13 de setembro de 2010

Ela me chamava de Quimera

Parte 2 - Sobre a nossa vida

Ela dizia que meu ciúme era bobo e que minhas manias eram feias. Eu tinha ciúmes dela porque não era difícil lhe roubar atenção. Eu sentia prazer em desdenhar seus olhares, mas sabia que ninguém mais deveria fazê-lo. Talvez eu quisesse que seus olhos de criança tivessem mais alma do que realmente tinham, eram tão sinceros que acabavam pesando as minhas intenções. Eu não queria entrar em seus jogos de utopia, só a imaginava andando de meias pela casa posando para mim à frente da cortina que escolheu a dedo na loja. Lembro da cortina ter flores e ela usava um termo “kitsch” como quem sabia que o fazia. Era sabida ou fingia. E eu pensava que só precisava aprender a tocar o maldito samba de que ela tanto falava. Eu não entendia quando ela dizia que naquelas noites que eu me ausentava minha voz não fazia falta. Ela não queria ouvir minhas piadas desprezíveis. Ela só queria que eu estivesse por perto fazendo barulho de xícaras pela casa, de descarga, de televisão ligada no canal de esportes. Ela só queria saber que eu estava acordado, como se isso fosse fazer grande diferença. Ainda tento lembrar do dia em que eu não dormi antes dela.

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