31 de maio de 2010

em verso, inverso

Vi
E veio a mim
O cara
Vestido de idéia
“Querubim”

Sorri
E veio a mim
Pele de poesia
Mordida de nó
Ar de maresia

Pensei
E veio a mim
Aquele moço
Destruindo a métrica
De rima e osso

Sosseguei
E veio a mim
Virou verso
Pensamento do avesso
Inverso

18 de maio de 2010

senão eu te invento por toda eternidade

Na minha frente estava Décio Pignatari. Era hora de fazer silêncio. Foi então que ele disse: “A gente já não sabe mais apreciar uma bela poesia”. Eu que por tantas vezes pensei ver o ressurgimento da utopia poética, fiquei triste. Será mesmo que foram-se os amores? As dores? Tenho medo que os poetas, eternos egoístas, não levem em consideração a promulgação. Esta quantidade extrema de lugares onde a poesia ganhou espaço deixa-os levemente frustrados. O que acabou foi a mesa de bar, quando não existia lei anti-fumo, quando o uísque era charmoso, quando as cartas demoravam a chegar pelo correio, quando a publicação em um livro era a única forma de expansão do trabalho. Vemos poesias em blogs, em lambes na rua, em encontros, nos olhares. A poesia está aí para quem ainda a quiser. Os mesmos de sempre. A pequena parcela que sempre se interessou. A única diferença é que hoje já não se pode mais fumar no bar, as intenções chegam por e-mail e os best-sellers são de auto-ajuda – geralmente sobre a forma mais rápida de ficar rico - . No entanto, quem sou eu para contrariar Décio, bom mesmo é esquecer de tudo e apenas ouvi-lo. Um velhinho em forma de poesia concreta.