9 de novembro de 2009

Sobre o dia em que menti

Aquele dia, eu menti. Não queria admitir, mas menti. Menti pelas diversas razões que levam alguém a mudar os fatos. Fúria, raiva, desprezo, tristeza, medo. Menti porque a verdade me pareceu destoar do momento. Porque de alguma forma minha “nova verdade” me faria mais forte.

Talvez, isso pertença mais ao mundo feminino, os homens simplesmente discutem com argumentos baixos e palavrões bruscos. Nós, mulheres, queremos ir mais longe, queremos dividir a ferida.

As folhas do calendário foram se esvaindo (se colorindo de reuniões e indo com as noites), eu engoli aquela falsidade, e agora, abandono em palavras o que antes tanto me incomodou.

Todos deixam um pouquinho de si quando vão embora, menti. Aos trancos e barrancos (entre gritos e xingamentos) alguém me disse: “Não te preocupa tanto!” (claro, multiplicando a hostilidade dessas palavras). E eu, que pensava não dar valor para estes vocábulos, me encontrei hoje, aqui, com um quê de ser/estar pelo que se é. Leve de vontades.

Dei por mim que todo homem terá defeitos, alguns farão barulho ao comer, alguns não terão lido aquele livro, alguns não conhecerão tal música, alguns terão ciúme, alguns serão caseiros demais, outros serão da noite, todos terão deformidades que os farão mais verdadeiros de essência, menos chatos. Dei por mim que os príncipes não existem, nem cavalos brancos, e que todos que parecem ser assim, caem e se perdem de suas majestosas fantasias.

Posso dizer que menti, pois ficou em mim um apreço infinito pela vida real, pela realidade dos tons dos domingos chuvosos (porque nem todo dia será de sol a pino), e nem tudo estará perfeitamente colocado em seu lugar, nem todos falarão as frases que sonhei, nem todos os trabalhos chegarão nas datas corretas e nem todas as amigas serão do modo como descrevi.

E mesmo que tamanho pessimismo não combine comigo, aprendi a colorir a realidade, ver beleza no perder a hora, admirar uma sexta sem programação, e claro, não esperar que as pessoas façam tudo certo, esperar que elas simplesmente façam, ou não.

Eu menti ao dizer a alguém que havia partido sem deixar rastros. Deixou, sim, uma grande e bonita vontade de ser “simples e suave coisa”.


Ouvindo: Orquestra Imperial (Um dos poucos cd's que escuto de cabo a rabo, e é mais um da série: “Achados e perdidos nas gavetas virtuais!”)