18 de maio de 2010

senão eu te invento por toda eternidade

Na minha frente estava Décio Pignatari. Era hora de fazer silêncio. Foi então que ele disse: “A gente já não sabe mais apreciar uma bela poesia”. Eu que por tantas vezes pensei ver o ressurgimento da utopia poética, fiquei triste. Será mesmo que foram-se os amores? As dores? Tenho medo que os poetas, eternos egoístas, não levem em consideração a promulgação. Esta quantidade extrema de lugares onde a poesia ganhou espaço deixa-os levemente frustrados. O que acabou foi a mesa de bar, quando não existia lei anti-fumo, quando o uísque era charmoso, quando as cartas demoravam a chegar pelo correio, quando a publicação em um livro era a única forma de expansão do trabalho. Vemos poesias em blogs, em lambes na rua, em encontros, nos olhares. A poesia está aí para quem ainda a quiser. Os mesmos de sempre. A pequena parcela que sempre se interessou. A única diferença é que hoje já não se pode mais fumar no bar, as intenções chegam por e-mail e os best-sellers são de auto-ajuda – geralmente sobre a forma mais rápida de ficar rico - . No entanto, quem sou eu para contrariar Décio, bom mesmo é esquecer de tudo e apenas ouvi-lo. Um velhinho em forma de poesia concreta.

25 de março de 2010

juízo e carnaval

http://www.recotada.blogspot.com/

Um pouquinho de Lanna no mundo da recotada sem cetim, mas cercada de gente talentosa que fez do cimento um dos lugares mais legais que eu já vi. Um beijo pro pessoal da organização, que fez desse cinza um colorido genial.

O quê? Recotada, exposição de arte.
Quando? 26 de março, 18h.

Espero todo mundo lá!

24 de março de 2010

entre

entre tanto
restou tão pouco
entretanto
ainda me agarro aos cacos
entre tanto
amor, ódio, rancor ainda há
entretanto
para nós dois

17 de março de 2010

cafeína

todo e qualquer
tipo de insight
que já tive
na vida
ferveu junto
com a água
do café
que eu estava
preparando

9 de março de 2010

hein?

Dor de cabeça, incomoda. Bater de carro, incomoda. Gritaria, incomoda. Fome, incomoda. Vontade de fazer xixi, então, incomoda e muito! Gastrite, tentar parar de fumar, ficar sem café, insônia, incomoda, incomoda. Nietzsche, incomoda. Saldo zero no banco, incomoda. Então, toca aquela música no rádio, chega uma mensagem no celular, uma nota de dez esquecida no casaco. Em uma fração de segundos os momentos bons esmagam os ruins, afinal, um sorriso no rosto é muito mais memorável que uma cara de pastel. Eaí, o que aconteceu mesmo?

8 de março de 2010

e essas coisas que diz toda mulher

Dia da mulher, muito rosa, vermelho e congratulações. A televisão nos faz mais guerreiras, os cartões mais sentimentais e as flores mais ternas. Há por detrás disso uma fórmula de mulher perfeita: linda, inteligente, trabalhadora e que saiba preparar um jantar apetitoso. Típica mulher de catálogo do shopping, ótimo! Quando antes o marketing sobre o culto feminino girava em torno do ser “dona de casa”, aquela do avental e batom vermelho, hoje o barato é não ter um descanso na agenda. E eu, acho belíssimo! Charmoso mesmo é trazer de bônus aqueles modos cinquentinhas, uma receita de família, uma lingerie de surpresa, um dia no salão. Bônus.

Hoje meu parabéns – e extensa admiração- vai às damas “século XXI”, aquelas que realmente têm o poder da síntese: mil mulheres em uma só. Uma para cada momento do dia, uma para cada compromisso na agenda, que sabe ser o chefe, que sabe ser sexy, que sabe comentar sobre aquele livro, que sabe exatamente o que comprar no super. Uma mulher que “vem com tudo”, em todos os sentidos. São esses tipos que merecem um dia, um cartão e flores, merecem aparecer na propaganda do Dove, serem transformadas em literatura, uma música do Chico. Mulheres perfeitamente imperfeitas, manhosas, mandonas, deliciosamente bem sucedidas, deliciosamente mulheres, deliciosamente de unhas bem feitas. Parabéns.

1 de março de 2010

domingo no templo


Ele disse: - Todos deveriam ganhar uma pedra, ela se torna metade de toda nossa força interior, a força que nós deveríamos ter para enfrentar os problemas, o resto fica com a gente mesmo. Pega ela e guarda, quando precisar, segura firme até tudo passar.

E pensei: - Quem me deu esse meio coração, aceita devolução?


"Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais"

23 de fevereiro de 2010

senhora desse amor

Faz cara de quem já sabia, de quem já esperava por isso. Finge que o rumor é antigo demais perto da tua sabedoria. Dá gargalhada como se ela fosse muito pior, de uma ignorância que te faz superior. Arrisca dizer que tem cara de traveco. Balança os cabelos e fala mais alto, diz que ele não deve ter sentido as mesmas coisas que sentiu contigo, e que se experimentou de tudo, fingiu. Ela não tem música em comum, esperança. Pisca os olhos devagar, é sinal de tranqüilidade, talvez ela não tenha ganho uma dedicatória no livro, isso ainda te faz mais adorada. No pretérito. Ela arrancou dele algumas cervejas, uns beijos, algo mais e foi embora. Acreditou ser a rainha da noite. Mas no fim das contas, de camiseta velha, aquele sapo continua sendo o príncipe da tua vida.


no fone: She & Him - You really got a hold on me

22 de fevereiro de 2010

CALLmeKAT

Algumas músicas simplesmente caem no nosso colo. Algum amigo mostra, toca no café, passa no programa de televisão. Elas são pequenos pedaços de loteria, alteram a trilha sonora da nossa vida sorrateiramente. Hoje isso aconteceu, conheci “CaLLmeKAT”, apelido pra Katrine Ottosen, uma menina linda que mudou o meu dia. Tamanho egoísmo seria não compartilhar esse acontecimento, não sou ninguém para dar dicas, é apenas uma declaração de um coração amolecido, mas pode acreditar em mim.

Dita cuja: http://www.youtube.com/watch?v=LxYnQxqLJEM&feature=related

18 de fevereiro de 2010

tu tens uma caneta?

Se escrever é uma terapia, sinto muito Doutor, sei que ando relapsa. No entanto, é só uma tempo fora, um pé na grama - outro no céu -, um caminhar flutuante, essas coisas sinônimas à descanso. E então, a gente perde os guardanapos escritos e embriagados, é de praxe. Mas, ao menos eles ficam espalhados pelas ruas da cidade, e talvez, perder as palavras tenha virado a minha terapia de férias.

10 de fevereiro de 2010

“Mas, de que autor?”

Impossível não amar as teorias, mesmo sem concordar, amo-as todas. Teorias de conspiração, de idolatria, de amantes. Teorias furadas, de bar, borrachas. Admiro intensamente aqueles que afrontam a roda de amigos, falam mais alto, batem na mesa, possibilitam ao outro o conhecimento daquela guardada ali há tanto tempo – ou melhor, aquelas que nascem no palavrear da hora . Eis que tenho uma:
- “Fiéis são aqueles que possuem uma lei a cada instante”.
Porém, mesmo que moral houver, “não coloco a mão no fogo, só um louco o faria”. E ainda cito o embasamento.

26 de janeiro de 2010

Solta, é meu!

É engraçado essa coisa de falar “Viva cada dia como se fosse o último”. Ninguém acorda e vai trabalhar no último dia de vida. Ninguém paga contas, se faz de difícil, aposta em conquistas. Ninguém estuda, faz prova, se importa realmente com a vontade alheia, no último dia de existência. É tudo balela.

Se tivesse o poder de mudar o jargão, diria: “Viva cada lance como se fosse o único”. O chefe como se fosse o único que te contrataria, a conta como se fosse a única na gaveta, ele como se fosse o único que sabe te irritar – e te amolecer – daquela forma.

O valor das coisas não está em ser fim, mas sim, em ser incomparável. E nosso.

6 de janeiro de 2010

Heidegger II

Quem vem antes, o artista ou a obra?

4 de janeiro de 2010

O dia em que o Acaso se perdeu


Andei muito até chegar aqui. Ainda não sei bem porque sentei, mas algo me dizia que deveria parar um pouco e observar. Prestei atenção em todos que passaram por mim sem perceber minha presença, senti-me coisificado, como quando alguém é cruel por intenção. Eu estava sozinho. Ninguém perguntou-me as horas, se sentia fome, se queria companhia.

Creio que o menininho tinha demasiada pressa de conhecer o seu futuro amor, o vi errar, não era aquela de encontro marcado no café. O homem de terno que entrou na venda, usou o chat e esqueceu de olhar a caixa de correio. A bela moça de cabelos ao vento aceitou o primeiro canalha porque não esperou o segundo.

Fui deixado de lado por planos, vidas bem arquitetadas, matemática. Trocaram-me por lógicas de tempo bem construídas. E o preço do tempo alterou o passo dos amantes.

Estou desempregado, enrugado, amassado, moribundo. Completamente perdido. Arranjarei um quarto de hotel barato e morrerei de amor a saudade. Morrerei por - assim como eles - não ter feito as escolhas certas. E quais são elas? Foi tudo um mero acaso, eu juro.

1 de janeiro de 2010

sobre arroz e tempo

Quando a gente cresce se dá conta que “arroz à grega” não é arroz de grego. Quando a gente cresce entende porquê os adultos bebem cerveja. Quando a gente cresce aprende a ficar na sala conversando. Quando a gente cresce percebe que o reveillon é, na verdade, mais um motivo para comer muito e tomar porre.

O problema é que passa de uva vai ter sempre gosto ruim. Guaraná é bem melhor que cerveja. Política chega uma hora que cansa. E reveillon, meus caros, reveillon só é bom mesmo quando a gente dá um porre na vida.

31 de dezembro de 2009

mas, já?

Até que ponto perdeu-se o sentimento entre tanta hi-tech? A sociedade deixou de brincar no escuro para gostar na velocidade da luz. Amores 2.0, perfis selecionados, mal se dá chance a pobre casualidade. Meu desejo para 2010? Que a felicidade comece a vir em banda larga.

30 de dezembro de 2009

casal qualquer/qualquer casal

- Então?

- O quê?

- Fala alguma coisa.

- Não gosto de falar.

- Vive falando pelas tabelas.

- Minha cabeça é que anda pelas tabelas.

- Eu odeio silêncio.

- Eu odeio o teu barulho.

- Sempre disseste que amavas a minha voz.

- Sempre amei a tua voz. Odeio é o barulho da tua loucura.

- Agora eu sou o louco?

- A insanidade vai muito além da tua camiseta bem passada.

- O problema é o jeito que me visto?

- Também odeio a tua burrice.

- Mania ridícula de falar em códigos.

- Mania estúpida de ser preguiçoso.

.

.

.

.

- Quanto tempo tu precisa?

- Uma vida.

- Começou.

- É.

.

.

.

.

- Tu és insuportável.

- Queria não saber que tu estas mentindo.

- Querias então que realmente achasse isso?

- Assim tu irias de vez.

- Eu vou ir. Tu vais caminhar até a sacada para ver se eu ainda vou estar lá. Quando bater a porta do carro vais começar a sentir calafrios por mais uma vez ter desistido. E vou saber mais uma vez que tu não sabes te cuidar sozinha.

- Que sorriso de mérito.

- Sorriso de burrice.

.

.

.

.

- Promete que fica essa noite?

- Eu vou ficar pro resto da vida.

- Nem precisa tanto. Pode ser só até eu aprender a me cuidar.

.

.

.

.

- Eu te amo insuportável.

- Eu te amo em silêncio.

28 de dezembro de 2009

entre amigas

- Os lábios se não fossem mudos, estariam pedindo algo.
- O quê?
- Ainda não sei bem o quê. Mas estariam pedindo.
- Falar em voz alta as vezes é pecado.
- E pecado mesmo é acordar sem ressaca.

Soledad

O Drexler

A chuva

O café

São um triângulo amoroso.

Eu, entre eles

Evito brigas

Aproveito-me da situação.

18 de dezembro de 2009

Heidegger

Será que a linguagem do cotidiano não é sintética como uma moeda? Eu te pergunto “Tudo bem?” sem querer saber como estas. Me respondes “Tudo e contigo?” como quem dá o troco. E vamos embora, sem dever nada um ao outro.

15 de dezembro de 2009

meu melhor

Hoje ouvi algo muito bom. Em um programa Maria Rita – salve! – disse que era uma mulher com M maiúsculo e que isso trazia todas as qualidades e defeitos de se ser mulher. Nunca ouvi melhor descrição sobre o que realmente é se sentir mulher, sem feminismo, sem machismo, sem extremos, simples assim. Sou, sim, um emaranhado de qualidades e defeitos, com M maiúsculo, por mais tolo que pareça.
Quando disser “NÃO!”, talvez espere um tantinho mais de atenção para dizer “SIM!”. Quando estiver cansada talvez chore, quando estiver alegre talvez fale demais, haverá brigas em que não direi uma palavra e hão de permanecer os momentos em que o silêncio será apenas charme.
Eu sou aquilo que é ser mulher. Olharei de longe como quem não viu, olharei de perto como se não houvesse mais ninguém, saberei quando há um cheiro diferente na camisa e desconfiarei quando a roupa for só para chamar a minha atenção.
Sou mulher com M maiúsculo, às vezes de esmalte descascado, às vezes sem maquiagem e sem máscara alguma. Por vezes darei mais valor, por vezes menos, irei embora como quem nada perde, voltarei implorando um abraço amigo.
Sou mulher com M maiúsculo, não posso por nenhum segundo me permitir a oferecer metade do que poderia ser. Sede de ser mulher, aquela que procura a todo instante alguém que seja tudo.
Sou infinitamente mulher, e por ser assim, vou esperar o entendimento de toda recaída, toda TPM, todo dengo, toda manha e toda vontade, seja a hora que for. E se eu disser que tudo isso é simples, acredito que seja obrigação de todo homen perceber. Afinal, sou uma mulher com M maiúsculo, e mesmo que eu me engane, vou estar sempre esperando o "melhor".

6 de dezembro de 2009

Y cuando me pierdo en la ciudad

Hoje senti que deveria escrever algo. Escrever para extravasar, para colocar no papel todo aquele turbilhão que há aqui dentro, para me sentir acompanhada quando alguém me lesse, para contar memórias, para doar ao mundo essa minha confusão. O papel ficou em branco um bom tempo. Coloquei para tocar uma velha canção que meu pai ouvia muito. Cocei a nuca. Pensei. Pisquei os olhos lentamente. E em voz alta:

- Eu não quero escrever.

Hoje quero ficar em silêncio. Hoje devo ficar em silêncio. E as luzes da cidade falarão todos os vocábulos que deveria colocar neste branco papel, o vento assobiando nas ruas, o movimento das pessoas. Hoje, não trancarei meus pensamentos nas palavras, deixei-os livres por todos os lugares do mundo, no meu silêncio.


Te vi
Juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal
No sé si eras un angel o un rubí
O simplemente te vi.

Te vi
Saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de mandala se quebró
O simplemente te vi.

Todo lo que diga está de más,
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabés comprender
Es solo un rato no más
Tendría que llorar o salir a matar.
Te vi, te vi, te vi
Yo no buscaba nadie y te vi.

Te vi
Fumabas unos chinos en Madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi.

Me fui
Me voy de vez en cuando a algún lugar
Ya sé, no te hace gracia este país
Tenías un vestido y un amor
Y yo simplemente te vi.


1 de dezembro de 2009

Como nossos pais? Será?

Hoje tive uma das melhores aulas de História da Arte desses dois anos. Juntou a fome com a vontade de comer. Passei o dia pensando na vergonha publicada sobre a UNE, sobre o movimento estudantil se esvaindo entre tantas segundas intenções. Hoje meu mestre – querido, muito querido – enquanto falava sobre a revolução da pós-modernidade e sobre o mundo (pois, “a arte é reflexo do mundo”), mostrou um belo documentário sobre aquele maio de 1968, onde o movimento estudantil parou a França por melhorias. Penso.

Onde foram parar as idéias de progresso? De ajudar uns aos outros? As cabeças pensantes da sociedade não deveriam ferver dentro das universidades? Sede de conhecimento do que estamos – ou, por vezes, não estamos – aprendendo? E o que estamos engolindo goela abaixo por uma formação rápida que em versão fast-food nos coloque em um mercado de trabalho hipócrita e efervescente, onde também, seremos burros de carga? O movimento estudantil se tornou trampolim para diversas outras funções que não sejam de cunho nobre, nobre de alma, nobre de vontades, nobre de saber, realmente, os valores de se estar em uma universidade pública – e também privada -. Os deveres e os direitos acumulados pelos estudantes, hoje já se confundem com grande baixaria de ambições.

Quando antes – no tempo dos meus pais - os universitários eram a nata intelectual da sociedade, hoje pouco se vê aqueles que realmente importam-se com o que estão ouvindo em sala de aula.

Estamos na era do “tanto faz”. Tanto faz se a UNE – assim como deputados que tanto julgamos – rouba milhões do governo, tanto faz se não tenho professor em determinada matéria, tanto faz se eu não conhecer a bibliografia do meu curso, tanto faz se o cara que me representa coloca dinheiro na meia, tanto faz porque mal sei o que é diretório acadêmico de uma universidade, tanto faz porque o importante é se formar, tanto faz porque realmente, mudou o milênio, mudaram os anseios.

Eu, saudosista, ainda acredito que a juventude possa ser mais. Mais interessada, com reclamações mais plausíveis, menos lúdicas, mais concretas. Afinal, nós não temos as mesmas reivindicações de anos atrás, nossos pais conquistaram e nos deram de bandeja uma sociedade democrata, livre e aberta. E o que nós, deixaremos para os nossos filhos?

No momento em que uma pessoa não faz questão de obter ensino de qualidade, mal lembra em quem votou na eleição passada e simplesmente acha que está tudo bem, merece ser representada por alguém que esconde dinheiro sujo nas cuecas limpas.

Nós, ainda pequena parcela que chega ao terceiro grau, temos a informação e os livros na mão, tem faltado é a dose de vontade. E isso tem feito toda a diferença.


Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português

Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês

26 de novembro de 2009

Insatisfação Crônica

Hoje vi “Vick Cristina Barcelona”, atrasada, depois de todo mundo se esgotar de comentar. Era o tipo de filme que sempre deixava como a terceira opção na locadora, tenho um certo preconceito com Scarlett Johansson. No entanto, que bela surpresa nessa mera quarta-feira candente. Além do show dado por Penélope Cruz, ouvi da sua boca a melhor denominação da história do cinema: Insatisfação Crônica. A doença de procurar em todos os cantos do mundo algo que sacie uma certa vontade confusa, uma vontade que mal se sustenta, e de tanto querer ser, se confunde no que não é. Quem sofre deste mal pouco é entendido, não sabe esclarecer o que acontece. São coisas que simplesmente calham, despedidas, recomeços, pequenos ou grandes passos no amor. Complicado, porém crônico, e só de saber que podemos dar um nome para isso já confere uma certa leveza aos ombros.

23 de novembro de 2009

salvadora

O romance está

para mim

como o ovo

está para Salvador Dali

E daqui

estou eu

disfarçada de cisne

meu mundo é um moinho

Nessa madrugada desanimada, ultrapassa pela janela aquele calor das noites que o verão vem trazendo. Nessa madrugada desanimada, estou cá eu e Cartola, triturando sonhos mesquinhos que um dia ei de ter. E vamos nós nessa malemolência das noites que o verão nos impõe, sem esperar nada, armados para algo que ainda não sabemos o que é. Mas, ainda é cedo.

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

9 de novembro de 2009

Sobre o dia em que menti

Aquele dia, eu menti. Não queria admitir, mas menti. Menti pelas diversas razões que levam alguém a mudar os fatos. Fúria, raiva, desprezo, tristeza, medo. Menti porque a verdade me pareceu destoar do momento. Porque de alguma forma minha “nova verdade” me faria mais forte.

Talvez, isso pertença mais ao mundo feminino, os homens simplesmente discutem com argumentos baixos e palavrões bruscos. Nós, mulheres, queremos ir mais longe, queremos dividir a ferida.

As folhas do calendário foram se esvaindo (se colorindo de reuniões e indo com as noites), eu engoli aquela falsidade, e agora, abandono em palavras o que antes tanto me incomodou.

Todos deixam um pouquinho de si quando vão embora, menti. Aos trancos e barrancos (entre gritos e xingamentos) alguém me disse: “Não te preocupa tanto!” (claro, multiplicando a hostilidade dessas palavras). E eu, que pensava não dar valor para estes vocábulos, me encontrei hoje, aqui, com um quê de ser/estar pelo que se é. Leve de vontades.

Dei por mim que todo homem terá defeitos, alguns farão barulho ao comer, alguns não terão lido aquele livro, alguns não conhecerão tal música, alguns terão ciúme, alguns serão caseiros demais, outros serão da noite, todos terão deformidades que os farão mais verdadeiros de essência, menos chatos. Dei por mim que os príncipes não existem, nem cavalos brancos, e que todos que parecem ser assim, caem e se perdem de suas majestosas fantasias.

Posso dizer que menti, pois ficou em mim um apreço infinito pela vida real, pela realidade dos tons dos domingos chuvosos (porque nem todo dia será de sol a pino), e nem tudo estará perfeitamente colocado em seu lugar, nem todos falarão as frases que sonhei, nem todos os trabalhos chegarão nas datas corretas e nem todas as amigas serão do modo como descrevi.

E mesmo que tamanho pessimismo não combine comigo, aprendi a colorir a realidade, ver beleza no perder a hora, admirar uma sexta sem programação, e claro, não esperar que as pessoas façam tudo certo, esperar que elas simplesmente façam, ou não.

Eu menti ao dizer a alguém que havia partido sem deixar rastros. Deixou, sim, uma grande e bonita vontade de ser “simples e suave coisa”.


Ouvindo: Orquestra Imperial (Um dos poucos cd's que escuto de cabo a rabo, e é mais um da série: “Achados e perdidos nas gavetas virtuais!”)

6 de novembro de 2009

Sobre anteontem

Aqui cai uma tempestade de dar medo. No lugar onde todos descansam, nós ficamos a olhar para alguém que já se foi. Temos em nossas mãos aquele corpo cansado, já derrotado, antes contador de histórias. Acabou a fadiga, acabou a medicação, acabou a luta. A vida se desfacela diante de nós. Nós, que antes tão frágeis, tão cuidados por ela, hoje somos platéia desse espetáculo dramático, nossa atriz principal abandonou o palco.
Esta chuva veio lhe levar para longe Vózinha, longe dos choros contidos, das explicações vagas, da maldade de sofrer durante tanto tempo. Estarás naquela motoca, rumo ao horizonte, avante e sempre, bem-aventurada de essência - qualidade dos bons.
Um beijo, Pequena

3 de novembro de 2009

Vai levando


"Mesmo com toda a fama, com toda a brahma
Com toda a cama, com toda a lama
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa chama
Mesmo com todo o emblema, todo o problema
Todo o sistema, todo Ipanema
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa gema
Mesmo com o nada feito, com a sala escura
Com um nó no peito, com a cara dura
Não tem mais jeito, a gente não tem cura
Mesmo com o todavia, com todo dia
Com todo ia, todo não ia
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa guia
Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando esse toque
Mesmo com toda sanha, toda façanha
Toda picanha, toda campanha
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa manha
Mesmo com toda estima, com toda esgrima
Com todo clima, com tudo em cima
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa rima
Mesmo com toda cédula, com toda célula
Com toda súmula, com toda sílaba
A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula"

28 de outubro de 2009

amor, amour, love, liebe, karl


Comecei a semana em prol do amor. Talvez o universo esteja conspirando para que eu escreva sobre ele – amor, amour, love, liebe, karl -. Ele se esconde onde ninguém percebe, em bilhetes, em um gesto de atenção, em um desenho na mão. A paciência que se esvai entre os casais envelhecidos está exatamente nesse erro: Deixar o amor se esvair dos pequenos lances. Ninguém necessita de televisão aberta e faixa no avião, ela não precisa de flores quando é alguma data especial, talvez ele só precise que ela não esqueça de trazer uma novidade (quiçá um novo tempero) na janta de (mera) terça-feira.
É por isso que venho aqui falar do amor que é simples de nascimento, do olhar, do movimento que ela faz com o cabelo, da forma como ele caminha. O amor está no silêncio que fica entre as velhas músicas (notadamente escolhidas) que tocam, está na gargalhada que ela dá na mesa do boteco, está no modo como ele repara que é o responsável. O amor está em não esquecer, por um segundo, que se é amor.


“Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num
fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar”