8 de dezembro de 2013

pra você eu digo: não sei

Aprendi com as mocinhas de filmes que as grandes decisões deveriam ser feitas gritadas na rua com muita certeza e brilho nos olhos. Cresci crendo que o homem que eu amasse se aproximaria, me faria uma pergunta, eu o abraçaria e nós comemoraríamos o meu sim. Talvez eu tenha me dado conta com 23 anos que não sou uma mocinha. Além disso, pode ser que eu tenha descoberto que basicamente não tenho certeza de nada. O que é levemente desesperador.

Nos meus sonhos eu seria aquela mulher pronta pra ir para onde fosse, firme, faca na bota, sem medo de nada, que tem o anseio de viajar o planeta inteiro,que é cidadã do mundo. Eu tenho pânico de avião, de mudanças, de distância, de saudade e principalmente de ficar sozinha. Eu seria a última pessoa no mundo que ficaria realmente feliz em, por exemplo, ir sozinha fazer um intercâmbio ou algo do tipo. E eu realmente me envergonho e falo pouco sobre isso.

Saber que a minha vida vai mudar em poucos dias me fez virar um zumbi que mal fala e chora com pouco. Chorei comendo sushi. Chorei ouvindo Alcione. Chorei na praia. Chorei no quarto. Por todo e qualquer motivo. E não é algo como depressão ou coisa séria. Tenho total consciência da alegria de todas as coisas. É por medo de avião, de mudança, de distância, de saudade e de ficar sozinha e de saber que isso tudo se aproxima.

Porque as pessoas não tem medo do mundo. E as pessoas vão embora porque enxergam nos outros lugares oportunidades pra crescer e tal e coisa e tudo mais. Eu me pergunto até que ponto vale a pena. Mas, elas acham que vale. E eu de cabeça baixa sigo me envergonhando de não ter essa coragem. Me culpo, tento pensar diferente, mas me imagino tendo que pintar as paredes do meu apartamento de branco e sair do Bom Fim e entregar ele pra alguém que não vai valorizar a paisagem da janela. Eu sabia que pelo andar da carruagem ele seria pequeno pra gente e sabia que chegaria a hora que a gente teria que ir pra outro lugar, já tinha pensado nisso e tinha certeza que a parede dos quadros seria cinza. Eu só não imaginei que a opção de dividir a vida contigo seria em uma das cidades mais populosas do mundo.

Se eu fosse a mocinha esperada teria te respondido que SIM na primeira vez que tu perguntou. E não foram poucas as vezes que tu perguntou e pergunta. Mas, eu fico em silêncio pra ver se o tempo volta e tu desiste dessa ideia pra gente seguir com a nossa vidinha pacata. Trabalho, gastar todo o nosso salário no El Tonel, deitar de barriga pra cima de tanto comer carne e prometer que vamos parar de comer tanto. E assim repetidamente. No meu silêncio eu tento me deslocar pra um lugar onde eu não preciso me sentir completamente descontrolada por não ter certezas. Onde a minha vida segue igual sem nenhuma mudancinha. Sem nenhum livro encaixotado.

Alguns amigos me disseram que se eu realmente quisesse não sentiria medo de nada. Eu particularmente não acho que a vida se resume tão facilmente. Nesse tempo eu aprendi a ser cuidada por ti e aprendi muito mais sobre ceder, sobre parceria e sobre amizade. Vi que eu poderia ser a mulher que respira fundo e não se importa que tu chegue bagunçando a casa mesmo que eu tenha acabado de arrumar porque dane-se uma casa arrumada. Vi que eu gostava daquela mulher que eu me tornava. Vi que a vida é real porque tu é real e que a vida que eu sempre projetei de felicidade plena não existe. Vi que eu posso ser uma chata inconstante que se chateia por nada e que se tiver dapavirada não se alegra por nada que tu oferecer. E tu te esforça muita. E tu foi incansável. In-can-sá-vel. Mesmo com todas as minhas cicatrizes. Mesmo com todos os meus problemas não solucionados. Mesmo com tudo tu foi meu amigo e segurou todas as barras que eu dividi contigo.

Talvez pareça falta de amizade eu não conseguir nem responder. Mas, não é. É por saudade já antecipada da tranquilidade de tudo. É medo de não ter certeza de nada.