27 de setembro de 2010

Ela me chamava de Quimera

Parte 4 - Sobre o bilhete que não enviei

Eu dizia para gritar meu nome. Implorava para que gritasse meu nome. Ela sorria e dizia: “Que bobagem é essa agora, Quimera?”. Ela me chamava de Quimera porque não conseguia pronunciar meu nome. Quimera era para quem ela cozinhava doces se sentindo bonita vestindo o avental que ganhara da tia. Quimera era o homem que a segurava forte e a apresentava aos amigos que também eram cúmplices. Quimera era uma farsa que ela podia morder. Quimera era o homem que abria a porta do banheiro para fazê-la gargalhar no chuveiro. Quimera era mais uma criação dela e por isso não havia decepção. Porque quando era eu, não era Quimera e porque quando era Quimera não era eu. Nós a fizemos feliz até ela cansar e criar outra coisa. Hoje disseram que ela arranjou alguém. Ouviram boatos de que ela o chama de Sonho. E eu se pudesse mandaria um bilhete ao pobre coitado: “Meu caro, peça encarecidamente para que ela o chame de Realidade”.