Aprendi com as mocinhas de filmes que as grandes decisões
deveriam ser feitas gritadas na rua com muita certeza e brilho nos olhos.
Cresci crendo que o homem que eu amasse se aproximaria, me faria uma pergunta,
eu o abraçaria e nós comemoraríamos o meu sim. Talvez eu tenha me dado conta
com 23 anos que não sou uma mocinha. Além disso, pode ser que eu tenha
descoberto que basicamente não tenho certeza de nada. O que é levemente
desesperador.
Nos meus sonhos eu seria aquela mulher pronta pra ir para
onde fosse, firme, faca na bota, sem medo de nada, que tem o anseio de viajar o
planeta inteiro,que é cidadã do mundo. Eu tenho pânico de avião, de mudanças, de
distância, de saudade e principalmente de ficar sozinha. Eu seria a última
pessoa no mundo que ficaria realmente feliz em, por exemplo, ir sozinha fazer
um intercâmbio ou algo do tipo. E eu realmente me envergonho e falo pouco sobre
isso.
Saber que a minha vida vai mudar em poucos dias me fez virar
um zumbi que mal fala e chora com pouco. Chorei comendo sushi. Chorei ouvindo
Alcione. Chorei na praia. Chorei no quarto. Por todo e qualquer motivo. E não é
algo como depressão ou coisa séria. Tenho total consciência da alegria de todas
as coisas. É por medo de avião, de mudança, de distância, de saudade e de ficar
sozinha e de saber que isso tudo se aproxima.
Porque as pessoas não tem medo do mundo. E as pessoas vão
embora porque enxergam nos outros lugares oportunidades pra crescer e tal e
coisa e tudo mais. Eu me pergunto até que ponto vale a pena. Mas, elas acham
que vale. E eu de cabeça baixa sigo me envergonhando de não ter essa coragem. Me
culpo, tento pensar diferente, mas me imagino tendo que pintar as paredes do
meu apartamento de branco e sair do Bom Fim e entregar ele pra alguém que não
vai valorizar a paisagem da janela. Eu sabia que pelo andar da carruagem ele
seria pequeno pra gente e sabia que chegaria a hora que a gente teria que ir
pra outro lugar, já tinha pensado nisso e tinha certeza que a parede dos
quadros seria cinza. Eu só não imaginei que a opção de dividir a vida contigo
seria em uma das cidades mais populosas do mundo.
Se eu fosse a mocinha esperada teria te respondido que SIM na primeira vez que tu perguntou. E não foram poucas as vezes que tu perguntou e pergunta. Mas, eu fico em silêncio pra ver se o tempo volta e tu desiste dessa ideia pra gente seguir com a nossa vidinha pacata. Trabalho, gastar todo o nosso salário no El Tonel, deitar de barriga pra cima de tanto comer carne e prometer que vamos parar de comer tanto. E assim repetidamente. No meu silêncio eu tento me deslocar pra um lugar onde eu não preciso me sentir completamente descontrolada por não ter certezas. Onde a minha vida segue igual sem nenhuma mudancinha. Sem nenhum livro encaixotado.
Alguns amigos me disseram que se eu realmente quisesse não
sentiria medo de nada. Eu particularmente não acho que a vida se resume tão
facilmente. Nesse tempo eu aprendi a ser cuidada por ti e aprendi muito mais
sobre ceder, sobre parceria e sobre amizade. Vi que eu poderia ser a mulher que
respira fundo e não se importa que tu chegue bagunçando a casa mesmo que eu
tenha acabado de arrumar porque dane-se uma casa arrumada. Vi que eu gostava
daquela mulher que eu me tornava. Vi que a vida é real porque tu é real e que a
vida que eu sempre projetei de felicidade plena não existe. Vi que eu posso ser
uma chata inconstante que se chateia por nada e que se tiver dapavirada não se
alegra por nada que tu oferecer. E tu te esforça muita. E tu foi incansável.
In-can-sá-vel. Mesmo com todas as minhas cicatrizes. Mesmo com todos os meus
problemas não solucionados. Mesmo com tudo tu foi meu amigo e segurou todas as
barras que eu dividi contigo.
Talvez pareça falta de amizade eu não conseguir nem
responder. Mas, não é. É por saudade já antecipada da tranquilidade de tudo. É medo
de não ter certeza de nada.