18 de maio de 2010

senão eu te invento por toda eternidade

Na minha frente estava Décio Pignatari. Era hora de fazer silêncio. Foi então que ele disse: “A gente já não sabe mais apreciar uma bela poesia”. Eu que por tantas vezes pensei ver o ressurgimento da utopia poética, fiquei triste. Será mesmo que foram-se os amores? As dores? Tenho medo que os poetas, eternos egoístas, não levem em consideração a promulgação. Esta quantidade extrema de lugares onde a poesia ganhou espaço deixa-os levemente frustrados. O que acabou foi a mesa de bar, quando não existia lei anti-fumo, quando o uísque era charmoso, quando as cartas demoravam a chegar pelo correio, quando a publicação em um livro era a única forma de expansão do trabalho. Vemos poesias em blogs, em lambes na rua, em encontros, nos olhares. A poesia está aí para quem ainda a quiser. Os mesmos de sempre. A pequena parcela que sempre se interessou. A única diferença é que hoje já não se pode mais fumar no bar, as intenções chegam por e-mail e os best-sellers são de auto-ajuda – geralmente sobre a forma mais rápida de ficar rico - . No entanto, quem sou eu para contrariar Décio, bom mesmo é esquecer de tudo e apenas ouvi-lo. Um velhinho em forma de poesia concreta.