26 de junho de 2013

hay que endurecerse

Tô aprendendo a viver sem romance melado. Só com a vida real mesmo. Uma adaptação. Quase a mesma adaptação que largar o cigarro. Por sinal, a saudade que bate vez ou outra é a mesma. Tanto cigarro quanto romance melado (piora quando alguém conta uma história bonita ou quando alguém fala em "PITO"). De ter músicas em comum, "GRANDE CANÇÃO", dividir um Che Guevara, emails infinitos, chororô, essas coisas. Acabou chorare. Mas, só as vezes. Nas outras eu acho que vou morrer. Crise de abstinência e identidade. Dá e passa. Passa. Passou. Ou ao menos eu vou me convencendo. Beleza. Tá tudo bem, tudo zen, meu bem. Sem o bem, pra não ficar melado. E sem demora pra não irritar. Um dia explode ou vira estilo de vida. Será que eu quero ser essa pessoa?  

14 de maio de 2013

parem com essas coisas

Meu irmão se foi pros EUA. Levou com ele meu sobrinho e os gritinhos "tia, tia, tia" correndo atrás de mim. Diz que voltam em dezembro e eu finjo que vai passar rápido. Minha amiga Erika todo dia adia a volta de Portugual, diz ela que descobriu por lá a África e as melhores festas do mundo. Diz que volta em junho e eu finjo que acredito. Meu amor se foi ao Peru descobrir alguma coisa de Inca que havia dentro dele. Diz que volta logo e eu finjo que nem vai doer. Pra saudade o mundo nunca é pequeno. Não me venham com essa. 

30 de abril de 2013

saudosistas do futuro


Eu não sei se me acostumei mal com os amigos que cultivei durante toda uma vida. Eu não sei se me acostumei mal com as pessoas de quem eu gostei. Eu não sei se foi porque minha mãe me ensinou que a gente simplesmente não podia se importar com a opinião alheia porque todo mundo, no final, ia pra casa, esquecia dos nossos problemas e a gente ficava lá, preocupado à toa. Mas, em pleno 2013, por duas vezes no mesmo dia, o assunto foi o mesmo. Fofoca. E eu fiquei sem entender nada. 

A palavra fofoca por si só já me parece velha. E feia. E cafona. Fofoca. Quem ainda tem disposição pra sair por aí falando essa palavra? Mas, tudo bem. Estava eu, no meio da roda de conversa, ouvindo o assunto fofoca. Quem pegou quem, quem andou com quem, quem dormiu com quem, quem isso, quem aquilo. No meio da notícia, caras esperando que mulheres fossem santas ao noticiar que algumas delas tinham andado com outros quaisquer. "Ele dormiu com mulheres que, cara, tu nunca imaginaria". E eu querendo entender o que leva alguém a já pré-moldar as vontades de alguém. Então, para ser alguém mais "respeitável" ela deveria fazer tudo o que você, meu caro amigo, imaginou que ela faria?. Essa é a lógica? Isso faz sentido?

Olha, em algum lugar alguém deve saber o quão baixo astral é tudo isso, alguém há de convir de que isso tudo envolve muita pequenez de alma, de ser gente grande, cabeça aberta, corpo e mente mais elevados. Isso tudo me parece coisa de gente que não vê o outro como gente também, como igual, ser vivo cheio de vontades. Acho que nunca parei pra pensar nas coisas que fiz, nos porres que tomei, nos micos que paguei, nos encontros bizarros que me meti. Daí, a fofoca me cegou e me peguei refletindo isso. Se eu nunca pensei, por que um outro pensaria? Se minhas amigas não cultivaram ressaca moral, por que alguém cultivaria por elas? Se elas não ligaram (em todos os sentidos da palavra) no dia seguinte, por que seria assunto pra alguém? Tudo me parece um pouco virado. O que foi, foi, passou, zerou.

As melhores pessoas que eu conheço não ficam encucadas com esse tipo de coisa. Meus amigos sempre estiveram mais preocupados em fazer arte, música, exposições, festas, passeatas, militância e o escambal, em comprar bons discos e ir a bons shows. Chico não deve ter contabilizado com quantas foi pra cama, Vinicius certamente não lembrava de tudo que fez por aí e Leila Diniz ficaria deveras envergonhada de ver uma mulher sofrendo por ter feito algo só porque alguém comentou alguma coisa. Tipo de gente que não grilaria a cuca porque não tem tempo pra gastar cuidando da vida dos outros. Só gente cuca grilada fica nessa de comentar quem estava com quem na noite passada. Só gente cuca quente se preocupa com quem a fulaninha já andou, ou com quem fulaninho já saiu há um tempo atrás. 

Gente feliz não começa nenhum boato. Só gente triste dá início a alguma fofoca. Só gente malamada se importa com o que a fulaninha andou fazendo com o fulaninho. Inhos. Pequenininhos. Tudo diminuido. Tudo virado numa coisa inha. Uma tristeza só, tempo de vida perdido que podia ser revertido em orgasmo ou bondade ao próximo. Pode ser um jeito muito Caê de ver a vida. Pode. Mas, com certeza é mais leve, menos amargurado, menos julgado, menos condenado. E é perto desse tipo de gente que eu quero estar. Gente que não julga, que não contabiliza, que não se preocupa, que por vezes até nem lembra. Gente que só sente. E ri, ri pra vida. 

Por um "Tribalismo" no pilar da construção. Pessoas que "não entram em doutrina, em fofoca ou discussão". Sempre. 

16 de abril de 2013

é verdade

Tudo que eu disse foi usado contra mim.

4 de março de 2013

o maravilhoso dia em que eu acordei de ressaca e resolvi ser fiel ao gostar dele


Ele chama a minha banda preferida de "bandinha", debocha do tropicalismo, não gosta de carnaval. Ele reclama que eu grito, que eu dramatizo, que eu faço "treta". Ele consegue beber e não passar do ponto, não comer porcarias durante a semana, manter o mesmo tom de voz em qualquer situação. E no meio da minha bagunça eu vi que gostava dele assim. Assim bem diferente de mim. No meio do povo eu quis ele que me faz uma pessoa mais calma, menos gritona, menos pilequenta. No meio do bloco eu quis ele porque ele me faz ser melhor e mais feliz, mesmo insegura, reclamona, birrenta (e muito ciumenta). No meio da rua eu quis ele porque ele tem uma aura de gente do bem, porque ele me cuida, porque ele traz remédios, porque ele pergunta se eu os tomei, porque ele briga comigo se eu me alimento mal, porque ele se importa mesmo que eu diga que não se importa. No meio do meu sofrimento eu quis ele porque ele faz brincadeiras e eu fico gargalhando no carro como se fosse cena de filme, só que é só a nossa vida sendo a nossa vida. No meio do chão da minha casa eu chorei porque eu cansei dessa gente toda e de fingir desprendimento dele e de tentar explicar aos amigos que isso tudo é assim mesmo. Eu me prendi no abraço dele e precisei me ver sozinha pra sentir vontade de voltar pra lá. Eu não sei se ele se prendeu no meu, mas acho que ele não se importa que eu não gosto muito da "bandinha" dele. Eu gosto dele. Muito. Eu gosto muito dele. 

5 de fevereiro de 2013

é melhor


Seria fácil se fosse preto no branco. Quem ama não trai. Quem ama fica junto. Quem ama dá jeito. Quem ama faz acontecer. Quem ama não tem dúvidas. Quem ama vira uma espécie de Deus cheio de forças. Quem ama não vacila. Quem ama vira mocinho de filme americano. Quem ama isso, quem ama aquilo. Durante muito tempo eu também achei que fosse assim... Pá pum. Que amar seria o passe livre das complicações, da falta de segurança, dos dilemas, das desculpas esfarrapadas, do "deixa pra depois", "agora não é hora". Eu achava que amar seria a carteirinha necessária pra se ter certeza. Era a prova da Ordem daqueles que respondem SIM/NÃO sem esitar. - Eu te amo, mas... - Ahhhhhh então não ama, amor não tem "mas". Mais ou menos assim. Só que daí eu cresci e mudei de idéia. E aí eu vi que o preto no branco na verdade é tecnicolor. Que quem ama uma pessoa pode conseguir ficar com outra. Que quem ama as vezes não fica junto, sim. Que quem ama as vezes não consegue dar jeito, não consegue fazer acontecer, pode ter dúvidas e pode não ter de onde arranjar forças em determinados momentos. - Eu te amo, mas eu quero dar o fora. - Eu te amo, mas eu quero ser feliz. Eu cresci e percebi que essa idéia tão monocromática, pragmática e regrada, não podia ser amor. Não o meu amor. Que não combinava com a minha vida caos colorido que sempre transformei em cais. Nem com a Leila Diniz. Nem com Secos e Molhados. "Simples e suave coisa, suave coisa nenhuma". Nem com as paredes da minha casa. Nem com a regra de "só fazer o que dá vontade" que minha mãe me ensinou. Nem com a peça de cortar os pulsos em que eu via meu sofrimento no Ricardo e chorava porque o nome disso é "identificação". Nem com aprender a guardar o amor. Nem com Futuros Amantes. "O amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio". Nem comigo. Seria fácil se fosse outro retrato em branco e preto. Mas, não é. É melhor. 


29 de janeiro de 2013

planinho

- Alô? Oi amiga, sou eu. Eu sei que tá meio tarde... Mas, tô ligando pra pedir uma coisa. Pode recusar, viu? É... Então... Faz um planinho comigo? Só um. Ou dois, se não for pedir demais. Pode ser bem pequenininho e pro mês que vem. Pra semana que vem, se preferir, pra não se estender. Um planinho bobo, sem nada demais. Pode ser uma cerveja de pé em copo de plástico, um café bicolor que vem com bolachinha no pires, qualquer coisa (ou se quiser ser megalomaníaca podemos voltar a pensar naquele velho plano de alugar uma casa enorme com pátio pra poder ter todas as plantas do mundo e um cachorro chamado Baden por causa do Baden Powell). Só peço um planinho pro futuro. Vai aí um bom tempo que saí do futuro de alguém e viver só no presente (ou no ontem) tá me dando um certo saudosismo de planos. Abstinência de planos. Taí um ponto problemático da vida de solteiro que ninguém comenta. Não fazer parte do futuro de ninguém. Não ter aquela pontinha de figuração na cena do futuro de alguém (mesmo um joinha em alguma grande conquista). Não ter nenhum planinho pra dividir. Será isso porque no colégio nós fazíamos muitos planos? Acho que fui uma criança que fantasiou demais, acho que foi culpa do Pequeno Príncipe, acho que aquele livro não pode ser solto na mão de uma criança sem supervisão. Mas, sempre foi tão saudável imaginar um monte de coisas só pra dividir planos. Melhor que dividir dinheiro, casa, cama, perrengue. Os planos são a parte mais legal dessa brincadeira toda. Faz? Faz um planinho comigo? 

- Vamos planejar que tu vai parar com essa mania de ligar pras pessoas de madrugada. 

28 de janeiro de 2013

sem título

Trabalhar com criação as vezes dói. Criar qualquer coisa, móveis, roupas, casas, aeronaves, canecas, obras de arte, talheres. Mas, uma coisa que precisa ser criada do zero. No papel em branco. Como na faculdade quando o professor dizia: desenhem isso aqui. Mas, assim? Sem nem um vinhozinho antes? Criar sem inspiração é mais ou menos como abraçar alguém sem vontade. A gente até abraça. Mas, quando o abraço termina parece que arrancaram um pedaço da gente. É meio como ser infiel as próprias vontades. E eu não sou do tipo que reclama da profissão, de rotina, dos dias. (Aliás, eu gosto muito. E aliás 2, esse papo road trip de que jovens precisam fazer mochilões pela europa e conquistar o mundo e ir atrás de seus sonhos e conhecer gente de todos os cantos e etc é opressor demais pra mim. É muita pressão de felicidade colocada em outro lugar pra quem tem pouco dinheiro no banco (tipo eu assim) e que adora o aqui porque durante muito tempo sentiu saudades.) Depois da notícia da tragédia de ontem acabei dormindo e tendo um monte de pesadelos. Tive pesadelos com todos os meus medos. Enquanto eu vinha caminhando pro trabalho percebi que vários desses medos eu nem sabia. Passei o dia lembrando disso. Depois, numa roda de amigos um papo sobre "quando vamos largar isso tudo" e eu em silêncio pensando que "isso tudo" era a vida da gente, como deve ser complicado o dia da Juliana, a moça do caixa do supermercado que é minha amiga e que escuta os meus problemas, principalmente quando o preço do queijo sobe. Passei o dia tendo que criar coisas no papel em branco. Um branco que era meio papel meio eu. Deu branco total. Tô desde cedo me sentindo pequenininha. Meio boba. Meio em branco. Criei. Foi. Nasceu. Mas, doeu. Em dia de luto nacional deveria ser proibido criar alguma coisa. Errado. Em dia de luto nacional deveria ser proibido reclamar de qualquer coisa. 

22 de janeiro de 2013

bat macumba êê bat macumba oba

Um dia eu vou escrever uma dissertação sobre o INCENSO DO AMOR. O tal. O bárbaro. O maravilhoso incenso do amor que já ganhou fama internacional entre todos os nossos amigos. 

O histórico de 2012 foi bem complicado, principalmente as bad vibes do amor programadas que eu entrava. Duravam cerca de uma semana. O pico era na terça, na quarta eu me animava, na sexta eu já tava bem e a vida continuava e aí eu ficava feliz de novo e aí algo rolava e eu voltava a estaca zero e aí eu entrava na bad vibe do amor de novo num ciclo vicioso até perto da chegada do fim do ano (e aqui é válido um adendo, data em que acendi o primeiro Incenso).

A Duda (minha vizinha, amiga, confidente e mãe substituta) já sabia como era a logística. Numa quarta ela apareceu com uma sacola de presentes pra me animar. Eu tenho um fraco por presentes (principalmente os que custam menos de 5 reais). Da sacola saíram vários agradinhos que fizeram meu coração sorrir. Um desses agradinhos era o INCENSO DO AMOR. 

Veja só. Eu não sou praticante de nenhuma religião. Não por falta de fé, mas porque é muito difícil escolher uma só e envolve uma complexidade esquenta cuca que eu particularmente acho uma perda de tempo de vida. Eu acredito em tudo que me dizem. Principalmente em religiões que envolvem gente de branco. E tem também que eu nasci no dia de Santo Antônio e eu acho que, se ele tanto TESTOU A MINHA FÉ NO MUNDO nos últimos tempos é porque no futuro vai me retribuir com um COMPANHEIRO que seja o paraíso em forma de homem. Vai chegar a hora da bonança. Então, acreditar é comigo mesmo. (E, antes que alguma feminista salte dizendo que estamos colocando nossa felicidade nas mãos de algum homem, vos digo: muito curtimos a dança da solidão e até fizemos uma coreografia pra isso estilo Macarena.) 

Bom, contou a Duda que o achado do Incenso do Amor foi numa loja de artigos de Umbanda. E, como o que importa é crer, a casa logo virou uma defumação geral. No meio da fumaça a gente comentava: e será que funciona? COF COF, eu espero que sim. 

Olha, a única certeza que posso dar é que: a casa ficou cheirosa e GOOD VIBES DO AMOR tomaram o ambiente (o que não é difícil, pois é um ambiente bem enxuto). O resto não posso provar que seja 100% responsabilidade do tal, mas... A Duda tá vivendo o grande amor da vida dela e as amigas pra quem demos o Incenso (com letra maiúscula em respeito) estão vivendo romances (que se emails tivessem classificação indicativa viriam com uma tarja dizendo NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS). 

Será o fim de uma era? Será que o fim de era tem cheirinho bom? 

É isso. 2013 tá aí cheio de bossa e novidades. O que importa é acreditar. Está claro que, após aceso, a culpa de todos os males do mundo deixam de ser minhas e passam a ser do Incenso. E querido, eu confio em você. Faça de mim o seu brinquedo. 


9 de janeiro de 2013

também não é assim

Acho que eu tô fazendo merda. É. Pode ser que eu esteja fazendo merda. Nunca tinha passado por isso na minha vida. Vontade extrema de não dar a menor satisfação pra ninguém. Porque eu sempre dei satisfação, mesmo que ninguém me pedisse. Tudo o que eu fazia envolvia comentários de 2 ou 3 amigas. E, eu filosofando sobre, é por isso, por isso, mas veja por esse ponto, se pensar melhor tem tudo pra dar certo, se não der certo depois a gente vê, fica tranquila. Não por fraqueza, dúvida, nem pra pedir opinião, mas por uma sensação louca de que se eu falasse haveria uma rede pra me segurar caso eu caísse. Um aviso: olha eu tô indo pra forca, se der errado liga pros meus pais e diz que eu amava eles. Caso desse merda, caso não desse, só pra poder comemorar junto depois. Ouvi tanta coisa sobre essa história toda, tanta teoria furada, tanta pseudo dica, tanta proteção, que a rede pra me segurar caso eu caísse acabou me prendendo e me sufocando. E é amor, eu sei. Só por amor. Toda teoria, dica, proteção, cerveja, dose de tequila pra esquecer, todo blush que passaram na minha cara. Só que no meio dessa rede também tem muita cobrança. Cobrança de ser feliz, vida loca, livre, mulher, dona de si, nariz empinado, sorriso estampado, cuca fresca. E isso tá dando trabalho porque as vezes só quero ficar na minha. E, porque as vezes as coisas são bem mais complexas do que parecem, as pessoas bem mais profundas e as histórias bem mais cabeludas que nossos resumos. Porque eu não sei o que fazer e eu não tenho que fazer nada. Mas, eu tô com o coração apertado, cuca esquentada, querendo resolver uma situação que não depende de mim. O tempo é a resolução e ele decide, eu não posso me meter, e se eu pudesse talvez não me meteria. Ninguém acelera o tempo porque tá feliz, nariz empinado, vida loqueando, bêbada, na rua, maquiada (e as manhãs são tão piores). Deixa o tempo dar jeito nisso. Essa semana foi conturbada demais pra conseguir dar satisfação, pra conseguir aprofundar qualquer assunto, pra conseguir dizer o que eu acho disso tudo, e acho que eu não acho nada, eu não tô sabendo de nada e eu não quero nada. Quero não querer nada por um tempo. Só pra poder ficar em silêncio. Sem dar satisfação de nada. Correndo todo o risco de estar fazendo merda e arcando com isso. 

7 de janeiro de 2013

descoberta


- O mundo entrou numa egotrip louca, né?
- O mundo anda bem estranho. 
- As pessoas tem olhado os outros meio de cima, né? Tenho me sentido meio em avaliação.
- Mais que no colégio, né? E olha que eu sofri no colégio. É isso, estamos vivendo um grande colégio tardio. 
- É, tá tudo bem estranho. Se for parar pra pensar, 5 anos atrás era tudo bem simplinho, todo mundo era simplinho e a gente aguentava beber bem mais. 
- 2007, grande ano, talvez o ano em que o Gil aprendeu nosso nome e atendia melhor nossa mesa. 
- A gente não tinha ressaca também. Saía sexta E sábado. Sair sexta e sábado é uma virtude pra quem tem boa saúde. 
- Eu por exemplo, tinha um profile no orkut com apenas 12 fotos e era feliz. 
- Saudades do orkut com apenas 12 fotos. 
- Mas, aí começou a desvirtuação, o pessoal começou a usar depoimento como bate-papo, eles aumentaram o número de fotos...
- Foi aí que começou essa egotrip louca.
- Foi quando aumentaram o número de fotos do orkut.
- Foi. Que incrível. Que descoberta. Freud estaria orgulhoso. 
- E a gente?
- A gente segue procurando se ligar em gente que não se liga nessas coisas. 
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- Saudades do Gil, cara. 
- Grande Gil.  


com http://renatargarcia.blogspot.com.br/

8 de dezembro de 2012

modernidades


5 horas da manhã. Eu tava esperando um táxi e um cara que eu não conhecia se aproximou perguntando se eu tava triste. "Olha, na verdade eu não sei te responder". Ele disse que tava. Ele se apaixonou por uma mulher e ontem, na festa, descobriu que ela era prostituta. Pra piorar, ela também não quis ficar com ele. Ele chorou na minha frente, na rua, esperando um taxi. E eu, logicamente, chorei com ele, porque eu sou do tipo que chora. "Vai dar tudo bem certo, amores serão sempre amáveis" (e todos os meus mantras e todos os mantras que pudessem confortar).

Encontrei meus amigos de novo, desisti do táxi, disse pra todo mundo que o amor é a coisa mais linda do mundo porque a gente chora a dor de um estranho na calçada de uma festa. Eu não sei se o fato de ter ouvido os problemas do cara ajudaram em alguma coisa e mudaram o rumo da vida dele (vida: esse enorme pote de sorvete cheio de feijão), mas eu passei a ter mais fé no mundo. O Odair José teria ajudado mais. Talvez. Em pleno 2012 encontrei uma pessoa que encontrou um estranho e contou uma dor de amor pra ele. Em época de amor líquido, época de fingir que não se conhece, época de falar pouco (porque falar muito espanta, responder na hora dá bandeira, ser legal configura relacionamento e veja o livro das regras no anexo, att) um estranho me contou uma dor de amor.

Não sei onde me encaixo nessa nova onda de relacionamentos interpessoais aflitos. Não sei se eu sei e nem se eu consigo ser moderninha líquida, mesmo sabendo que o Tio Bauman esperaria isso de mim. E, não por precisar de qualquer tipo de envolvimento mais duradouro/estável ("na modernidade a duração era princípio de ação") porque nunca tive essa “bolação” de tempo e segurança (quando fui um casal nunca comemoramos datas porque não sabíamos nenhuma delas e nunca ligamos muito se fazia um ano ou dezoito que estávamos juntos). Acho que decepciono Tio Bauman porque gosto de poder falar e tenho total propensão a gostar de jogar conversa fora por aí, conhecer quem não conheço e principalmente por não ter nenhuma espécie de escudo protetor que me faça querer afastar as pessoas. Nisso, uma grande queda por homens que não gostam de mulheres que se fazem de difícil (eu nunca entendi qual é a moral de se esforçar pra mostrar indiferença a alguém que se dá bola).

8 horas da noite de um dia cheio de ressaca sendo curada em Satolep. Amor espalhado pela casa, nos petiscos da mãe, no churrasco que o pai começou a preparar, nos gritos dos irmãos, na voz do sobrinho falando “tia, tia, tia”, muitas histórias sendo contadas. Minha mãe perguntou se eu tava feliz. Agora sim, muito. 

5 de dezembro de 2012

deslumbre


Quando já tava nessa cidade há uns seis meses pensei que quando completasse um ano da minha chegada aqui escreveria uma carta endereçada a mim contando como foi. E uma aos amigos que fiz aqui, agradecendo e convidando pra mais alguns desses de histórias pra contar. Aos dez anos aqui ou em qualquer outra cidade que me acolhesse eu leria a carta e lembraria como foi aquele primeiro ano em Porto Alegre. Turbulento. Incansável. De muitas noites sem dormir. Ainda não é dia o dia escolhido pra escrever a carta, mas é final de ano e, se a publicidade agir em mim como deveria, é época de emoções à flor da pele. Por sinal, a frase à flor da pele me lembra que quando era criança ganhei uma “agenda da tribo” em que dezembro vinha com a música do Zeca Baleiro. “Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”. Feliz, ando à flor da pele feliz. Dezembro é meio beijo de novela. Meio propaganda do Zaffari. Onze meses de Porto Alegre.

Eu sempre soube que iria morar aqui. Nunca soube como seria. Perdi muito ao vir e ganhei muito chegando. Uma balança que nunca despencou muito pra um lado ou pra outro. Deixei uma vida de dois, virei um, aprendi em alguns momentos a ser dois de novo, desaprendi. (No livro que eu ando lendo “O que é o Amor” a autora diz que os amantes são sempre ignorantes). Aprendi aqui, sentada vez ou outra no Cantante, a costurar o meu coração só pra poder rasgar de novo. Porque viver é andar por aí rasgando o coração. Ninguém deixa de fazê-lo porque aprendeu a ser mais forte ou mais sábio. E, também não quero, nunca, esse tipo de sabedoria. Aprendi, tomando um “Carioquinha”, a administrar a balança (infelizmente não a do meu peso). Felicidade, dinheiro, gastrite, amor. E, por aí vai.

Dei jeito no que tinha que dar. Troquei lâmpadas. Gritei de câimbra na panturrilha (herança genética que me atordoa e que me traz sentimento de casa) sem meu pai por perto pra trazer Gelol na madrugada. Fui, na maioria do tempo, radiante. Emocionada. Deslumbrada. E o Aurélio diria “que se entusiasma facilmente por algo”. O melhor sentido da palavra deslumbrada. Uma ótima palavra que perdeu o valor nas bocas por aí. Uma ótima definição pra esse tempo aqui.

É terça. E adoro terças. Me vi de frente. Sem fantasia. Me olhando no espelho e pensando: eu passei por isso. Eu consegui me virar. Onze meses conseguindo me virar. Sem deixar nenhum aluguelzinho sem pagar, passando uma semana com apenas alguns trocados na carteira, descobrindo novos lugares que são meus, comprando uma pilha de livros que não tenho tempo pra ler, cultivando amigos e fazendo jantares pra comemorar que eles existem e que sempre se arranja tempo pra eles.
Eu que sempre fui meio descrente de mim consegui onze meses. Sem contar. Acordando e perguntando: hoje é dezembro? Hoje é. Que tempão que passou. E, como passou rápido. E, ainda tem um mês pro dia da derradeira comemoração que certamente vai passar voando e vamos todos gargalhar lembrando daqui a muito tempo. “Vamos celebrar nossa própria maneira de ser”. Desorganizada, quase sempre meio de chegada, quase sempre meio feliz até triste, deslumbrada.

Feliz onze meses, Porto Alegre. 

3 de dezembro de 2012

sei



Não sei se foi a passagem de Mercúrio, não sei se é a chegada do fim do ano, não sei se é felicidade de Natal (porque decidi gostar de Natal, eu e ele acertamos os pontos e resolvemos nos amar), mas eu tô uma mulherzinha. Ontem me peguei no telefone falando um "que amor" mais longo que de costume. Tenho ligado mais para as amigas. Tenho feito mais comentários sobre voltar pra academia. Tenho cogitado comprar uma máquina de costura. Tô querendo pintar a casa, tô pensando em quadros novos pra ela, tô pensando em desenhar em um canto da parede. Chorei vendo um vídeo de casamento que me mandaram. Chorei vendo um vídeo de criança. Só de mulherzice. Uma mulherzice aguda e feliz de fim de ano. Do tipo que fortemente se impressiona com um jantar a luz de velas no restaurante mais bonitinho dessa cidade, com abrir a porta do carro, com locadora e com Smiths. Mulherzices boas que geraram comentários. "Tá felizinha, é?". "Tô, Mercúrio se foi, né?". "Aham, sei". 

23 de novembro de 2012

pequenos términos de mundo


Por volta das 21h30min desta quinta-feira (22), um acidente no quilômetro 3,3 da BR-293, em Pelotas, deixou dois mortos e sete feridos. A colisão frontal entre um Gol vermelho e um caminhão Volkswagen ocorreu próximo ao supermercado Atacadão.

No carro do meu pai só um pneu furado e uma placa amassada. Das poucas músicas que eu sei tocar no violão uma diz: "a vida é mesmo coisa muito frágil". E é mesmo. A vida é muito frágil e tão dizendo por aí que o mundo tá pra acabar. Eu não sei se tá mesmo. Mas, sei que o meu mundo sacolejou, o chão ruiu, o céu ficou cinza, o telefone parou de fazer barulho. "O pai nasceu de novo". Meu pai já nasceu nessa vida umas 4 vezes. Tudo fez menos sentido hoje. Estar nessa cidade. A dor que eu senti no peito ontem. Estar longe. Pra que serve tudo isso? Tudo deixou de fazer sentido hoje. O que eu tô fazendo aqui mesmo? Por que eu nunca aprendi outras músicas no violão? Eu não sei. Só sei que a vida é frágil. Que é um sopro. Que meus 22 anos não são nada. Que se o mundo for terminar mesmo que termine logo e sem aviso. Mas, que não me assuste mais desse jeito. Por favor. 

12 de novembro de 2012

sinto muito

O mais irônico não é isso. O mais irônico é que vou passar a madrugada de segunda executando a escala de atividades minhas que já deveria ter feito. O meu samba acho que é Juízo Final, mas é difícil escolher um. Se tu estivesse por aqui te pediria pra me tirar da enroscada em que me meti. Mas, não. Não está. E, eu também não pediria. Perguntaria do Dirceu, te diria que é necessário assistir ao filme da Tropicália e esqueceria metade das coisas que pensei que gostaria de dividir. Queria mesmo era te contar dos meus problemas e sinto a tua falta. Muito. Sinto muito a tua falta. Sinto muito.

11 de novembro de 2012

"escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal"



Dormir só adiantou um pouco pra amenizar a minha cabisbaixisse. Síndrome agude de cabeça baixa. Sentimento gigantesco de “fiz merda”. Sem remédio. Dor agudíssima. Bateram-se portas e mais portas e coisas foram quebradas na minha casa. Janelas que dão pra Tomaz Flores aos gritos. As berros. “PORRA, LANNA, PORRA, PRA QUÊ? TU É A PIOR PESSOA DO MUNDO”. Não há ninguém no mudo pior do que eu, ele afirmava e a certeza dele me fazia ter certeza também. Pra quê? Não sei, pra nada, por pulsar, porque sim, porque aconteceu e ninguém tem culpa por pulsar, por ter coração pulsante, por viver e por beber cerveja demais. Porque sim era a resposta. Simples assim. Simples porque todos nós estamos vivendo e não só existindo. Viver nos deixa muita brecha pra fazer merda. Acredito que Capitu não baixou a cabeça quando ofendida. Olhos de cigana oblíqua e dissimulada. DISSIMULADA. Nunca ninguém soube o erro de Capitu, houve erro? Porque sim era a minha resposta, arquemos com ela. A desculpa era por não ter outra. Se minha resposta é vaga é porque meu coração é grande. E aberto. E porque eu vivo. Sinto muito.

Sentimento de cabisbaixisse. Dor aguda do caramba. Onze da manhã de um domingo no Bom Fim. No meu fone tocava “O velho e o moço” e eu saia do supermercado carregando uma sacola com: água, massa, cigarro e guisado. “Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição”. Sempre tive a total certeza disso. Na minha frente uma senhora caminhava a passos lentos: camisa laranja, cabelo comprido e branquinho quase reluzente preso com um prendedor de cabelo, bolsinha em uma mão, sacolas do supermercado em outra. Caiu. Tropeçou na calçada da Fernandes Vieira. Larguei todas as minhas coisas no chão. A levantei. Perdeu um dente, machucou o rosto. Juntei as sacolas dela, a agarrei pelo braço, vamos pra casa, vai ficar tudo bem. De braço dado comigo contou histórias. Dona Maria, 89 anos, 30 deles no Bom Fim. 30 anos vivendo na Santo Antônio. Ainda acorda aos domingos e faz almoço pra família, mas estava triste porque hoje o filho não apareceu pra almoçar. O filho noivou e agora só quer saber da noiva. Chegamos. Sacolas no lugar. “Minha filha que pessoa boa que és, pode ter certeza que vou rezar por ti, que nome bonito que tu tens”. Ela afirmava com tanta certeza que a certeza dela me fazia ter certeza também.

Chorei. Aos prantos. Não “porque sim”. E sim “porque nós vivemos”. Dois moços sendo inconsequentes. Um velho e um moço. Todos nós que nos encontramos pelas ruas do Bom Fim. Todos nós com o coração meio machucado no Domingo. Não importa. Nós vivemos. Nós estamos vivendo.

"Ganha-se a vida, perde-se a batalha!"

8 de novembro de 2012

não somos nós, são vocês

A internet é uma doidera boa tão grande que alguns simplesmente não tem bom senso pra desfrutar. Mas, tirando toda a parte ruim, a parte boa me faz feliz como um inteiro. Nesse inteiro, um chat em que minhas amigas estão juntas. Mesmo cada uma em sua cidade. Cada uma em uma cidade, isso sim é uma loucura. Hoje uma apareceu com um papo que fundiu a minha cuca (e eu pude imaginar ela me encontrando e sentando no Monjolo Café, rindo e tirando onda das nossas peripécias). "Então, veja só, depois do amor louco vem ele com um papo de que está preocupado comigo, ora preocupado comigo, preocupe-se com você meu caro, deixe que eu me resolvo". Quem dera o Xico Sá cruzasse vez ou outra com ela na rua. Muitos livros seriam escritos com os conselhos dela. Por enquanto eu sou uma das poucas sortudas que tem aulas de vida com as frases que ela fala. Divagamos muito sobre a tal conversa "pós amor louco" e devaneios sobre a frase "te cuida". Terminei fundindo a cuca e chegando a conclusão que os novos machos estão passando por um momento delicado de responsabilidade aguda. Foram muitos e muitos anos sendo chamados de CANALHAS e sendo, em 90% dos casos, os responsáveis pelas roupas jogadas das janelas, que hoje, quando o jogo do amor não tem mais favoritos aos erros... "Eu não quero te fazer sofrer". Pois, me dê o prazer da livre escolha. "E eu? Quer dizer que não posso te fazer sofrer? Não duvide do meu potencial." Meus caros, comecem respeitando a nossa alegria de ter nascido em uma geração de libertação feminina, em uma geração em que as mocinhas são chatas e geralmente ignorantes quanto as coisas boas da vida, geração que fez a Kelly Key parar de cantar. Não se preocupem com a gente. Saibam que hoje nós temos a total tranquilidade de acordar na casa de um estranho (e tomar café da manhã com ele). Nós vamos nos virar e se deixarmos o sofrimento bater a nossa porta é porque, lá no fundo, é bonito e nos faz viver, melhora a nossa pele e geralmente ficamos mais bonitas. A gente pode simplesmente se distrair se não quiser sofrer. E se quisermos sofrer, nos deixem sofrer, não temam o sofrimento, não temam fazer alguém sofrer, a vida é feita disso. Então, DEIXEM COM A GENTE, meus caros novos machos cheios de responsabilidades. Apenas, por favor, respeitem todos os sutiãs queimados e tratem de tirá-los quando vestidos. Abandonem esses tais " te cuida". A gente sabe se cuidar, meus caros. Se cuidar não deve ser mais difícil do que trabalhar o dia inteiro pra conseguir pagar o aluguel no fim do mês, certo? Libertem-se, machos responsáveis. E nunca, em nenhuma circurstância, acordem dizendo que estão preocupados conosco. Não engrandeçam o ego tanto assim logo de manhã. Engrandeçam outra coisa. 




5 de novembro de 2012

que papinho


Ando numas de fazer coisinhas. Só coisinhas. Fazê-las. Escrevê-las. Inventei que escrevo um diário também. E, veja só, isso me faz escrever mais. Coisinhas. Numas que entro na agonia de ligar pros amigos dizendo que quando chegar no Rio quero espalhar alguma coisa por lá. Cartazes, bilhetes, alguma coisinha pelo Rio, como a gente fazia na faculdade, "tenham idéias, tenham idéias". E ninguém levando muita fé “tá, tá, tá, a gente faz”. Só pelas coisinhas. Criar coisinhas. Tava quietinha lendo e imaginando que cossitas podia fazer por aqui também, sem alegria de viagem, com aquele sentimento de casaaindanãocasa mezzo estranho que tenho com a cidade. Coloquei pra tocar uma música do Tom porque o Tom sabe de coisinhas. E, do banheiro veio uma voz: “porqueee fooooste na viiiida a úúúúltima esperança”. Que momento bonito foi esse. E eu rindo e dizendo “que momento bonito foi esse”. E, a despirocada da Eduarda cantando sem entender nada, “eu nem sei como sei essa música, bonito o quê?, tu é maluca?”. Devo ser meio maluca. Meus amigos me fazem ser mais na maioria das vezes. Por isso essa vontade louca de espalhar coisinhas por aí, cartazes, bilhetes, pinturas, qualquer coisa. Pelo coração aberto. Pra abrir o coração do outro. Colocar pra fora. Fazer com que o outro cante Tom Jobim no banheiro e ache lindo, ou não, ache engraçado ouvir uma voz interpretando uma música triste como se fosse karaokê e de tão engraçado bonito. Arte é outra coisa. Eu sou humilde. Eu só quero fazer coisinhas. Eu quero meus amigos de coração aberto. Eu quero que as pessoas que vejam coisinhas abram o coração. 

4 de novembro de 2012

por um domingo só disso e ócio


E eu tinha dezenas de tarefas (inclusive domésticas das mais urgentes) pra hacer. Que difícil a vida daqueles que postergam (sempre que dá). Embolamos tudo. Bem fazia minha mãe que servia a janta e logo já lavava os pratos e logo já estava tudo pronto e logo já partia pra outra tarefa. Nós (os tais postergadores) nos damos mal sempre. Passamos um dia inteiro fazendo as tarefas que poderíamos ter feito um tantinho a cada dia. Me encontro aqui na frente de um computador que me avisa “FALTAM AINDA MUITAS TAREFAS”. Muitos checks não dados. Me encontro sem concentração nenhuma pra hacer absolutamente nada. Tela em branco. Música ali. Música acolá. Andadinha pela casa. Senta de novo. Olha, o São Paulo fez gol. O pai que passou uns dias aqui (e deu show nas teorias mais diversas) deve estar feliz. E a tela segue em branco. Calor danado na rua, pessoas passando com mate em punho e deixei o meu no sirviçu no pensamento de “amanhã eu pego, amanhã sem falta eu pego”. Não tenho mate, nem inspiração. Só tenho tarefas e tarefas em um domingo calorento onde todos os que não embolam estão na rua desfrutando de seu dom divino de não embolar. Olha, o Fluminense fez um gol. Complicou. Mas, facilmente aceitaria um pedido de casamento do Fred. Passarinho cantou. Pompinha passou perto da janela. O juiz deu quatro minutos de prorrogação. E a vida passando. Nós, os postergadores de tarefas, temos uma facilidade tremenda em aceitar prorrogações e acabamos sofrendo no domingo. Ah, os domingos. Como são cruéis os domingos. 

30 de outubro de 2012

toque de queda


Me convenci que o melhor era aceitar meu motivo justo. Saí do trabalho, passei no supermercado, comprei vinho branco, conversei com a moça, “eles vão conseguir, eles vão acabar com tudo, fui no Bambus e tava horrível, tu nem sabe” (como se não tivesse comentado isso comigo umas 78 vezes e eu 78 vezes com a mesma cara “eles nunca vão conseguir acabar com a boemia, fica tranquila”). Comprei uma taça enorme, acho que se eu me esforçar minha cabeça entra dentro dela e eu vou parecer um astronauta (ou um escafandrista, veja que bem tal semelhança). No vinho tinha kiwi, maçã e laranja, coloquei pra comemorar o verão (ou a primavera, que seja, os moços da previsão que decidam). Ficou colorido, lindo.  A Duda bateu aqui preocupada. Vinho? Hoje? E a academia? Descomplica. É terça, é dia de comemorar o verão (a prima Vera, que seja, que piada horrível). “Ihhh, sei não”. A janela merece. O ventinho quente que bate quando a gente senta nela, merece. “Merece, merece”. A Luísa mandou um link: um site que combina o que estamos escutando com o drink que temos que beber. Deu whisky, era Drexler. Tô um pouco errada. Aqui tem Drexler. E, essa capa é uma das melhores capas de disco do mundo inteiro. Quiçá a melhor, no meu exagero. Uma cama branca, bagunçada, de quem acabou de acordar, amar, ficar junto, só junto, acordando, bagunçando, amando, puxando pra um lado, pra outro, puxando o outro pra um lado e pro outro. Ouvia muito esse disco quando fazia aulas em Porto Alegre. 2010. Que ano puxado. Que inverno do cacete foi aquele. Muitas e muitas noites na rodoviária esperando o próximo ônibus pra Pelotas e pensando “quem dera uma cama branca, gigante, cheia de travesseiros”. E eu nem sabia. Quem dera ficar junto, ouvindo, só junto, acordando, bagunçando, puxando a coberta. Quem dera poder ligar pra avisar que acabou a primeira garrafa e é preciso que traga a segunda. Traz mais uma, vai faltar pra te ver gargalhar! Eu quero te ver gargalhar. Uno no elige de quien se enamora, ni elige que cosas a uno lo hiere, não é mesmo? Mas, tudo bem. É verão (primavera, que seja, que eles decidam). Acabou o vinho. Acabou tudo assim, acabado, no silêncio. Eu que nunca soube lidar com silêncio, silencio. Da janela as pessoas foram deixando de passar, os carros foram indo embora e o silêncio. Silencio. O vinho, meu calcanhar de Aquiles. Talvez o nosso. La noche estaba cerrada y las heridas abiertas. O vinho, meu calcanhar de Aquiles, mandou lembranças no silêncio. Cualquier contrasentido hoy cobra sentido y se vuelve dilema para este corazón anhelante. E, sem a segunda garrafa é fim. Meu motivo justo. Todos os motivos justos. Todos voltam a sus puestos.

motivos justos

Calorão. Início da temporada de sentar na janela. Dúvida cruel se troco academia por passar no super pra comprar uma garrafa de vinho branco pra deixar gelando. Sentar na janela com o livro novo. Beber o vinho em um copo porque minha casa não tem taças. Calorão. Início da temporada de ainda ver o dia no final do dia na minha janela. Início da temporada das florzinhas roxas que ficam caindo na calçada, dos velhinhos que acordam cedo pra dar jeito na bagunça delas, no colorido que elas deixam na rua. Desisti da academia pra comemorar o início da temporada de ser feliz. Viva o calorão! Viva o vinho branco gelado na janela de uma casa que não possui taças! Viva! 

26 de outubro de 2012

não tem de quê

A Rosa veio chorando pela rua. Que Rosa que chora, como chora essa Rosa. Chegou aqui era só orvalho. Ô Rosa. Explica, Rosa. Fala, Rosa. "E por isso não vale chorar", Rosa. Tanto choro era culpa do moço? Era culpa da Rosa? E a Rosa chorando segurando o coração apertado. Fala, Rosa. Conta pro moço, Rosa. Conta pra ele da prova de amor. Conta pra ele, Rosa. Conta pra ele que prova de amor é fazer com que o amor não exista. Conta pra ele que prova de amor é podar o amor. Conta pra ele que prova de amor é cortar o amor pela raíz. Conta pra ele que Rosa que corta o amor pela raíz vive à Deus dará. 

ei você aí

Perdi o cartão magnético que me autoriza a entrar no prédio do "serviço". Uma vez a Camila Morgado, que é chata, mas numa boa entrevista pra Lola disse: se a gente fala "serviço" sai o encanto e entra a vida real (eu não lembro na verdade, mas era algo assim). Perdi como perco várias coisas pela vida. Como já perdi celular, brincos (mais um dos vários motivos que me fizeram parar de usar brincos), dinheiro. Pratico o desapego todos os dias com as minhas colinhas de cabelo, por exemplo. Perdi. Fiquei usando um provisório porque pra conseguir um novo preciso pagar uma nota. Ainda bem que os porteiros me chamam pelo nome e nunca deixam de dizer "bom descanso, Lanna". Hoje acordei cedo, tomei banho, botei pra tocar o Letuce que tinha gostado, deu até tempo de secar um pouco o cabelo. Desci as escadas e em cima da minha caixinha do correiro tava o tal cartão magnético. Ele é todo branco e não tem nome e eu não sei quem foi a pessoa que o achou, nem onde, nem como colocou em cima da caixinha do correio, nem se essa pessoa sabia que eu era atrapalhada e que perco coisas. Só sei que eu fiquei feliz. Ah, e os porteiros também. Obrigada pessoa boa que fez questão de ajudar o próximo. O carma bom vem em dobro! 

22 de outubro de 2012

sobre a Luli e pecados

Quando a gente era adolescente, com uns catorze, quinze anos, por aí, a Luli tinha um apartamento que nós transformamos em um ninho. Era diferente. Ela morava com a mãe e a mãe dela nunca parava em casa. Isso fazia com que a gente tivesse a total liberdade de colocar música muita alta e de nos alimentarmos muito mal. Nuggets, quase sempre. Só ouvíamos as mesmas músicas e os vizinhos cultivavam um grande rancor por aquela baderna. Principalmente o síndico gordo e suado, que era um cara mau. Ficávamos alternando entre o dvd do Tribalistas e Los Hermanos (e a gente se orgulhava muito que "só a gente no mundo inteiro" gostava de Los Hermanos, porque éramos meio imbecis nesse sentido). Desenhávamos nas paredes, escrevíamos poesia, discutíamos sobre amor e sofríamos, sofríamos, sofríamos por amor, mas na maioria das vezes inventávamos só pra poder sofrer mais um pouquinho porque achávamos bonito. Eu até desenhava, veja só. A Luli sempre foi artista. Com a Luli eu aprendi que algumas pessoas simplesmente nascem com a arte no coração, outras não. Acho que nunca disse à Luli o quanto sinto falta de ir chorar no colo dela, me enrolar no edredon da Pocahontas e pedir "Luli, arranca isso de mim". Eu sinto falta, Luli. Eu sinto falta de um tempo que a gente inventava isso pra criar mais bonito, pra chorar ouvindo Los Hermanos. Eu sinto falta. Faz alguma coisa, Luli.  


Falados os segredos calam
E as ondas devoram léguas
Vou lhe botar num altar
Na certeza de não apressar o mundo
Não vou divulgar
Só do meu coração para o seu
Pecado é lhe deixar de molho
E isso lhe deixa louco
Não, eu não vou me zangar
Eu não vou lhe xingar
Lhe mandar embora
Eu vou me curvar
Ao tamanho desse amor
Só o amor sabe os seus
Não, eu não vou me vingar
Se você fez questão
De vagar o mundo
Não vou descuidar
Vou lembrar como é bom
E ao amor me render

16 de outubro de 2012

a descomplicada do Bonfa

Eu gosto da Duda porque a Duda simplifica. A Duda é minha vizinha de porta. A gente mora porta-com-porta. Quando me mudei pro prédio demorei a ver que a Duda morava no apartamento da frente. Um dia cheguei do trabalho e peguei no sono, acordei assustada, atrasada pra um show e sem um puto pra pegar um táxi. Vesti o primeiro vestido que encontrei e bati na porta da Duda pedindo dinheiro emprestado. O que me faltou de vergonha na cara sobrou na Duda de boa vontade. Desde lá era isso, abridor de vinho pra cá, bilhete agradecendo um favor pra lá e de vizinha a Duda passou a ser a Duda que simplifica tudo. Quando a Duda sente vontade de alguma coisa, ela fala, simplifica. Discursa alto, reclama, anda pra lá e pra cá segurando um cigarro, "hoje preciso de um cigarro, só hoje", conta dos casos capengas de amor e faz piada, ri da maioria deles. Quando a Duda quer alguma coisa, segura a Duda. Mas, ela simplifica. Ela não complica. Subindo as escadas teoriza: sim, é lucro, não, continuo na mesma e a minha mesma é boa. A Duda não complica. A Duda me descomplica. E, desde que a Duda virou a Duda que me descomplica, toda vez que vou complicar a Duda abre a porta e diz: só vê se não complica. E, até tento orgulhar a Duda porque ela fala alto e com muita ênfase. Descrente, a Duda que me descomplica as vezes perde as esperanças em mim: tu vai complicar né? Vira, resmunga e bate a porta: vou até fumar um cigarro. Eu gosto da Duda porque a Duda simplifica, mesmo que não consiga. 

14 de outubro de 2012

ora pois



Acabei de receber um email de uma amiga que está em Portugal. Que coisa. Amigos espalhados pelo mundo. Que saudade dos meus amigos todos juntos, todos na mesma cidade, mesmo que nós não nos víssemos todo dia. Que coisa. Que pensamentinho de gaiola. Foi o mundo, então, que cresceu? A gente cresceu. Ela estava feliz, impressionantemente feliz. Imaginei as ruas que ela descrevia, os prédios, ela toda artista fotografando, se inspirando, vivendo, criando, embelezando o mundo. A maioria dos meus amigos embelezam o mundo. Deve ser por isso que tenho tanto orgulho deles. Deve ser por isso que tenho tanto orgulho dela lá. Ela que sempre disse que ia e foi. E só avisou, “to indo”. Que coisa. Que lindo. Ser livre assim. Que lindo ser livre assim, que lindo crescer assim, que lindo embelezar o meu dia com um email assim, que lindos são os emails longos. Que lindo. Que linda! 

13 de outubro de 2012

tudo sobre minha mãe


Desde que sai de casa passei a ter saudades antigas (porque existe a saudade nova, aquela de tempo recente). Não tenho muitas saudades do meu quarto (que virou quarto de hóspedes), por exemplo. Nem dos vinis do meu avô que ficavam espalhados nas paredes, nem dos quadros da Audrey, nem de sentir medo de ir até a cozinha porque tinha que andar o corredor inteiro. Não. Minha saudade ecoa em coisas específicas, como a mão da minha mãe. A minha mãe tem a mão mais bonita que já vi. E sei, porque reparo em mãos. Muito. A minha saudade propagou nas mãos da minha mãe fumando Benson Mentolado, nos tempos em que ainda era bonito fumar. Meados de noventa. Tenho a cena gravada. Unhas compridas, esmalte sempre clarinho, dedos finos e longos, o tal Benson Mentolado. Quando ela se expressava gesticulava com a mão bonita segurando o cigarro entre os dedos e acabava ficando numa moldura de fumaça. Minha mãe fumava bonito quando ainda era bonito fumar porque o fazia devagar e porque tinha a mão mais bonita que já vi. Todos na sala ficavam olhando pra ela. Os dedos compridos. O esmalte clarinho. Quando lembro dessa cena sinto falta do cafuné da mãe mais bonita que eu já conheci. Sinto saudade da mão da mãe mais bonita que já conheci. E é quando não aguento de saudade e acabo dormindo no quarto de hóspedes. 


11 de outubro de 2012

conselhos da moça loira do salão

- Tem que ser queridinha, mas não muito, senão acostuma mal. Tem que se mostrar braba também, mostrar quem manda. Sem essa de ficar sempre fazendo as vontades. Te faz de difícil, mesmo que as vezes tu queira fazer alguma coisa, te abstêm de fazer só pra mostrar que não tá aí, esperando. E, não, nunca, jamais, liga. Se ele quiser vai ligar. Se tu quiser vai ficar esperando. Mas, eu não te diria pra ficar esperando, se tiver esperando, por favor, finge que tá ocupada. Isso serve pra mensagens também. Por sinal, não esquece da regra da comunicação: máximo duas tentativas. Podem ser duas ligações, ou duas mensagens, ou uma mensagem e uma ligação. Se ele tentar se comunicar com mais de duas tentativas, minha querida, é chato. É batata. Daqueles grudentos, pegajosos, eca. Sai fora. Ele precisa ter bom senso. E tu também. Bom, daí se ele se comunicar tu manda uma mensagem. Ele responde. Mas, não dá muita bandeira. Responde o básico. Não te mostra desesperada e nem conta os problemas do teu dia. Sem problemas, os problemas são teus, não dele. Senão vira aquele tipo de mulher problemática que senta na mesa do restaurante e já sai logo contando um problema. Homem odeia problema. Ah, importante, sempre tenha os reservas, eles são essenciais. Valoriza os reservas. Uma conversinha aqui outra acolá. Que daí dá pra fazer um ciuminho. E fica sempre bonita, né gata?, unha feita, cabelo arrumado, rímel, depilação em dia. Faz uma academia também, né, porque... por favor. Mas, assim, te coloca sempre em primeiro lugar. Tem que se valorizar. 

- Depois de ser queridinha eu tinha que fazer o que mesmo?