9 de novembro de 2006

O real mundo imaginário

Esta é a história real sobre o mundo imaginário da menina que odiava esperar.

Nasceu careca feito macaco, a família (de loucos) acreditava que fosse um Sagüi. Vingança de Deus, ou não, virou só cabelos. Pretos feito feijão.
Sua impaciência tornara-se característica principal de sua personalidade, e claro, o modo como não conseguira parar de mexer o pé. Não descansava, e seguindo na controvérsia era extremamente sonolenta.
Reza a lenda que em um dia de sol esperou seu pai. E esperou. E esperou. Ela odiava esperar. Ela odiava perder seu precioso tempo, mesmo que o tivesse pela vida inteira. Mesmo que desse não tirasse proveito, porém o era dela, e dela ninguém o poderia tomar.
Furiosa estava a menina, pensando em um milhão de formas para reverter a tal situação. Foi levada ao dentista. “Estes lugares brancos dão calafrios”. Esperou por sua consulta. Leu revistas. Bateu trezentas e sete vezes com sua unha no braço da cadeira. Observou as atendentes, cada qual com seus detalhes, o batom vermelho na boca da moça e seus dedos correndo rápido pelo teclado da máquina, pensou por um segundo na vida e desistiu. “É chato pensar na vida”.
Esperou para ir embora. Perdeu-se entre as ruas da pequena cidade, foi para onde nem Deus sabe o nome. Esperou para gravar um filme. Esperou para ver filmes. Esperou que novamente buscassem-na.
Quebrou a pequena cabeça. Como poderia fazer com que ganhasse seu tempo perdido? Como poderia fazer com que o tempo voltasse? Como viver seus momentos mais desejados sem nem mesmo sair daquela posição?
A menina usou seu artifício mais precioso: a imaginação. Entre estrelas e nuvens brancas criou seu próprio relógio. Viajaria pelo tempo quando quisesse.
Passou a noite olhando o céu, viu o nascer do sol, dormiu segura. Acreditou que a partir deste dia não “perderia” mais o tempo. Descobriu que este a pertencia, e somente a ela, sempre o encontraria e sempre se entenderiam. Pois ela o cria.

E nunca entendem porque a menina se atrasa tanto. Ou porque deixa de ir a certos lugares, deixa de viver certos momentos. Ela tem seu próprio tempo. Ela faz seu próprio tempo. Ela mora perdida em seu mundo de sonhos, porém, segue odiando esperar e vai sempre reclamar da lentidão das pessoas normais...