8 de dezembro de 2012

modernidades


5 horas da manhã. Eu tava esperando um táxi e um cara que eu não conhecia se aproximou perguntando se eu tava triste. "Olha, na verdade eu não sei te responder". Ele disse que tava. Ele se apaixonou por uma mulher e ontem, na festa, descobriu que ela era prostituta. Pra piorar, ela também não quis ficar com ele. Ele chorou na minha frente, na rua, esperando um taxi. E eu, logicamente, chorei com ele, porque eu sou do tipo que chora. "Vai dar tudo bem certo, amores serão sempre amáveis" (e todos os meus mantras e todos os mantras que pudessem confortar).

Encontrei meus amigos de novo, desisti do táxi, disse pra todo mundo que o amor é a coisa mais linda do mundo porque a gente chora a dor de um estranho na calçada de uma festa. Eu não sei se o fato de ter ouvido os problemas do cara ajudaram em alguma coisa e mudaram o rumo da vida dele (vida: esse enorme pote de sorvete cheio de feijão), mas eu passei a ter mais fé no mundo. O Odair José teria ajudado mais. Talvez. Em pleno 2012 encontrei uma pessoa que encontrou um estranho e contou uma dor de amor pra ele. Em época de amor líquido, época de fingir que não se conhece, época de falar pouco (porque falar muito espanta, responder na hora dá bandeira, ser legal configura relacionamento e veja o livro das regras no anexo, att) um estranho me contou uma dor de amor.

Não sei onde me encaixo nessa nova onda de relacionamentos interpessoais aflitos. Não sei se eu sei e nem se eu consigo ser moderninha líquida, mesmo sabendo que o Tio Bauman esperaria isso de mim. E, não por precisar de qualquer tipo de envolvimento mais duradouro/estável ("na modernidade a duração era princípio de ação") porque nunca tive essa “bolação” de tempo e segurança (quando fui um casal nunca comemoramos datas porque não sabíamos nenhuma delas e nunca ligamos muito se fazia um ano ou dezoito que estávamos juntos). Acho que decepciono Tio Bauman porque gosto de poder falar e tenho total propensão a gostar de jogar conversa fora por aí, conhecer quem não conheço e principalmente por não ter nenhuma espécie de escudo protetor que me faça querer afastar as pessoas. Nisso, uma grande queda por homens que não gostam de mulheres que se fazem de difícil (eu nunca entendi qual é a moral de se esforçar pra mostrar indiferença a alguém que se dá bola).

8 horas da noite de um dia cheio de ressaca sendo curada em Satolep. Amor espalhado pela casa, nos petiscos da mãe, no churrasco que o pai começou a preparar, nos gritos dos irmãos, na voz do sobrinho falando “tia, tia, tia”, muitas histórias sendo contadas. Minha mãe perguntou se eu tava feliz. Agora sim, muito. 

5 de dezembro de 2012

deslumbre


Quando já tava nessa cidade há uns seis meses pensei que quando completasse um ano da minha chegada aqui escreveria uma carta endereçada a mim contando como foi. E uma aos amigos que fiz aqui, agradecendo e convidando pra mais alguns desses de histórias pra contar. Aos dez anos aqui ou em qualquer outra cidade que me acolhesse eu leria a carta e lembraria como foi aquele primeiro ano em Porto Alegre. Turbulento. Incansável. De muitas noites sem dormir. Ainda não é dia o dia escolhido pra escrever a carta, mas é final de ano e, se a publicidade agir em mim como deveria, é época de emoções à flor da pele. Por sinal, a frase à flor da pele me lembra que quando era criança ganhei uma “agenda da tribo” em que dezembro vinha com a música do Zeca Baleiro. “Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”. Feliz, ando à flor da pele feliz. Dezembro é meio beijo de novela. Meio propaganda do Zaffari. Onze meses de Porto Alegre.

Eu sempre soube que iria morar aqui. Nunca soube como seria. Perdi muito ao vir e ganhei muito chegando. Uma balança que nunca despencou muito pra um lado ou pra outro. Deixei uma vida de dois, virei um, aprendi em alguns momentos a ser dois de novo, desaprendi. (No livro que eu ando lendo “O que é o Amor” a autora diz que os amantes são sempre ignorantes). Aprendi aqui, sentada vez ou outra no Cantante, a costurar o meu coração só pra poder rasgar de novo. Porque viver é andar por aí rasgando o coração. Ninguém deixa de fazê-lo porque aprendeu a ser mais forte ou mais sábio. E, também não quero, nunca, esse tipo de sabedoria. Aprendi, tomando um “Carioquinha”, a administrar a balança (infelizmente não a do meu peso). Felicidade, dinheiro, gastrite, amor. E, por aí vai.

Dei jeito no que tinha que dar. Troquei lâmpadas. Gritei de câimbra na panturrilha (herança genética que me atordoa e que me traz sentimento de casa) sem meu pai por perto pra trazer Gelol na madrugada. Fui, na maioria do tempo, radiante. Emocionada. Deslumbrada. E o Aurélio diria “que se entusiasma facilmente por algo”. O melhor sentido da palavra deslumbrada. Uma ótima palavra que perdeu o valor nas bocas por aí. Uma ótima definição pra esse tempo aqui.

É terça. E adoro terças. Me vi de frente. Sem fantasia. Me olhando no espelho e pensando: eu passei por isso. Eu consegui me virar. Onze meses conseguindo me virar. Sem deixar nenhum aluguelzinho sem pagar, passando uma semana com apenas alguns trocados na carteira, descobrindo novos lugares que são meus, comprando uma pilha de livros que não tenho tempo pra ler, cultivando amigos e fazendo jantares pra comemorar que eles existem e que sempre se arranja tempo pra eles.
Eu que sempre fui meio descrente de mim consegui onze meses. Sem contar. Acordando e perguntando: hoje é dezembro? Hoje é. Que tempão que passou. E, como passou rápido. E, ainda tem um mês pro dia da derradeira comemoração que certamente vai passar voando e vamos todos gargalhar lembrando daqui a muito tempo. “Vamos celebrar nossa própria maneira de ser”. Desorganizada, quase sempre meio de chegada, quase sempre meio feliz até triste, deslumbrada.

Feliz onze meses, Porto Alegre. 

3 de dezembro de 2012

sei



Não sei se foi a passagem de Mercúrio, não sei se é a chegada do fim do ano, não sei se é felicidade de Natal (porque decidi gostar de Natal, eu e ele acertamos os pontos e resolvemos nos amar), mas eu tô uma mulherzinha. Ontem me peguei no telefone falando um "que amor" mais longo que de costume. Tenho ligado mais para as amigas. Tenho feito mais comentários sobre voltar pra academia. Tenho cogitado comprar uma máquina de costura. Tô querendo pintar a casa, tô pensando em quadros novos pra ela, tô pensando em desenhar em um canto da parede. Chorei vendo um vídeo de casamento que me mandaram. Chorei vendo um vídeo de criança. Só de mulherzice. Uma mulherzice aguda e feliz de fim de ano. Do tipo que fortemente se impressiona com um jantar a luz de velas no restaurante mais bonitinho dessa cidade, com abrir a porta do carro, com locadora e com Smiths. Mulherzices boas que geraram comentários. "Tá felizinha, é?". "Tô, Mercúrio se foi, né?". "Aham, sei". 

23 de novembro de 2012

pequenos términos de mundo


Por volta das 21h30min desta quinta-feira (22), um acidente no quilômetro 3,3 da BR-293, em Pelotas, deixou dois mortos e sete feridos. A colisão frontal entre um Gol vermelho e um caminhão Volkswagen ocorreu próximo ao supermercado Atacadão.

No carro do meu pai só um pneu furado e uma placa amassada. Das poucas músicas que eu sei tocar no violão uma diz: "a vida é mesmo coisa muito frágil". E é mesmo. A vida é muito frágil e tão dizendo por aí que o mundo tá pra acabar. Eu não sei se tá mesmo. Mas, sei que o meu mundo sacolejou, o chão ruiu, o céu ficou cinza, o telefone parou de fazer barulho. "O pai nasceu de novo". Meu pai já nasceu nessa vida umas 4 vezes. Tudo fez menos sentido hoje. Estar nessa cidade. A dor que eu senti no peito ontem. Estar longe. Pra que serve tudo isso? Tudo deixou de fazer sentido hoje. O que eu tô fazendo aqui mesmo? Por que eu nunca aprendi outras músicas no violão? Eu não sei. Só sei que a vida é frágil. Que é um sopro. Que meus 22 anos não são nada. Que se o mundo for terminar mesmo que termine logo e sem aviso. Mas, que não me assuste mais desse jeito. Por favor. 

12 de novembro de 2012

sinto muito

O mais irônico não é isso. O mais irônico é que vou passar a madrugada de segunda executando a escala de atividades minhas que já deveria ter feito. O meu samba acho que é Juízo Final, mas é difícil escolher um. Se tu estivesse por aqui te pediria pra me tirar da enroscada em que me meti. Mas, não. Não está. E, eu também não pediria. Perguntaria do Dirceu, te diria que é necessário assistir ao filme da Tropicália e esqueceria metade das coisas que pensei que gostaria de dividir. Queria mesmo era te contar dos meus problemas e sinto a tua falta. Muito. Sinto muito a tua falta. Sinto muito.

11 de novembro de 2012

"escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal"



Dormir só adiantou um pouco pra amenizar a minha cabisbaixisse. Síndrome agude de cabeça baixa. Sentimento gigantesco de “fiz merda”. Sem remédio. Dor agudíssima. Bateram-se portas e mais portas e coisas foram quebradas na minha casa. Janelas que dão pra Tomaz Flores aos gritos. As berros. “PORRA, LANNA, PORRA, PRA QUÊ? TU É A PIOR PESSOA DO MUNDO”. Não há ninguém no mudo pior do que eu, ele afirmava e a certeza dele me fazia ter certeza também. Pra quê? Não sei, pra nada, por pulsar, porque sim, porque aconteceu e ninguém tem culpa por pulsar, por ter coração pulsante, por viver e por beber cerveja demais. Porque sim era a resposta. Simples assim. Simples porque todos nós estamos vivendo e não só existindo. Viver nos deixa muita brecha pra fazer merda. Acredito que Capitu não baixou a cabeça quando ofendida. Olhos de cigana oblíqua e dissimulada. DISSIMULADA. Nunca ninguém soube o erro de Capitu, houve erro? Porque sim era a minha resposta, arquemos com ela. A desculpa era por não ter outra. Se minha resposta é vaga é porque meu coração é grande. E aberto. E porque eu vivo. Sinto muito.

Sentimento de cabisbaixisse. Dor aguda do caramba. Onze da manhã de um domingo no Bom Fim. No meu fone tocava “O velho e o moço” e eu saia do supermercado carregando uma sacola com: água, massa, cigarro e guisado. “Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição”. Sempre tive a total certeza disso. Na minha frente uma senhora caminhava a passos lentos: camisa laranja, cabelo comprido e branquinho quase reluzente preso com um prendedor de cabelo, bolsinha em uma mão, sacolas do supermercado em outra. Caiu. Tropeçou na calçada da Fernandes Vieira. Larguei todas as minhas coisas no chão. A levantei. Perdeu um dente, machucou o rosto. Juntei as sacolas dela, a agarrei pelo braço, vamos pra casa, vai ficar tudo bem. De braço dado comigo contou histórias. Dona Maria, 89 anos, 30 deles no Bom Fim. 30 anos vivendo na Santo Antônio. Ainda acorda aos domingos e faz almoço pra família, mas estava triste porque hoje o filho não apareceu pra almoçar. O filho noivou e agora só quer saber da noiva. Chegamos. Sacolas no lugar. “Minha filha que pessoa boa que és, pode ter certeza que vou rezar por ti, que nome bonito que tu tens”. Ela afirmava com tanta certeza que a certeza dela me fazia ter certeza também.

Chorei. Aos prantos. Não “porque sim”. E sim “porque nós vivemos”. Dois moços sendo inconsequentes. Um velho e um moço. Todos nós que nos encontramos pelas ruas do Bom Fim. Todos nós com o coração meio machucado no Domingo. Não importa. Nós vivemos. Nós estamos vivendo.

"Ganha-se a vida, perde-se a batalha!"

8 de novembro de 2012

não somos nós, são vocês

A internet é uma doidera boa tão grande que alguns simplesmente não tem bom senso pra desfrutar. Mas, tirando toda a parte ruim, a parte boa me faz feliz como um inteiro. Nesse inteiro, um chat em que minhas amigas estão juntas. Mesmo cada uma em sua cidade. Cada uma em uma cidade, isso sim é uma loucura. Hoje uma apareceu com um papo que fundiu a minha cuca (e eu pude imaginar ela me encontrando e sentando no Monjolo Café, rindo e tirando onda das nossas peripécias). "Então, veja só, depois do amor louco vem ele com um papo de que está preocupado comigo, ora preocupado comigo, preocupe-se com você meu caro, deixe que eu me resolvo". Quem dera o Xico Sá cruzasse vez ou outra com ela na rua. Muitos livros seriam escritos com os conselhos dela. Por enquanto eu sou uma das poucas sortudas que tem aulas de vida com as frases que ela fala. Divagamos muito sobre a tal conversa "pós amor louco" e devaneios sobre a frase "te cuida". Terminei fundindo a cuca e chegando a conclusão que os novos machos estão passando por um momento delicado de responsabilidade aguda. Foram muitos e muitos anos sendo chamados de CANALHAS e sendo, em 90% dos casos, os responsáveis pelas roupas jogadas das janelas, que hoje, quando o jogo do amor não tem mais favoritos aos erros... "Eu não quero te fazer sofrer". Pois, me dê o prazer da livre escolha. "E eu? Quer dizer que não posso te fazer sofrer? Não duvide do meu potencial." Meus caros, comecem respeitando a nossa alegria de ter nascido em uma geração de libertação feminina, em uma geração em que as mocinhas são chatas e geralmente ignorantes quanto as coisas boas da vida, geração que fez a Kelly Key parar de cantar. Não se preocupem com a gente. Saibam que hoje nós temos a total tranquilidade de acordar na casa de um estranho (e tomar café da manhã com ele). Nós vamos nos virar e se deixarmos o sofrimento bater a nossa porta é porque, lá no fundo, é bonito e nos faz viver, melhora a nossa pele e geralmente ficamos mais bonitas. A gente pode simplesmente se distrair se não quiser sofrer. E se quisermos sofrer, nos deixem sofrer, não temam o sofrimento, não temam fazer alguém sofrer, a vida é feita disso. Então, DEIXEM COM A GENTE, meus caros novos machos cheios de responsabilidades. Apenas, por favor, respeitem todos os sutiãs queimados e tratem de tirá-los quando vestidos. Abandonem esses tais " te cuida". A gente sabe se cuidar, meus caros. Se cuidar não deve ser mais difícil do que trabalhar o dia inteiro pra conseguir pagar o aluguel no fim do mês, certo? Libertem-se, machos responsáveis. E nunca, em nenhuma circurstância, acordem dizendo que estão preocupados conosco. Não engrandeçam o ego tanto assim logo de manhã. Engrandeçam outra coisa. 




5 de novembro de 2012

que papinho


Ando numas de fazer coisinhas. Só coisinhas. Fazê-las. Escrevê-las. Inventei que escrevo um diário também. E, veja só, isso me faz escrever mais. Coisinhas. Numas que entro na agonia de ligar pros amigos dizendo que quando chegar no Rio quero espalhar alguma coisa por lá. Cartazes, bilhetes, alguma coisinha pelo Rio, como a gente fazia na faculdade, "tenham idéias, tenham idéias". E ninguém levando muita fé “tá, tá, tá, a gente faz”. Só pelas coisinhas. Criar coisinhas. Tava quietinha lendo e imaginando que cossitas podia fazer por aqui também, sem alegria de viagem, com aquele sentimento de casaaindanãocasa mezzo estranho que tenho com a cidade. Coloquei pra tocar uma música do Tom porque o Tom sabe de coisinhas. E, do banheiro veio uma voz: “porqueee fooooste na viiiida a úúúúltima esperança”. Que momento bonito foi esse. E eu rindo e dizendo “que momento bonito foi esse”. E, a despirocada da Eduarda cantando sem entender nada, “eu nem sei como sei essa música, bonito o quê?, tu é maluca?”. Devo ser meio maluca. Meus amigos me fazem ser mais na maioria das vezes. Por isso essa vontade louca de espalhar coisinhas por aí, cartazes, bilhetes, pinturas, qualquer coisa. Pelo coração aberto. Pra abrir o coração do outro. Colocar pra fora. Fazer com que o outro cante Tom Jobim no banheiro e ache lindo, ou não, ache engraçado ouvir uma voz interpretando uma música triste como se fosse karaokê e de tão engraçado bonito. Arte é outra coisa. Eu sou humilde. Eu só quero fazer coisinhas. Eu quero meus amigos de coração aberto. Eu quero que as pessoas que vejam coisinhas abram o coração. 

4 de novembro de 2012

por um domingo só disso e ócio


E eu tinha dezenas de tarefas (inclusive domésticas das mais urgentes) pra hacer. Que difícil a vida daqueles que postergam (sempre que dá). Embolamos tudo. Bem fazia minha mãe que servia a janta e logo já lavava os pratos e logo já estava tudo pronto e logo já partia pra outra tarefa. Nós (os tais postergadores) nos damos mal sempre. Passamos um dia inteiro fazendo as tarefas que poderíamos ter feito um tantinho a cada dia. Me encontro aqui na frente de um computador que me avisa “FALTAM AINDA MUITAS TAREFAS”. Muitos checks não dados. Me encontro sem concentração nenhuma pra hacer absolutamente nada. Tela em branco. Música ali. Música acolá. Andadinha pela casa. Senta de novo. Olha, o São Paulo fez gol. O pai que passou uns dias aqui (e deu show nas teorias mais diversas) deve estar feliz. E a tela segue em branco. Calor danado na rua, pessoas passando com mate em punho e deixei o meu no sirviçu no pensamento de “amanhã eu pego, amanhã sem falta eu pego”. Não tenho mate, nem inspiração. Só tenho tarefas e tarefas em um domingo calorento onde todos os que não embolam estão na rua desfrutando de seu dom divino de não embolar. Olha, o Fluminense fez um gol. Complicou. Mas, facilmente aceitaria um pedido de casamento do Fred. Passarinho cantou. Pompinha passou perto da janela. O juiz deu quatro minutos de prorrogação. E a vida passando. Nós, os postergadores de tarefas, temos uma facilidade tremenda em aceitar prorrogações e acabamos sofrendo no domingo. Ah, os domingos. Como são cruéis os domingos. 

30 de outubro de 2012

toque de queda


Me convenci que o melhor era aceitar meu motivo justo. Saí do trabalho, passei no supermercado, comprei vinho branco, conversei com a moça, “eles vão conseguir, eles vão acabar com tudo, fui no Bambus e tava horrível, tu nem sabe” (como se não tivesse comentado isso comigo umas 78 vezes e eu 78 vezes com a mesma cara “eles nunca vão conseguir acabar com a boemia, fica tranquila”). Comprei uma taça enorme, acho que se eu me esforçar minha cabeça entra dentro dela e eu vou parecer um astronauta (ou um escafandrista, veja que bem tal semelhança). No vinho tinha kiwi, maçã e laranja, coloquei pra comemorar o verão (ou a primavera, que seja, os moços da previsão que decidam). Ficou colorido, lindo.  A Duda bateu aqui preocupada. Vinho? Hoje? E a academia? Descomplica. É terça, é dia de comemorar o verão (a prima Vera, que seja, que piada horrível). “Ihhh, sei não”. A janela merece. O ventinho quente que bate quando a gente senta nela, merece. “Merece, merece”. A Luísa mandou um link: um site que combina o que estamos escutando com o drink que temos que beber. Deu whisky, era Drexler. Tô um pouco errada. Aqui tem Drexler. E, essa capa é uma das melhores capas de disco do mundo inteiro. Quiçá a melhor, no meu exagero. Uma cama branca, bagunçada, de quem acabou de acordar, amar, ficar junto, só junto, acordando, bagunçando, amando, puxando pra um lado, pra outro, puxando o outro pra um lado e pro outro. Ouvia muito esse disco quando fazia aulas em Porto Alegre. 2010. Que ano puxado. Que inverno do cacete foi aquele. Muitas e muitas noites na rodoviária esperando o próximo ônibus pra Pelotas e pensando “quem dera uma cama branca, gigante, cheia de travesseiros”. E eu nem sabia. Quem dera ficar junto, ouvindo, só junto, acordando, bagunçando, puxando a coberta. Quem dera poder ligar pra avisar que acabou a primeira garrafa e é preciso que traga a segunda. Traz mais uma, vai faltar pra te ver gargalhar! Eu quero te ver gargalhar. Uno no elige de quien se enamora, ni elige que cosas a uno lo hiere, não é mesmo? Mas, tudo bem. É verão (primavera, que seja, que eles decidam). Acabou o vinho. Acabou tudo assim, acabado, no silêncio. Eu que nunca soube lidar com silêncio, silencio. Da janela as pessoas foram deixando de passar, os carros foram indo embora e o silêncio. Silencio. O vinho, meu calcanhar de Aquiles. Talvez o nosso. La noche estaba cerrada y las heridas abiertas. O vinho, meu calcanhar de Aquiles, mandou lembranças no silêncio. Cualquier contrasentido hoy cobra sentido y se vuelve dilema para este corazón anhelante. E, sem a segunda garrafa é fim. Meu motivo justo. Todos os motivos justos. Todos voltam a sus puestos.

motivos justos

Calorão. Início da temporada de sentar na janela. Dúvida cruel se troco academia por passar no super pra comprar uma garrafa de vinho branco pra deixar gelando. Sentar na janela com o livro novo. Beber o vinho em um copo porque minha casa não tem taças. Calorão. Início da temporada de ainda ver o dia no final do dia na minha janela. Início da temporada das florzinhas roxas que ficam caindo na calçada, dos velhinhos que acordam cedo pra dar jeito na bagunça delas, no colorido que elas deixam na rua. Desisti da academia pra comemorar o início da temporada de ser feliz. Viva o calorão! Viva o vinho branco gelado na janela de uma casa que não possui taças! Viva! 

26 de outubro de 2012

não tem de quê

A Rosa veio chorando pela rua. Que Rosa que chora, como chora essa Rosa. Chegou aqui era só orvalho. Ô Rosa. Explica, Rosa. Fala, Rosa. "E por isso não vale chorar", Rosa. Tanto choro era culpa do moço? Era culpa da Rosa? E a Rosa chorando segurando o coração apertado. Fala, Rosa. Conta pro moço, Rosa. Conta pra ele da prova de amor. Conta pra ele, Rosa. Conta pra ele que prova de amor é fazer com que o amor não exista. Conta pra ele que prova de amor é podar o amor. Conta pra ele que prova de amor é cortar o amor pela raíz. Conta pra ele que Rosa que corta o amor pela raíz vive à Deus dará. 

ei você aí

Perdi o cartão magnético que me autoriza a entrar no prédio do "serviço". Uma vez a Camila Morgado, que é chata, mas numa boa entrevista pra Lola disse: se a gente fala "serviço" sai o encanto e entra a vida real (eu não lembro na verdade, mas era algo assim). Perdi como perco várias coisas pela vida. Como já perdi celular, brincos (mais um dos vários motivos que me fizeram parar de usar brincos), dinheiro. Pratico o desapego todos os dias com as minhas colinhas de cabelo, por exemplo. Perdi. Fiquei usando um provisório porque pra conseguir um novo preciso pagar uma nota. Ainda bem que os porteiros me chamam pelo nome e nunca deixam de dizer "bom descanso, Lanna". Hoje acordei cedo, tomei banho, botei pra tocar o Letuce que tinha gostado, deu até tempo de secar um pouco o cabelo. Desci as escadas e em cima da minha caixinha do correiro tava o tal cartão magnético. Ele é todo branco e não tem nome e eu não sei quem foi a pessoa que o achou, nem onde, nem como colocou em cima da caixinha do correio, nem se essa pessoa sabia que eu era atrapalhada e que perco coisas. Só sei que eu fiquei feliz. Ah, e os porteiros também. Obrigada pessoa boa que fez questão de ajudar o próximo. O carma bom vem em dobro! 

22 de outubro de 2012

sobre a Luli e pecados

Quando a gente era adolescente, com uns catorze, quinze anos, por aí, a Luli tinha um apartamento que nós transformamos em um ninho. Era diferente. Ela morava com a mãe e a mãe dela nunca parava em casa. Isso fazia com que a gente tivesse a total liberdade de colocar música muita alta e de nos alimentarmos muito mal. Nuggets, quase sempre. Só ouvíamos as mesmas músicas e os vizinhos cultivavam um grande rancor por aquela baderna. Principalmente o síndico gordo e suado, que era um cara mau. Ficávamos alternando entre o dvd do Tribalistas e Los Hermanos (e a gente se orgulhava muito que "só a gente no mundo inteiro" gostava de Los Hermanos, porque éramos meio imbecis nesse sentido). Desenhávamos nas paredes, escrevíamos poesia, discutíamos sobre amor e sofríamos, sofríamos, sofríamos por amor, mas na maioria das vezes inventávamos só pra poder sofrer mais um pouquinho porque achávamos bonito. Eu até desenhava, veja só. A Luli sempre foi artista. Com a Luli eu aprendi que algumas pessoas simplesmente nascem com a arte no coração, outras não. Acho que nunca disse à Luli o quanto sinto falta de ir chorar no colo dela, me enrolar no edredon da Pocahontas e pedir "Luli, arranca isso de mim". Eu sinto falta, Luli. Eu sinto falta de um tempo que a gente inventava isso pra criar mais bonito, pra chorar ouvindo Los Hermanos. Eu sinto falta. Faz alguma coisa, Luli.  


Falados os segredos calam
E as ondas devoram léguas
Vou lhe botar num altar
Na certeza de não apressar o mundo
Não vou divulgar
Só do meu coração para o seu
Pecado é lhe deixar de molho
E isso lhe deixa louco
Não, eu não vou me zangar
Eu não vou lhe xingar
Lhe mandar embora
Eu vou me curvar
Ao tamanho desse amor
Só o amor sabe os seus
Não, eu não vou me vingar
Se você fez questão
De vagar o mundo
Não vou descuidar
Vou lembrar como é bom
E ao amor me render

16 de outubro de 2012

a descomplicada do Bonfa

Eu gosto da Duda porque a Duda simplifica. A Duda é minha vizinha de porta. A gente mora porta-com-porta. Quando me mudei pro prédio demorei a ver que a Duda morava no apartamento da frente. Um dia cheguei do trabalho e peguei no sono, acordei assustada, atrasada pra um show e sem um puto pra pegar um táxi. Vesti o primeiro vestido que encontrei e bati na porta da Duda pedindo dinheiro emprestado. O que me faltou de vergonha na cara sobrou na Duda de boa vontade. Desde lá era isso, abridor de vinho pra cá, bilhete agradecendo um favor pra lá e de vizinha a Duda passou a ser a Duda que simplifica tudo. Quando a Duda sente vontade de alguma coisa, ela fala, simplifica. Discursa alto, reclama, anda pra lá e pra cá segurando um cigarro, "hoje preciso de um cigarro, só hoje", conta dos casos capengas de amor e faz piada, ri da maioria deles. Quando a Duda quer alguma coisa, segura a Duda. Mas, ela simplifica. Ela não complica. Subindo as escadas teoriza: sim, é lucro, não, continuo na mesma e a minha mesma é boa. A Duda não complica. A Duda me descomplica. E, desde que a Duda virou a Duda que me descomplica, toda vez que vou complicar a Duda abre a porta e diz: só vê se não complica. E, até tento orgulhar a Duda porque ela fala alto e com muita ênfase. Descrente, a Duda que me descomplica as vezes perde as esperanças em mim: tu vai complicar né? Vira, resmunga e bate a porta: vou até fumar um cigarro. Eu gosto da Duda porque a Duda simplifica, mesmo que não consiga. 

14 de outubro de 2012

ora pois



Acabei de receber um email de uma amiga que está em Portugal. Que coisa. Amigos espalhados pelo mundo. Que saudade dos meus amigos todos juntos, todos na mesma cidade, mesmo que nós não nos víssemos todo dia. Que coisa. Que pensamentinho de gaiola. Foi o mundo, então, que cresceu? A gente cresceu. Ela estava feliz, impressionantemente feliz. Imaginei as ruas que ela descrevia, os prédios, ela toda artista fotografando, se inspirando, vivendo, criando, embelezando o mundo. A maioria dos meus amigos embelezam o mundo. Deve ser por isso que tenho tanto orgulho deles. Deve ser por isso que tenho tanto orgulho dela lá. Ela que sempre disse que ia e foi. E só avisou, “to indo”. Que coisa. Que lindo. Ser livre assim. Que lindo ser livre assim, que lindo crescer assim, que lindo embelezar o meu dia com um email assim, que lindos são os emails longos. Que lindo. Que linda! 

13 de outubro de 2012

tudo sobre minha mãe


Desde que sai de casa passei a ter saudades antigas (porque existe a saudade nova, aquela de tempo recente). Não tenho muitas saudades do meu quarto (que virou quarto de hóspedes), por exemplo. Nem dos vinis do meu avô que ficavam espalhados nas paredes, nem dos quadros da Audrey, nem de sentir medo de ir até a cozinha porque tinha que andar o corredor inteiro. Não. Minha saudade ecoa em coisas específicas, como a mão da minha mãe. A minha mãe tem a mão mais bonita que já vi. E sei, porque reparo em mãos. Muito. A minha saudade propagou nas mãos da minha mãe fumando Benson Mentolado, nos tempos em que ainda era bonito fumar. Meados de noventa. Tenho a cena gravada. Unhas compridas, esmalte sempre clarinho, dedos finos e longos, o tal Benson Mentolado. Quando ela se expressava gesticulava com a mão bonita segurando o cigarro entre os dedos e acabava ficando numa moldura de fumaça. Minha mãe fumava bonito quando ainda era bonito fumar porque o fazia devagar e porque tinha a mão mais bonita que já vi. Todos na sala ficavam olhando pra ela. Os dedos compridos. O esmalte clarinho. Quando lembro dessa cena sinto falta do cafuné da mãe mais bonita que eu já conheci. Sinto saudade da mão da mãe mais bonita que já conheci. E é quando não aguento de saudade e acabo dormindo no quarto de hóspedes. 


11 de outubro de 2012

conselhos da moça loira do salão

- Tem que ser queridinha, mas não muito, senão acostuma mal. Tem que se mostrar braba também, mostrar quem manda. Sem essa de ficar sempre fazendo as vontades. Te faz de difícil, mesmo que as vezes tu queira fazer alguma coisa, te abstêm de fazer só pra mostrar que não tá aí, esperando. E, não, nunca, jamais, liga. Se ele quiser vai ligar. Se tu quiser vai ficar esperando. Mas, eu não te diria pra ficar esperando, se tiver esperando, por favor, finge que tá ocupada. Isso serve pra mensagens também. Por sinal, não esquece da regra da comunicação: máximo duas tentativas. Podem ser duas ligações, ou duas mensagens, ou uma mensagem e uma ligação. Se ele tentar se comunicar com mais de duas tentativas, minha querida, é chato. É batata. Daqueles grudentos, pegajosos, eca. Sai fora. Ele precisa ter bom senso. E tu também. Bom, daí se ele se comunicar tu manda uma mensagem. Ele responde. Mas, não dá muita bandeira. Responde o básico. Não te mostra desesperada e nem conta os problemas do teu dia. Sem problemas, os problemas são teus, não dele. Senão vira aquele tipo de mulher problemática que senta na mesa do restaurante e já sai logo contando um problema. Homem odeia problema. Ah, importante, sempre tenha os reservas, eles são essenciais. Valoriza os reservas. Uma conversinha aqui outra acolá. Que daí dá pra fazer um ciuminho. E fica sempre bonita, né gata?, unha feita, cabelo arrumado, rímel, depilação em dia. Faz uma academia também, né, porque... por favor. Mas, assim, te coloca sempre em primeiro lugar. Tem que se valorizar. 

- Depois de ser queridinha eu tinha que fazer o que mesmo? 

8 de outubro de 2012

"e o próximo instante, eu sei, é quase lá"


Insoniazinha desgraçada que apareceu por aqui. Fazia tempo que não tinha uma insônia dessas. Andei pela casa, abri a geladeira oito vezes e nada apareceu, não gostei do filme que passava na Globo, quis escrever pra alguém, desisti de tudo. Resolvi ler as coisas que eu escrevia há um tempo. Acho que uma das melhores ideias que eu tive na vida foi fazer o blog. Se dependesse da maneira como eu guardo as coisas que escrevo, certamente não teria mais nenhuma lembrança em papel. Onde será que foram parar os meus cadernos? Será que alguém os leu? Será que reciclaram? Será que eles viraram novos papéis e agora alguém escreve neles? Bonito, seria bonito. Daí que me dei conta de que a maioria dos meus dilemas envolvia TEMPO. Eu tinha dezesseis e falava sobre a dor do tempo passar. Que paranoia com o tempo e eu nem compartilho dos medos femininos de ver o tempo passar em mim. Fiquei atordoada com essa grilhice de tempo passar, de perder o tempo, tempo, tempo, mano velho. Me dei conta também de que, em 2012, temi os vinte e dois. Loucura com o tempo. Eu deveria ler alguém que me tirasse da cabeça essa coisa. Ou deveria pintar um quadro com um relógio derretendo e fingir que sou Dali e provar pra mim e pra todo mundo que odeio relógios. Se nesse quadro o relógio tivesse um inimigo esse inimigo seria o amor. Vai ver é isso. Vai ver eu era uma adolescente que não gostava do tempo porque ele era o inimigo do amor. Vai ver eu era uma adolescente que pensou demais nisso e bebeu cerveja de menos. Eu devia ter bebido mais cerveja pra não prestar atenção no tempo, pra pensar menos no amor. Eu deveria ter deixado eles se entenderem sozinhos. 

7 de outubro de 2012

"votar sou eu querendo ser nós"


Lá em casa todo ano de eleição era bem agitado, com direito a muita discussão, carreata, comício, bandeira, adesivo, atenção no horário eleitoral, meu pai voltando com alguma novidade que escutou na esquina do Café Aquários. Nos tempos de eleição eles ficavam mais cheios de vontade, minha mãe ficava mais ocupada e meu irmão fumava mais. Nos domingos de eleição todos nós ficávamos na sala esperando a contagem dos votos, eles tomavam cafezinho, ansiosos e eu, no meio, desejava ter dezesseis anos pra poder participar daquilo. Por vezes tinha festa da vitória com choro emocionado, por vezes eu ficava triste porque via meus pais desesperançosos. O que eu via era esperança e entendia o que aquilo representava. Mal sabia de qualquer coisa da vida, mas entendia. No meu olhar infantil tinham os malvados e os bonzinhos (os quais transformariam o país em um lugar melhor pra se viver). E, claro, os meus pais estariam ao lado dos bonzinhos, sempre. Um dia eles desistiram. As bandeiras foram desaparecendo, os adesivos foram deixando de ser colados e assim por diante. Depois de um tempo consegui perceber que foi um sentimento que envolveu muita gente. Não só lá em casa. O que incomoda mais.
Hoje é domingo. Dia de eleição. Tive que justificar meu voto, o que doeu, a sensação foi de colocar toda a esperança em uma sacola de lixo e assinar. Não tem todo mundo na sala esperando a contagem de votos, não tem cafezinho, não tem festa da vitória, não tem partido, não tem lado, não tem malvado e não tem bonzinho. Tem um fiozinho de esperança nos meus grandes amigos que entraram na política e nos meus amigos que se esforçaram em permanecer atentos nas eleições de Pelotas e que, em sua maioria, me pareciam firmes na ideia de mudança. Tem um fiozinho de esperança naqueles que nem conheço, mas que levantaram a bandeira do amor em São Paulo. Tem um fiozinho de esperança na nossa geração. Fiozinho de esperança que, pelos meus pais e pela vontade de ver a melhora do país que sempre vi nos olhos deles, espero nunca perder. O Galeano disse e nesse domingo vou ficar mentalizando: “Esse mundo de merda está grávido de outro”. 

12 de setembro de 2012

a falha de Toninho

Eu pego uma roupa emprestada e derrubo mostarda, compro um colar e perco uma pedra, tento fazer um andar sensual e tropeço. Essa sou eu e já aceitei. Deve ser por culpa desse jeito que nunca soube lidar muito bem com quem faz o tipo "jogo de sedução" (nome de música de pagode) ou com pessoas que não são simpáticas logo de cara. É que se eu fizer logo amizade posso ficar suja de mostarda, perder uma parte do colar e tropeçar que não vou me sentir mal. Fica tudo em casa. Toda essa falta de coordenação se reflete em qualquer tipo de relação amorosa. Aceitei, não levo o menor jeito pra isso. Tentei. Vai ver daqui um tempo eu aprenda, ou sei lá, eu posso adotar gatos. E o mais hilário é que nasci no dia de Santo Antônio. Tá perdoado, Toninho, sei bem como é ser atrapalhado. 

Quando eu morrer não quero choro, nem vela. Apenas peçam ao Selton Mello pra fazer um filme engraçadinho da minha vida.  

4 de setembro de 2012

fé no tempo

Tentei escrever, mas me dei conta de que qualquer palavra se voltaria contra mim e explodiria aqui dentro e meu coração se despedaçaria em tantos pedaços que nem a cola do tempo colaria e, aí sim, tava tudo perdido. É melhor tentar criar pra fora. Que isso tudo exploda em outro lugar. E eu... fico aqui quietinha esperando passar.

http://180cartazesprasairdafossa.tumblr.com/

30 de agosto de 2012

pois o menino voltou




-Eaí, me conta. 
-Já te deram um "caldinho"?
-Um "caldinho"?
-É, um "caldinho", quando alguém tenta te afogar de brincadeira. Coisa de irmão, bobagem.
-Ah, já, claro.
-Uma vez o meu irmão me deu um "caldinho" sem noção. Eu engoli muita água e saí cambaleando do mar. Tossi, cuspi água, foi foda. Fiquei mal pra caramba. 
-Tá, eai?
-Quando as pessoas tentam te dar um "caldinho" tu só tem um objetivo que é voltar a respirar. Tudo isso foi uma mistura de volta de "caldinho" com soneca que se estende até umas 21h e a pessoa acorda perdida e quando a gente faz uma coisa no modo automático - tipo quando tu fecha o carro, entra em casa, volta na rua pra ver se fechou o carro mesmo e já tinha fechado. Eu voltei a respirar ainda meio perdida e preciso aceitar oito meses de vida levada no modo automático. 
-Entendo, as vezes eu me sinto assim em festas, só que daí eu tô bêbada. Diz aí, tá feliz? 
-Tô bebassa de felicidade. 

27 de agosto de 2012

e não me venha com a Simone

Quando eu tinha uns 17 curtia muito a Martha Medeiros (eu também li vários livros do Paulo Coelho com 14 e tô aí, vivona). Eu curtia tudo o que ela falava, me identificava, o Divã era feito pra mim, nossa, a Mercedes tinha problemas amorosos como os meus e tal e coisa. E eu sofria e chorava e escrevia e-mails longos e o meu blog tá aí pra provar a minha chatice. Foi importante pra mim. Importante mesmo. Textos legais organizando o pensamento de uma quase mulher querendo ser mais mulher do que era. Daí o tempo foi passando e eu fui abrangendo a lista dos livros da vida, e gradativamente fui deixando a Martha de lado. Desculpa, Martha, e obrigada por tudo. O lance é que tenho visto as Marthas se multiplicando. Várias Marthas em vários blogs só seus, com liberdade de expressão pra serem exatamente quem são. Mulheres REAIS, com problemas REAIS, que SOFREM quando querem SOFRER e CHORAM quando querem CHORAR. Em caps porque elas são mulheres incisivas e decididas e comandam suas próprias vidas e são donas do seu próprio nariz e zzzzzzzzz. Tá. Daí eu comecei a olhar pra isso com um olhar mais crítico. As novas Marthas têm sempre uma "urgência de viver", pra elas a vida é muito "intensa", pra elas ou "mulher nenhuma precisa de homem" ou elas vivem o maior amor da vida e sofrem muito por isso. Elas são meio parecidas. Ao que me parece, as novas Marthas tão vivendo o auge dos seus 17 só que lá pela casa dos 30. Engraçado, o melhor texto que li nos últimos tempos falava que só os malas ficam dando opiniões e juro que não tô opinando sobre as Novas Marthas Blogueiras de Sucesso. É mais um questionamento. Se o nosso universo cresceu tanto, por que as autoras que tão fazendo mais sucesso são aquelas que falam sobre os mesmos dilemas que a gente tinha, quando adolescente? Sei não. Tô precisando de alguma outra autora pra dar uma organizada nos meus pensamentos.

dane-se o cavalo branco e os grilos

horto sessions #5_nina becker & marcelo callado from horto filmes | clara cavour on Vimeo.

Quando penso nele vem a imagem de um chão de parquet claro e o sol entrando pela janela. Que doidera isso de pensar em alguém e ver imagem de coisa. Faz tempo que tô com essa imagem fixa de casa que se misturou com os pensamentos que envolvem ele. Tô chegando a conclusão que depositei nele toda essa vontade de ver o sol entrando pela janela e batendo no parquet claro de uma casa com poucos móveis. Acho que sempre que eu pensar nele essa ideia e esse sentimento de salvação vão me atormentar. Ele chegando de camiseta do Botafogo e deitando do meu lado no chão, no parquet, me salvando de todos os males e esmagando a agonia desse interlúdio interminável. Nos meus pensamentos eu seria muito feliz nesse lugar. Eu sorrindo e o sol batendo. O sol batendo e eu sem sofrer porque não teria lugar pra despedida, só chegada. Quando penso nele me imagino sorrindo. 

Não tem parquet e chove. A minha memória me prega peças e o tempo sacaneou com tudo. Já não sei mais quem é aquele que existe, aquele que existia, aquela bola verde que por vezes manda notícias e o homem do parquet claro com sol batendo. Meu príncipe do parquet claro e sol batendo. Por onde andas? 



("Descanse um pouco e amanheça aqui comigo...")

15 de agosto de 2012

notícias da janela

Estão mudando a cor do prédio que fica na minha janela. Era amarelo. Agora é branco. Não sei se é uma base pra ir outra cor em cima, mas por enquanto é um grande prédio antigo e branco. Eu ia gostar se ficasse assim. Tá bonito. O mesmo velhinho curioso segue na porta do prédio ao lado, segue também com a cara de ranzinza. Não deve estar entendendo o porquê dessa balbúrdia toda. Garanto que logo ele toma alguma providência. Mais informações sobre esse capítulo em seguida.


(aqui toca Mautner) 

10 de agosto de 2012

pra "lá"

Um dia, quando der, vou até "lá" e escrevo sobre tudo isso. 

8 de agosto de 2012

cadê a aventurice?

Hoje li uma frase que dizia: "cadê a aventurice?". Comecei a pensar sobre isso. Eu achava que se eu dissesse: VEM VAM'BORA! Receberia uma resposta do tipo: PARTIU, SIM'BORA! A VIDA É CURTA POR ISSO CURTA A VIDA! (tinha isso escrito com errorex no banheiro do meu colégio e eu achava incrível). Só que não é assim. Eu esqueci que o tempo passou e que agora as respostas demoram horas pra chegar. Esqueci que agora eu sou "Lanna". Será que a gente virou bunda? Careta? Que medo. Era o meu maior medo. Sempre foi, eu acho. Virar bunda. Vou ficar com isso na cabeça. Vou olhar um casal bunda e pensar que preferiria morrer a olhar assim pra gente. Vou olhar pra eles e pensar: se ele quisesse pular daquela cachoeira de novo, dessa vez eu deixaria, pularia junto, sei lá, não brigaria com ele porque ele pulou de uma ponte só com uma corda na cintura. Porque ele sempre foi meio maluco e se a gente virou bunda a culpa foi toda minha. A culpa foi toda minha. De tudo. Mas, põe aí na mochila grande toda nossa aventurice e vam'bora.



26 de julho de 2012

meu peito é de sal de fruta


Da trilha sonora de hoje: http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=KruHDD1xaXs&NR=1

25 de julho de 2012

mudanças de todos os hábitos


A mudança de hábito começou pelo desktop. 

24 de julho de 2012

café pra um

Tem uma música da Nina Becker que fala de saudade e que diz "meu café tem gosto horrível". Eu também descobri que o meu café é horrível e eu não consigo lembrar qual era a marca que tu comprava, nem quantas colheres tu colocava, nem quanto tempo tu deixava passando. Eu não sei no que eu tava prestando atenção em todas as vezes que tu passou café, mas devia ser alguma bobagem. Acho que pro resto da vida eu vou tomar "café do padre" (vou seguir levando todos os ingredientes à mesa nos almoços de domingo lá na mãe) e a minha casa não vai ter cheirinho de café passado. Ou, pode ser que um dia eu, simplesmente, consiga. Vai ser um grito de independência. Vou te mandar uma mensagem: "hoje tenho certeza que tô sabendo me virar sozinha". Mas, ainda não sei se vai ser um dia bom ou um dia ruim.  

23 de julho de 2012

três amores








Três amores de uma segunda em que eu quis que fosse verão.

18 de julho de 2012

take it easy my brother

Quando eu cheguei aqui não pensei muito sobre a logística de certas coisas. O plano era o seguinte: eu acordaria atrasada, colocaria meus fones, me despencaria pro trabalho, no caminho amaria a cidade mais um pouco, na volta passaria no super, iria pra casa, colocaria água nas plantas, escreveria umas bobagens, faria umas comidinhas e viveria a minha vidinha. Tava tudo feito, tava tudo perto e não tinha muita chance de erro (porque se tiver que dar errado vai dar errado comigo, é meu estilo de vida). Só que domingo ocorreu o choque da desordem. Eu fiquei doente. Em seis meses eu tive a minha primeira grande crise de gastrite. Daquelas. Pra acabar comigo. Pra dar um tapa na cara da ordem da desordem da minha vida. Fazia tempo que isso não acontecia. Acho que eu aprendi a viver com a gastrite e ela aprendeu a viver comigo. Eu fumava, eu tomava café e coca-cola. Ela me dava um alô quando eu ultrapassava no nervosismo. E, "assim íamos vivendo em paz". Desde domingo ela rompeu comigo como uma Amélia enfurecida. E agora... eu não sabia o que fazer. O Omeprazol não bastou, a Magnésia não bastou, comer de hora em hora não bastou, dormir igual um caracol não bastou, deitar no chão da sala e acender incensos não bastou. Fui pro google procurar por "hospitais", perguntei aos amigos, fiz o auê necessário. "Onde tem pronto atendimento nessa porra?". A essa hora eu já odiava tudo que fugia do meu controle e, em transe, me imaginava arrancando a cabeça do segurança da Unimed que me avisava: "aqui fecha às 19h, moça". Daí, eu chorei. Chorei porque "queria a minha mãe", chorei porque eu, em sonho, podia sentir o Omeprazol+Buscopan entrando na minha veia com sorinho e cama de hospital e chorei porque o ônibus tava demorando pra cacete. Passei no super, comprei pão, voltei pra casa, coloquei água nas plantas e em forma de caracol escrevi umas bobagens. No meio disso tudo eu dormi. Acordei hoje sem dor. Atrasada. Mas, sem dor. No meio disso tudo... passou. Acho que era um aviso. "Take it easy my brother". Eu prometi que passaria a semana sem café e não fumo há exatos 13 dias. Voltamos a nos dar bem. Voltamos a viver em paz. E, hoje no caminho pro trabalho voltamos a amar a cidade. 








9 de julho de 2012

hay que llorar y jamás perder la ternura


Quando tô cansada eu choro. Não brigo com ninguém, não xingo ninguém, não reclamo pro vizinho que ele não tranca a porta do prédio e, de olhar marejado, sigo batendo papo com a caixa do supermercado que ouve meus problemas amorosos. Entro no banho e choro. Sento na cama e choro. Dobro algumas roupas e choro. Mas, passa rápido. É um choro só pra extravasar mesmo, só pra sensação de "dor do mundo" (que eu inventei) ir embora de mim. Daí a dor vai embora e fica só o sono mesmo. Durmo, acordo e nem lembro porque tô com a maquiagem borrada. Acho que se as pessoas aderissem a essa terapia nós teríamos um mundo com menos acidentes de carro e atendentes de loja de mal com a vida. Taí, vou lutar por um mundo em que as pessoas chorem mais. 

6 de julho de 2012

2 de julho de 2012

sobre poesia e sorte



"Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi"

O Oswaldo de Andrade disse isso e eu fico pensando: o que será que ensinei pra vocês? Porque eu poderia ficar só ouvindo e aprendendo. Tenho vontade de ficar invisível pra ver como vocês tão levando a vida sem a gente, numa casa sem grito, sem bagunça, sem cabelo no chão e com um neto. Queria ficar olhando e aprendendo durante um tempão. Queria olhar e aprender como é levar essa vida torta e sem projeto que, entre tangos e barrancos, rega a felicidade há tanto tempo. Porque alguém que nasceu do maior amor do mundo deveria ser só aprendizado. Tenho vontade de sair de fininho e deixar um bilhete: "Aprendi com vocês que a poesia é a descoberta de todas as coisas que vi aqui". E, com uma nota de rodapé: "Espero que os meus filhos tenham a mesma sorte". 

29 de junho de 2012

28 de junho de 2012

do intervalo


Entre uma espera de aprovação e outra, um cartazinho da trilha sonora do dia.

27 de junho de 2012

26 de junho de 2012

pra não esquecer que tive uma ideia

Coloquei meu colchão na "sala" e resolvi dormir no chão. Não sei, talvez pra ver a casa por uma outra perspectiva. De visita, talvez, sei lá. Espalhei todas as coisinhas que peguei no final de semana, jornais, folhetos, flyers (que a gente põe na bolsa e nunca mais vê) e li, anotei os cursos legais que queria fazer, as oficinas, os shows, coisa e tal (mas acho que vou esquecer de tudo). Li as revistas que comprei. E, no chão, acho que tive uma ideia. Acho que tive uma ideia e acho que vou convencer as minhas amigas a entrarem nessa comigo. Um projeto mulherzinha, nosso e debochado (sintoma ex-bbb que precisa sempre de um "novo projeto"). Se elas perguntarem o porquê dessa coisa toda eu vou começar assim: coloquem seus colchões na sala pra me ouvir... 


a trilha do chão:









25 de junho de 2012

mergulho








  














Final de semana pra mergulhar na cidade que agora é a minha. E olhar. E amar, cada vez mais.

21 de junho de 2012

das notícias


(ouvi essa música umas 876 vezes hoje) 

Tô me "amarrando" no livro que tô lendo. Era pra ser uma revolução na praia, mas foi em mim mesmo.      Tô com uma nova que são as gírias desse livro, do tipo "fundir a cuca", tô curtindo "pacas". Tô escrevendo muito num caderno que ganhei. Era pra ser um presente normal, mas virou um porta-desabafos que levo na bolsa (antes eu escrevia em um monte de caderninhos que sempre acabava perdendo, lembra? Um dia eu vou colocar vários desses pensamentos no blog, eu gosto do blog, curto ler algumas coisas que eu escrevia em outros tempos). E, ah, eu vou falar muito sobre esse livro ainda. Tô querendo começar um curso de arte. Era pra voltar a desenhar, sinto saudade das aulas de modelo vivo, eu achava a maior "onda". Tô ansiosa e quero pintar a minha casa de "azul ideal", eu vou pintar um metro quadrado de parede e vou ficar com preguiça. Era pra dar uma mudada no clima, um alto astral, cansei do cheiro de incenso, mas não sei se vai dar certo. Tô muito feliz que as malucas tão chegando por aí, tá rolando um monte de exposição "maneira" e a Laurinha quer fazer uma sessão de fotos, a Erika vem tirar o visto pra "dar no pé" e ir pra Portugal e a Paula já trouxe mala e cuia. Todo mundo tá sempre um pouco "indo", né? "Bicho, que maluquice isso". Tô aí. Não sei por onde tu anda, mas achei que deveria mandar notícias. Um beijo

14 de junho de 2012

22 + todo o resto

Fiz aniversário e não ganhei nenhuma ruga, não fiquei com dor nos joelhos e (infelizmente) não me tornei uma pessoa mais tranquila. Recebi um bocado de abraços, muitas mensagens, uma penca de ligações, vários presentes, algumas festas, um bolo em formato de coração e muito carinho. Vinte e dois. Os vinte, daquela comemoração que encasquetei que não tinha roupa pra ir e fui vestindo uma camiseta velha do Strokes, que a gente tomou um porre e bebeu água da torneira de um posto de gasolina e que cheguei com a camiseta toda suja, mais dois. Os dezoito, mais quatro. Os dez, mais doze. Os dois, mais vinte. Vinte e dois. Fiz aniversário e não cresci. Mas, me senti como quando a gente tá indo pro Uruguai e em determinado momento a estrada vira uma pista de vôo. Acho que é isso. Vinte e dois mais uma pista de vôo. Vinte e dois mais uma vida inteira pela frente. 

11 de junho de 2012

frames de um domingo








A vida me deu dos bons. 

9 de junho de 2012

Reflexões de uma gripe


 “Tá tocando Jota Quest, fica tranquila e vê se melhora”. Recebi essa mensagem a uma da manhã, de uma amiga que sabia que eu só queria estar bem e ouvindo música boa. Sai do trabalho saltitante, coloquei meus fones, voei em casa, peguei minha mala e fui direto ao encontro dos meus amigos. Só que deu tudo errado. Foram três horas e meia de muito sofrimento. O moço que sentou do meu lado já não sabia se me acudia, se me oferecia uma água ou se só me garantia que ia ficar tudo bem mesmo. Levanta, senta, caminha pelo ônibus, dói aqui, dói ali e um mal estar que nunca ia embora. Nisso, baixinho, eu já recitava: “descansem o meu leito solitário, na floresta dos homens esquecida, à sombra de uma cruz e escrevam nela: foi poeta, sonhou e amou na vida”. Tá, não foi dessa vez que eu morri e eu nunca fui poeta. Era só gripe mesmo ou o tal “rotavírus”, seja lá o que isso for. Ou, de acordo com o Seu Jeco: “isso é o frio que tu tens passado, nunca vi sair de casa pra passar frio”. Perdi o samba, mas ganhei a história sobre o junho mais gelado que meus pais já vivenciaram: o tal de 1990. Perdi o samba, mas ganhei a possibilidade de ver o documentário do Woody Allen no Telecine Cult (saudoso Telecine Cult) e seguir com o meu preconceito. Perdi o samba, mas meu drama acarretou um belo fogo na lareira e muito mimo. Fiquei tranquila, e ó, desse jeito vai ser facinho melhorar.

Acordei sem força nem pra caminhar, mas tinha compromissos a serem compridos. Bobagem. O compromisso era comigo mesmo e poderia facilmente ser adiado. Mas, não. “Levanta, bamboleia, sacode a poeira e vai pro dia de beleza que tu tinhas marcado”, foi o que minha consciência me disse, e eu, em um ato difícil de ser visto, escutei. Lá estava a doente, sentada em frente ao espelho, ouvindo que o Maicon não valoriza a fulana, que o Kléber só sabe olhar pro seu próprio umbigo e pensando: gente, que tal uma marcha pelos novos assuntos no salão? Peguei minha revista e parei de dar pitacos nos relacionamentos alheios. Eu assino a Lola há um tempão, só que leio sempre com um delay porque chega na casa da minha mãe e tenho preguiça de pedir pra mudar o endereço. Resolvi assinar porque talvez seja uma das poucas revistas femininas que fale da grandeza do universo feminino e não seja um passo a passo de como dominar seu homem na cama. A edição desse mês foi como a primeira vez que vi Ipanema. Não tem nada a ver, eu sei. Mas, é uma sensação de que tudo aquilo poderia ser escrito pra mim, pra eu ler em um salão com alguém falando sobre seus problemas com o marido ao fundo. Ipanema foi mais ou menos isso, eu mais ou menos já me sentia parte de tudo aquilo quando cheguei lá. Uma das matérias mais legais (difícil escolher) chamava “Tudo muito demais” e quis xerocar e deixar embaixo da porta de cada amiga minha. Era simples e falava sobre nossa visceralidade, sobre o nosso dilema em ser tantas ao mesmo tempo e sobre como a gente se autocrítica facilmente. Mas, uma coisa me chamou a atenção “Fazer drama, inclusive através do nosso vestuário, é a nossa vingança! Quando ocorre o drama é que soltamos os nossos fantasmas, os bichos, as inconsciências”. Achei isso tão verdadeiro e tão lindo que, além de me tornar uma leitora mais fiel, de bandeja ainda disse a moça: veste um vestido bem bonito e dá logo um pé na bunda do Maicon.

Perdi meu celular na rua. Cheguei em casa recitando o mantra “Lanna fazendo Lannices” e me culpando, muito, por ser assim tão desastrada. Uma pessoa em uma parada de ônibus achou e me devolveu. Se o meu mundo não é feito de cetim, eu não sei do que é. 

5 de junho de 2012

mirando


Liniers Animado - Bonjour: Un Ósculo Suyo from GAZZ.TV on Vimeo.



Liniers Animado - La Vaca Cinéfila from GAZZ.TV on Vimeo.

O Liniers só não mora no coração de quem não deixa.

“Pois é, não deu.”


Toda pessoa que faz a pergunta “e vocês?” não sabe que toda vez que escuto essa frase tenho vontade de arremessar uma garrafa na parede. Não porque a pergunta não faça sentido, mas porque existe uma aura de descrença, de “modernidade líquida”, de história de relacionamento raso que a gente comenta sem se aprofundar, porque eu teria que explicar muita coisa antes de ousar falar qualquer coisa sobre a gente. Toda pessoa que me faz essa pergunta não para pra pensar nas noites sem dormir, nos filmes que deixei de ver, nas músicas que deixei de ouvir, nos bares que deixei de me sentir feliz, nas ruas que não consigo passar, nos emails que escrevi aos amigos, nos porres que tomei pra esquecer. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que não existiu a cena de ir buscar as minhas coisas na casa dele porque já não existia mais o espaço que era só dele e que não era meu também. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que a gente dividia uma vida e o mesmo teto e que, como de praxe, era tempo dele fazer a mala e ir embora e ele foi e tudo mudou. Acho que perdi as contas das vezes que vi ele fazendo a mala e até hoje não gosto de malas, nem de aeroportos, nem de despedidas. Eu odeio todas as despedidas e acho que é por isso que não consigo dormir cedo. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que um dia fiz uma mala também, que fui embora, que por algum tempo esperei que ele viesse atrás de mim e ele não veio. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele só tinha uma mania chata e que essa mania era apertar a minha costela e aí eu estipulei que a quinta-feira era o único dia da semana que ele podia fazer isso. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que a gente se abraçou e comemorou quando chegamos ao final do Mario Bross 3 como se fosse final de copa do mundo. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que todo dia nós sentávamos no mesmo café ao lado da faculdade e que ele sacava um bloquinho e ficava desenhando e não me dava bola, mas que eu achava aquilo tudo tão bom e familiar que meu coração ficava tranquilo por saber que no dia seguinte nós estaríamos lá de novo, só que acabou a faculdade e ele deve continuar indo no mesmo café e eu não. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que as vezes ele só queria dormir, mas eu queria muito, muito, ir pra praia e ele ia e dormia e ficava com o nariz vermelho. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele foi a pessoa mais calma que já conheci e que ele não tentaria me convencer de nada, não por preguiça, mas porque “logo tudo se ajeita”, só que não se ajeitou. Toda pessoa que me faz essa pergunta simplesmente não sabe a estranheza que o olhar dele trazia quando apareceu aqui com um quadro nas mãos, quando eu chorei e quando ele disse que eu tinha que viver e que ele daria um jeito.  Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que minha mãe diz nascemos com um problema e que esse problema se chama “imediatismo”, ela diz que um dos motivos do meu pai ser o amor da vida dela é que ele sempre correspondeu ao sentimento “imediato” das vontades dela, e realmente aceito que tenho esse problema e que ele é genético, mas apostava que ele também poderia ser o amor da minha vida porque ele sentia quando eu ia ter uma crise e que as soluções saiam da minha alçada e, tranquilamente, em silêncio, levantava, pegava a bicicleta e milagrosamente resolvia os meus problemas. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele sentiria vergonha de mim porque tento ser uma pessoa boa, mas sou uma fraude, e porque mesmo sabendo que erro, sigo errando e ele nunca concordaria com os meus erros porque nem carne ele come porque alguém sofreu e ele não deixaria ninguém sofrer por uma vontade dele. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que dele cobrei tanto, fui tanto, senti tanto, ciúme, felicidade, amor e dor, que ele me odiaria se soubesse que sei ser diferente dessa intensidade toda. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que tudo que vier daqui pra frente parece tão pequeno perto da grandeza do coração dele, que inflava e se tornava um balão, que me levava e me oferecia um mundo, mesmo que o mundo fosse um quarto todo bagunçado e cheio de desenhos pelo chão que eu reclamava porque ele não cuidava, mas que não importava porque era nosso. 
Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe, nem nunca vai se interessar por saber, que nenhuma resposta seria simples. Toda pessoa que me pergunta “e vocês?” recebe um sorriso amarelo que vem sempre acompanhado da frase “pois é, não deu” e o pensamento: uma garrafa se explodindo na parede.

Uma vez ouvi que o tempo pra hemorragia de uma dor de amor é cerca de seis meses. Hoje li isso em um livro. Parei pra pensar e faz seis meses da última mala que vi ele fazer. Acho que chegou a hora. “Avisa que é de se entregar pro viver” e vamos lá.  



4 de junho de 2012

TÁ TUDO BEM EU TO TRANquila...

Passei e no corredor estavam duas amigas vendo um vídeo e eu parei pra olhar. Era o vídeo do Mil Casmurros e, mesmo sendo antigo, a gente se emocionou porque quem faz uma coisa dessas já pode morrer - e, olha, eu preciso comer muito arroz e feijão pra fazer uma coisa dessas e poder morrer. Daí voltei à problemática de fazer vinte e dois anos. Vinte e dois. Não é nem vinte, que me marcou porque eu mudava de década, nem vinte e cinco, que é mais poético. É uma idade que as pessoas geralmente não dão bola: "Ahhhh os meus vinte e dois". Daí, por ser uma idade meia boca comecei a pensar o que eu poderia fazer até a chegada do dia de completar vinte e dois anos. Pensei em coisas bobas que serviriam só pra sentir a idade passando mesmo. Vinte e dois. Pensei em ler as coisas que li quando adolescente pra ter aquela sensação de que eu não sabia nada (e que certamente vou ler com quarenta e dois e sentirei de novo), mas pra dar alguma importância aos vinte e dois, mesmo que seja só uma maturidade de mentira. Pensei em Dom Casmurro, por amor (e tanto que sempre disse que meu filho chamaria Bento, mas que não seria lunático, só exageradamente romântico porque o nome permitia) porque a gente se emocionou hoje, porque talvez me dê uma luz pra criar alguma coisa legal pra que pessoas legais parem no corredor e se emocionem. Os dias que antecedem meus vinte e dois anos (vinte e dois) serão assim: de amar o que já foi amado (pra amar diferente e sempre mais), de Bentinho e de ideias. Tá resolvido. Tô mais calma. 

Lembrei:
(a música que fechou com chave de ouro a série mais bonita que a televisão já produziu: Capitu) 


30 de maio de 2012

lembrete


Dormi rindo e tentando lembrar que raio de música dizia que a felicidade era cheia de sono. Lembrei no caminho para o trabalho. Lembrei que gosto muito do Tom Zé e que deveria dar mais bola pra ele. Lembrei que desde que eu vi o Pignatari falar pertinho de mim sempre quis saber mais sobre o concretismo, mas sempre tive preguiça. Quando eu comprar um som pra colocar na "sala" vai tocar Tom Zé. Vai ter felicidade, vai ter poesia concreta... E vai ter sono. 

28 de maio de 2012

que seja em Satolep




A primeira vez que minha mãe viu meu pai, cabeludo, entrando na porta da Boate do Direito. Um amigo que em meio a um longo relacionamento confessava já não saber onde o amor tinha ido parar. Uma avó que depois de muito velhinha recebeu um telefonema do grande amor da adolescência abandonado em Montevideo. A amiga encantada com o novo amor que tem jeito de "homem da vida", mas que apareceu em uma hora inoportuna. A outra amiga de coração partido que dramatiza e se diz metade morta. O outro que se diz "agora completo". A outra que voltou pra ouvir "Peito Vazio" porque "é bom sofrer um pouquinho". O outro que defende que pra amar tem hora e que de preferência seja tarde. O outro que sabe que é "só uma fase". 
Eu que falo muito, nesse final de semana parei pra ouvir. Ouvi e vi o amor multifacetado. Cheguei a conclusão que Satolep se propõe ao amor mais que as outras cidades. Satolep se propõe mais aos mil modos de sofrer porque é tão bonito e combina muito com o art nouveau. Cheguei a conclusão que a piada com Paris não tem tanta graça porque seria melhor se fosse "se for pra sofrer, que seja em Satolep". 
É, se for pra sofrer... que seja em Satolep. 

22 de maio de 2012

dia do abraço



"sem nome"


http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2012/05/22/o-homem-perdido-diante-da-mulher-que-se-acha/
O Xico escreveu hoje e lembrei de uma coisa que tinha escrito meio embriagada pra uma amiga:


Uma vez em um avião me apaixonei por um cara. Mentira, não foi no avião. Foi naquele ônibus que leva a gente pra pegar o vôo. Senti, por cerca de quinze minutos, muita vontade de ter ele por perto. Engraçado porque essa história deve fazer uns três anos e o nosso papo foi sobre “cidade”, assunto que virou minha pauta nos últimos tempos.  Eu ia pra um congresso em São Paulo e ele só iria até lá pra buscar algumas coisas e trazer para Porto Alegre, ele era gaúcho e ia voltar de “mala e cuia” para cá. Eu não lembro o nome dele, mas lembro que ele sentou do meu lado assobiando “A Rosa” do Chico e isso meio que bastou. Já respeito quem assobia. Agora... Assobiar uma das minhas músicas preferidas em um ônibus de aeroporto (“amor no não-lugar” daria um bom título) pedia que a gente conversasse. Ele puxou papo comigo perguntando se eu era arquiteta e um xalála engraçadinho. Mas aí dividiu comigo um pensamento que eu achei interessante. Ele disse que as pessoas ficam com cara de vácuo no aeroporto e eu só tive que concordar. Respondi que alguém no aeroporto não tá nem no lugar de onde veio, nem no lugar pra onde vai, devia ser por isso o vácuo que ele sentia (raciocínio meio lógico, me senti meio burra depois). Falamos sobre as diferenças entre São Paulo e Porto Alegre (como se eu soubesse alguma coisa demais de qualquer uma delas), porque ele tinha decidido voltar e sobre o espaço do amor nessas cidades. Ele desceu do ônibus assobiando. E, eu pensei que nunca daria mais de quinze minutos para que alguém me conquistasse. Burlei essa regra muitas vezes, mas pensei.

Mas, isso é só uma introdução pro acontecimento de hoje. Em uma roda de conversa feminina a reclamação era uma só: “O que está acontecendo com os homens?”. “A coisa tá difícil”, “Meu ex virou gay”, “Ele pedia para usar os meus cremes”, foram frases recorrentes na conversa e eu "dele" a concordar. Enquanto as reclamações surgiam e a minha gastrite começava a dar sinais de pânico, pensei: “Xi, não é a primeira vez que eu escuto isso aqui em Porto Alegre, a coisa deve estar feia mesmo”.

Mas, deduzi: É TUDO CULPA NOSSA. É verdade. É tudo culpa nossa. Que me perdoem as feministas, nós transformamos os homens em um porre. Bem vestidos e desinteressantes.
Foram tantas reclamações das peladas de domingo, do jogo de futebol na TV, da tampa da privada levantada, da calça de moletom rasgada, do violão na madrugada, dos amigos malas que só falam de mulher, das noitadas... Que de “Amélia”, nós passamos a ser “As malas”. Nós transformamos esse tipo de cara comum (e bom, na minha humilde opinião) em uma ameaça ao nosso novo padrão de vida: mulher linda e independente que chega em casa e não quer tampinhas de cerveja pelo chão. A gente reclamou tanto... Mas tanto... Que de tanto reclamar os homens, como bons homens, atenderam. Ficaram modernos, alinhados, antenados, vaidosos... E chatos.

O homem comum está em extinção. O homem que não sabe que grife nós estamos vestindo (me inclui no time que usa grife), que tem vergonha de tirar fotos de si, que usa um tênis velho até alguém obrigá-lo a comprar outro, que bebe bebida alcoólica durante a semana, aquele que nosso amigo gay não fica em dúvida, minha cara, está em extinção. E, isso é nossa culpa. Entre tanta caretice da vida pós-moderna a caça ao homem comum começou a já está desenfreada.

Lembro que uma vez ri muito daquele programa em que a personagem dizia "eu só quero um cara mais ou menos pra chamar de meu". Eu tô achando isso mais genial ainda porque esse homem "mais ou menos" vai ser o mais disputado nos novos tempos. Vão exister músicas sobre ele. Programas de televisão "QUERO QUE MEU HOMEM VOLTE A ASSISTIR FUTEBOL". E muito mais.
O outro tal, o novo tipo de homem que ainda não tem nome (o que os amigos ficam em dúvida) transformam suas mulheres em espelhos (porque Narciso acha feio o que não é espelho) e aí vai ficando todo mundo meio sem cara. E, tem babaquice maior que essa? Só que essa babaquice só tende a emputecer mais mulheres a cada dia. 

O que isso tudo tem a ver? Tem a ver que eu raciocinei uma teoria que pode valer milhões. Se uma mulher vê um cara fazendo alguma coisa legal sem ser pra se exibir pra ela... Existe grande probabilidade desse cara ser um tão desejado "mais ou menos". Nada de xeretar redes sociais, nada de quebrar a cabeça para descobrir quem são os amigos em comum, nada disso. O homem "mais ou menos" não dá bandeira, não precisa de um espelho ou foto do restaurante onde foi. E aí entra o cara do aeroporto. Ele nunca podia desconfiar que sentada ao lado dele tinha uma fã do Chico e que repararia nele só pelo fato de assobiar "A Rosa". Mas, ele fez. Porque era ele de verdade. Sorte, né? Eu podia ter tido esse raciocínio antes, teria acalmado algumas mulheres estéricas.

Rezemos para que existam muitos dos tais espalhados por aí.