28 de junho de 2010

interlúdio

Acordei meio sem graça. Meio com vontade viajar. Meio com vontade de ficar. Meio assim. Meio nunca é bom. Bom é inteiro. Se não for, que arranque os pedaços, que nada sobre. Melhor que seja ausência. Metade nunca é o bastante. Metade logo termina. Metade da graça. Metade da vontade. De ir, de ficar. Acordei meio assim, meio morna, meio branca, meio no reflexo da janela, meio cigarro, meio projeto escrito. Logo passa. É meio fim. Meio sem nexo. Meio sem cadência. Inteiramente em silêncio.

23 de junho de 2010

severino cadê meu briefing?

Manhã Manha Acorda Treme Aula Reunião Trabalho Prazo estourado Reunião Reunião Relatório “Tá errado” Faz de novo Vê mais um café Briefing Branding I’m cansading Tudo pro altoing Cumpre as horas Pesquisa Ensino Extensão De mim Dorme Acorda E finge que não gosta por mais um dia

21 de junho de 2010

(s)enfim

Prepara o jantar. Faz do silêncio um charme. Discorda de mim. Serve mais um copo. Desespero meu. Química nossa. História. Geografia. Filosofia do teu pensamento. Apaga a luz e chega mais perto. Braile do teu corpo. Verão do inverno. Apaga o sol e começa tudo outra vez. Discorda da Geografia. Serve mais um pensamento. Química da luz. História do teu corpo. Minha filosofia por água abaixo. Braile com o sol. Faz charme com o meu desespero. Começa tudo outra vez. Enfim. Sem fim.

15 de junho de 2010

monocromia

Foi quando disse: “Coloca fora essa caixinha de lápis de cor que tu teimas em carregar. Deixa as pessoas em preto e branco. Essa mania ainda te faz mal”. Isso aconteceu faz tempo. Tanto tempo que havia esquecido. Lembrei. Do conselho e da caixinha. E, cheguei à conclusão que deveria colocar os dois no lixo.

14 de junho de 2010

chá de habu

Bebi o primeiro gole e coloquei para tocar “Amar La Trama”. Existe uma aura envolvente no espanhol. Algo que não seja compreensível no primeiro ato, que deixe certo mistério, que enrole a língua. Espanhol é certo suspiro. Suspiro. Suspiro é verbo e substantivo. Tenho pensado besteira. Os olhos piscam mais devagar. Alguém enviou um perfume, alguém enviou um bilhete. Preciso agradecer. Preciso beber menos café. Preciso agendar melhor os compromissos. Prestar mais atenção no pôr-do-sol. Preciso pensar menos, escrever mais. Preciso de um segundo gole. Preciso de alguma coisa que ainda não sei bem. Mas, preciso. E isso me leva ao terceiro, ao quarto, quinto gole. E suspiro vira verbo. E o verbo vira eu. Eu viro substantivo. E, eu suspiro.

1 de junho de 2010

a gente quer ver horizonte distante

Chegou Junho. Nem vi. Vou fazer vinte anos. Um absurdo que me parece mais poético. Vinte anos. Soa melhor. Chegou Junho. O mais gélido dos doze. Encontro-me aqui, ouvindo Odair José, avistando o calendário. Chegou Junho. Quer dizer que, metade do ano já se foi e metade do ano ainda está por vir. Mesmo que isso, no fundo, não vá mudar em nada. Chegou Junho. Hão de saciar os namorados, as rosas, os presentes. Hão de embravecer os mal-amados. Chegou Junho. Deixando a ponta do nariz gelada, as mãos mais abrigadas, as aspas escondidas. Ninguém o canta com quimera. Tão pouquinho tem outono. É meio termo. Chegou Junho. E quanto a mim, sigo assim. Como não fazê-lo?