11 de novembro de 2012

"escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal"



Dormir só adiantou um pouco pra amenizar a minha cabisbaixisse. Síndrome agude de cabeça baixa. Sentimento gigantesco de “fiz merda”. Sem remédio. Dor agudíssima. Bateram-se portas e mais portas e coisas foram quebradas na minha casa. Janelas que dão pra Tomaz Flores aos gritos. As berros. “PORRA, LANNA, PORRA, PRA QUÊ? TU É A PIOR PESSOA DO MUNDO”. Não há ninguém no mudo pior do que eu, ele afirmava e a certeza dele me fazia ter certeza também. Pra quê? Não sei, pra nada, por pulsar, porque sim, porque aconteceu e ninguém tem culpa por pulsar, por ter coração pulsante, por viver e por beber cerveja demais. Porque sim era a resposta. Simples assim. Simples porque todos nós estamos vivendo e não só existindo. Viver nos deixa muita brecha pra fazer merda. Acredito que Capitu não baixou a cabeça quando ofendida. Olhos de cigana oblíqua e dissimulada. DISSIMULADA. Nunca ninguém soube o erro de Capitu, houve erro? Porque sim era a minha resposta, arquemos com ela. A desculpa era por não ter outra. Se minha resposta é vaga é porque meu coração é grande. E aberto. E porque eu vivo. Sinto muito.

Sentimento de cabisbaixisse. Dor aguda do caramba. Onze da manhã de um domingo no Bom Fim. No meu fone tocava “O velho e o moço” e eu saia do supermercado carregando uma sacola com: água, massa, cigarro e guisado. “Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição”. Sempre tive a total certeza disso. Na minha frente uma senhora caminhava a passos lentos: camisa laranja, cabelo comprido e branquinho quase reluzente preso com um prendedor de cabelo, bolsinha em uma mão, sacolas do supermercado em outra. Caiu. Tropeçou na calçada da Fernandes Vieira. Larguei todas as minhas coisas no chão. A levantei. Perdeu um dente, machucou o rosto. Juntei as sacolas dela, a agarrei pelo braço, vamos pra casa, vai ficar tudo bem. De braço dado comigo contou histórias. Dona Maria, 89 anos, 30 deles no Bom Fim. 30 anos vivendo na Santo Antônio. Ainda acorda aos domingos e faz almoço pra família, mas estava triste porque hoje o filho não apareceu pra almoçar. O filho noivou e agora só quer saber da noiva. Chegamos. Sacolas no lugar. “Minha filha que pessoa boa que és, pode ter certeza que vou rezar por ti, que nome bonito que tu tens”. Ela afirmava com tanta certeza que a certeza dela me fazia ter certeza também.

Chorei. Aos prantos. Não “porque sim”. E sim “porque nós vivemos”. Dois moços sendo inconsequentes. Um velho e um moço. Todos nós que nos encontramos pelas ruas do Bom Fim. Todos nós com o coração meio machucado no Domingo. Não importa. Nós vivemos. Nós estamos vivendo.

"Ganha-se a vida, perde-se a batalha!"