28 de janeiro de 2013

sem título

Trabalhar com criação as vezes dói. Criar qualquer coisa, móveis, roupas, casas, aeronaves, canecas, obras de arte, talheres. Mas, uma coisa que precisa ser criada do zero. No papel em branco. Como na faculdade quando o professor dizia: desenhem isso aqui. Mas, assim? Sem nem um vinhozinho antes? Criar sem inspiração é mais ou menos como abraçar alguém sem vontade. A gente até abraça. Mas, quando o abraço termina parece que arrancaram um pedaço da gente. É meio como ser infiel as próprias vontades. E eu não sou do tipo que reclama da profissão, de rotina, dos dias. (Aliás, eu gosto muito. E aliás 2, esse papo road trip de que jovens precisam fazer mochilões pela europa e conquistar o mundo e ir atrás de seus sonhos e conhecer gente de todos os cantos e etc é opressor demais pra mim. É muita pressão de felicidade colocada em outro lugar pra quem tem pouco dinheiro no banco (tipo eu assim) e que adora o aqui porque durante muito tempo sentiu saudades.) Depois da notícia da tragédia de ontem acabei dormindo e tendo um monte de pesadelos. Tive pesadelos com todos os meus medos. Enquanto eu vinha caminhando pro trabalho percebi que vários desses medos eu nem sabia. Passei o dia lembrando disso. Depois, numa roda de amigos um papo sobre "quando vamos largar isso tudo" e eu em silêncio pensando que "isso tudo" era a vida da gente, como deve ser complicado o dia da Juliana, a moça do caixa do supermercado que é minha amiga e que escuta os meus problemas, principalmente quando o preço do queijo sobe. Passei o dia tendo que criar coisas no papel em branco. Um branco que era meio papel meio eu. Deu branco total. Tô desde cedo me sentindo pequenininha. Meio boba. Meio em branco. Criei. Foi. Nasceu. Mas, doeu. Em dia de luto nacional deveria ser proibido criar alguma coisa. Errado. Em dia de luto nacional deveria ser proibido reclamar de qualquer coisa.