13 de março de 2012

"A medida do tempo"

Entediada fui andar pela casa (que agora virou “casa dos meus pais”) e acabei achando um livro escrito por uma tia distante. Já criei tantas lembranças erradas dos meus tios que tive que me esforçar para associar o nome a pessoa. Lembrei das idas a Bagé e de cumprimentar tanta gente. Lembrei que das vezes que estávamos por lá imaginava com seria se meu avô fosse vivo, se ainda tivesse o bar no Jóquei Clube, lembrei da minha vontade de ver meu pai menino e dentuço entre os apostadores. Lembrei que quando era criança eu e uma prima passamos a madrugada acordadas só pelo prazer de fazê-lo (e também para ouvir os adultos conversando e jogando truco). Lembrei que, antes do dia amanhecer, os senhores sentavam na frente de suas casas com mate em punho. Lembrei que nós olhávamos pela janela, que tinha cerração, que minha prima dizia que eles sempre faziam isso e que logo outro senhor também já iria acordar. Minha prima deve estar uma mulher e os senhores que sentavam lá devem estar muito velhinhos. Lembrei da casa da Hulha e que das vezes que fui lá não conseguir dormir. Era uma casa antiga e com tanta história para contar que eu não poderia dormir lá. Lembrei que o chão da casa fazia barulho sozinho e que o barulho se misturava com o da lenha queimando. Lembrei que a maioria dos meus tios por parte de pai tem cara de fumante (mesmo que muitos tenham parado) e por isso eles parecem mais cultos. Lembrei do frio que faz por aquelas bandas. Lembrei e senti saudades. Saudades de quem eu nem sei e nem convivi. Acho que senti saudades por eles. Pelos meus tios e pelos tios dos meus tios. Saudades porque as coisas que faziam parte da vida deles se tornaram apenas lembranças para mim. Senti saudades porque a vida muda. Senti saudades porque a vida passa.

“Sei hoje que o tempo não espera e que a vida nos faz cansar de esperar...”
Glêde Loguercio de Mesquita (do livro achado)

Nenhum comentário: