que eu sinto só porque tem esse poder. "Tu não admite, mas tu me ama mais que qualquer coisa". Só por aquele dia eu deixaria de te dizer que tu não é, que eu sou do mundo, que qualquer um pode concorrer contigo e que muitos tentam. Não podem. Por aquele dia eles não podem. Por aquele dia eu confiaria a minha terapeuta a minha vontade de te trancafiar, a minha vontade de te abandonar, a minha vontade de te esquecer, a minha vontade de voltar. Por aquele dia eu aprenderia a expressar os meus sentimentos, a não temer, a me desligar. Por aquele dia eu te confessaria que fui até lá matar os fantasmas que me atormentavam durante todo o nosso relacionamento e que quando vi eles não existiam mais porque fantasma só existe pra quem sente medo. Por aquele dia eu levantaria a bandeira branca, te juraria mundos e fundos, te ofereceria uma vida, segurança, foda e filhos.  

Acontece que o tempo passa. Vai chegar o dia em que já não vamos saber quem que abandonou o barco, quem se perdeu no caminho, quem conheceu outras pessoas, quem trocou a janela de um pra responder a janela de um outro. Vamos virar pessoas de amigos em comum que sabem de notícias esparsas e fingem se importar. A sensação de peito quente que nós sentimos naquele dia vai virar só uma lembrança de um dia bom. E um dia vamos combinar de tomar um café só pra provar que estamos bem, que namoramos pessoas incríveis, que o trabalho é incrível, que estamos ficando ricos, que vamos casar com um fulaninho qualquer chamado Pablo. E o Pablo vai chegar em um sedan de aposentado comprado em 60 parcelas e tu vai dizer que a conta fica contigo. Eu vou ir embora. Tu vai seguir com a tua vida brilhante e cheia de sucesso. 

Porque é isso que o tempo faz quando a gente para de se importar. O tempo passa e leva a vida da gente sem a gente ver. E a gente acha que essa vida automática é boa até o dia de olhar realmente para o Pablo. E aí a gente olha pra ele e vê que de nenhum jeito, em nenhum lugar, nem por nenhum esforço, ele faria eu sentir as coisas que senti naquele dia. 

3 de janeiro de 2014

balanço geral

Um ano novo na praia com chuva. Pedi pra Iemanjá me dar uma luz. Iemanjá do Cassino cheia de cachaça me deu uma força. Porto Alegre aquele calorão. Fiquei confusa. Chorei por amor um Guaíba inteiro. Apareci em revistas. Carnaval no Rio. Se a canoa não virar, olêolêolá, eu chego lá! Eita, quero viver assim! Quase me afoguei bêbada no Leme e vi o Cristo do fundo do mar. Porto Alegre aquele calorão. Carnaval na Cidade Baixa. Chorei um pouquito más. O teu cabelo não nega mulata. Comecei a namorar e manter a casa arrumada. Fui promovida. Tô rica! Gastei tudo. Aprendi a fazer pratos novos com Alecrim. Alecrim para presidente! Fiz 23 cercada de gente fina no junho em que o gigante acordou. Senti vergonha alheia. Fiz uma tatuagem da Dilma no braço (mentira). Ganhei um toca discos. Fui promovida de novo. Tô rica! Salário em discos, comida e um curso de escrita. Gastei tudo. Tirei um siso, tive crise de gastrite, emagreci, engordei, emagreci. Conheci algumas pessoas incríveis fundadoras do Clube da Barganha dos Corações Intranquilos. Terminei meu namoro. Voltei. Terminei. Voltei. Aulas de dança. Salsa, sambinha, coisa e tal. Show do Amarante. Fui pro Rio. Show do Amarante de novo debaixo do sol. Piscina de mar na Barrinha da Lagoa em Florianópolis. Dei piti no avião de medo. Terminamos. Show do Devendra. "Minha filha não aguento mais vou embora de casa". Minha mãe comigo em Porto Alegre. Fiz uma tatuagem de mantra bicho grilo no braço (verdade). Vó morre aos 98. Todos juntos em Pelotas. Vejo a exumação do vô e percebo que meias duram mais que humanos. Tudo parece resolvido por lá. Começo a fazer terapia. Volto a namorar. Vamos morar em São Paulo. Opa talvez não. Taidje me ensina a segurar a cordinha da Good Vibe. Tento aprender. Natal, família, todos juntos, ainda estranho. Mãe desiste de tentar. Um punhado de discussões. Vinho branco gelado. Capotei. Feliz ano novo. 

Tava lendo a coluna do Gregorio Duvivier e quis escrever um resumo de 2013 também. Todas as coisas lindas que continuem lindas. De resto, Iemanjá do Cassino cheia de cachaça vê se me dá essa força.