1 de julho de 2010

maldito seja jean-paul

Eu, meu livro de rodoviária e os passantes que mal me percebem aqui. No lugar das partidas ficam sempre as mesmas angústias. Ta meio frio, daqueles que a gente sente hora sim, hora não. O Sartre embaralhou a letra e misturou a mim. A liberdade nonsense de que falava destoou com minha vontade de acordar logo em casa. Eu que tanto levantei essa bandeira me peguei pensando nas vezes que não fiz sentido algum. Já é hora de ir embora. Deixei no velho banco um bilhetinho que dizia: “Et vous êtes libre?”. Me fui. Sentimento de dever cumprido. No lugar das partidas hão de ficar, sempre, as mesmas angústias.

28 de junho de 2010

interlúdio

Acordei meio sem graça. Meio com vontade viajar. Meio com vontade de ficar. Meio assim. Meio nunca é bom. Bom é inteiro. Se não for, que arranque os pedaços, que nada sobre. Melhor que seja ausência. Metade nunca é o bastante. Metade logo termina. Metade da graça. Metade da vontade. De ir, de ficar. Acordei meio assim, meio morna, meio branca, meio no reflexo da janela, meio cigarro, meio projeto escrito. Logo passa. É meio fim. Meio sem nexo. Meio sem cadência. Inteiramente em silêncio.

23 de junho de 2010

severino cadê meu briefing?

Manhã Manha Acorda Treme Aula Reunião Trabalho Prazo estourado Reunião Reunião Relatório “Tá errado” Faz de novo Vê mais um café Briefing Branding I’m cansading Tudo pro altoing Cumpre as horas Pesquisa Ensino Extensão De mim Dorme Acorda E finge que não gosta por mais um dia

21 de junho de 2010

(s)enfim

Prepara o jantar. Faz do silêncio um charme. Discorda de mim. Serve mais um copo. Desespero meu. Química nossa. História. Geografia. Filosofia do teu pensamento. Apaga a luz e chega mais perto. Braile do teu corpo. Verão do inverno. Apaga o sol e começa tudo outra vez. Discorda da Geografia. Serve mais um pensamento. Química da luz. História do teu corpo. Minha filosofia por água abaixo. Braile com o sol. Faz charme com o meu desespero. Começa tudo outra vez. Enfim. Sem fim.

15 de junho de 2010

monocromia

Foi quando disse: “Coloca fora essa caixinha de lápis de cor que tu teimas em carregar. Deixa as pessoas em preto e branco. Essa mania ainda te faz mal”. Isso aconteceu faz tempo. Tanto tempo que havia esquecido. Lembrei. Do conselho e da caixinha. E, cheguei à conclusão que deveria colocar os dois no lixo.

14 de junho de 2010

chá de habu

Bebi o primeiro gole e coloquei para tocar “Amar La Trama”. Existe uma aura envolvente no espanhol. Algo que não seja compreensível no primeiro ato, que deixe certo mistério, que enrole a língua. Espanhol é certo suspiro. Suspiro. Suspiro é verbo e substantivo. Tenho pensado besteira. Os olhos piscam mais devagar. Alguém enviou um perfume, alguém enviou um bilhete. Preciso agradecer. Preciso beber menos café. Preciso agendar melhor os compromissos. Prestar mais atenção no pôr-do-sol. Preciso pensar menos, escrever mais. Preciso de um segundo gole. Preciso de alguma coisa que ainda não sei bem. Mas, preciso. E isso me leva ao terceiro, ao quarto, quinto gole. E suspiro vira verbo. E o verbo vira eu. Eu viro substantivo. E, eu suspiro.

1 de junho de 2010

a gente quer ver horizonte distante

Chegou Junho. Nem vi. Vou fazer vinte anos. Um absurdo que me parece mais poético. Vinte anos. Soa melhor. Chegou Junho. O mais gélido dos doze. Encontro-me aqui, ouvindo Odair José, avistando o calendário. Chegou Junho. Quer dizer que, metade do ano já se foi e metade do ano ainda está por vir. Mesmo que isso, no fundo, não vá mudar em nada. Chegou Junho. Hão de saciar os namorados, as rosas, os presentes. Hão de embravecer os mal-amados. Chegou Junho. Deixando a ponta do nariz gelada, as mãos mais abrigadas, as aspas escondidas. Ninguém o canta com quimera. Tão pouquinho tem outono. É meio termo. Chegou Junho. E quanto a mim, sigo assim. Como não fazê-lo?

31 de maio de 2010

em verso, inverso

Vi
E veio a mim
O cara
Vestido de idéia
“Querubim”

Sorri
E veio a mim
Pele de poesia
Mordida de nó
Ar de maresia

Pensei
E veio a mim
Aquele moço
Destruindo a métrica
De rima e osso

Sosseguei
E veio a mim
Virou verso
Pensamento do avesso
Inverso

18 de maio de 2010

senão eu te invento por toda eternidade

Na minha frente estava Décio Pignatari. Era hora de fazer silêncio. Foi então que ele disse: “A gente já não sabe mais apreciar uma bela poesia”. Eu que por tantas vezes pensei ver o ressurgimento da utopia poética, fiquei triste. Será mesmo que foram-se os amores? As dores? Tenho medo que os poetas, eternos egoístas, não levem em consideração a promulgação. Esta quantidade extrema de lugares onde a poesia ganhou espaço deixa-os levemente frustrados. O que acabou foi a mesa de bar, quando não existia lei anti-fumo, quando o uísque era charmoso, quando as cartas demoravam a chegar pelo correio, quando a publicação em um livro era a única forma de expansão do trabalho. Vemos poesias em blogs, em lambes na rua, em encontros, nos olhares. A poesia está aí para quem ainda a quiser. Os mesmos de sempre. A pequena parcela que sempre se interessou. A única diferença é que hoje já não se pode mais fumar no bar, as intenções chegam por e-mail e os best-sellers são de auto-ajuda – geralmente sobre a forma mais rápida de ficar rico - . No entanto, quem sou eu para contrariar Décio, bom mesmo é esquecer de tudo e apenas ouvi-lo. Um velhinho em forma de poesia concreta.

25 de março de 2010

juízo e carnaval

http://www.recotada.blogspot.com/

Um pouquinho de Lanna no mundo da recotada sem cetim, mas cercada de gente talentosa que fez do cimento um dos lugares mais legais que eu já vi. Um beijo pro pessoal da organização, que fez desse cinza um colorido genial.

O quê? Recotada, exposição de arte.
Quando? 26 de março, 18h.

Espero todo mundo lá!

24 de março de 2010

entre

entre tanto
restou tão pouco
entretanto
ainda me agarro aos cacos
entre tanto
amor, ódio, rancor ainda há
entretanto
para nós dois

17 de março de 2010

cafeína

todo e qualquer
tipo de insight
que já tive
na vida
ferveu junto
com a água
do café
que eu estava
preparando

9 de março de 2010

hein?

Dor de cabeça, incomoda. Bater de carro, incomoda. Gritaria, incomoda. Fome, incomoda. Vontade de fazer xixi, então, incomoda e muito! Gastrite, tentar parar de fumar, ficar sem café, insônia, incomoda, incomoda. Nietzsche, incomoda. Saldo zero no banco, incomoda. Então, toca aquela música no rádio, chega uma mensagem no celular, uma nota de dez esquecida no casaco. Em uma fração de segundos os momentos bons esmagam os ruins, afinal, um sorriso no rosto é muito mais memorável que uma cara de pastel. Eaí, o que aconteceu mesmo?

8 de março de 2010

e essas coisas que diz toda mulher

Dia da mulher, muito rosa, vermelho e congratulações. A televisão nos faz mais guerreiras, os cartões mais sentimentais e as flores mais ternas. Há por detrás disso uma fórmula de mulher perfeita: linda, inteligente, trabalhadora e que saiba preparar um jantar apetitoso. Típica mulher de catálogo do shopping, ótimo! Quando antes o marketing sobre o culto feminino girava em torno do ser “dona de casa”, aquela do avental e batom vermelho, hoje o barato é não ter um descanso na agenda. E eu, acho belíssimo! Charmoso mesmo é trazer de bônus aqueles modos cinquentinhas, uma receita de família, uma lingerie de surpresa, um dia no salão. Bônus.

Hoje meu parabéns – e extensa admiração- vai às damas “século XXI”, aquelas que realmente têm o poder da síntese: mil mulheres em uma só. Uma para cada momento do dia, uma para cada compromisso na agenda, que sabe ser o chefe, que sabe ser sexy, que sabe comentar sobre aquele livro, que sabe exatamente o que comprar no super. Uma mulher que “vem com tudo”, em todos os sentidos. São esses tipos que merecem um dia, um cartão e flores, merecem aparecer na propaganda do Dove, serem transformadas em literatura, uma música do Chico. Mulheres perfeitamente imperfeitas, manhosas, mandonas, deliciosamente bem sucedidas, deliciosamente mulheres, deliciosamente de unhas bem feitas. Parabéns.

1 de março de 2010

domingo no templo


Ele disse: - Todos deveriam ganhar uma pedra, ela se torna metade de toda nossa força interior, a força que nós deveríamos ter para enfrentar os problemas, o resto fica com a gente mesmo. Pega ela e guarda, quando precisar, segura firme até tudo passar.

E pensei: - Quem me deu esse meio coração, aceita devolução?


"Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais"

23 de fevereiro de 2010

senhora desse amor

Faz cara de quem já sabia, de quem já esperava por isso. Finge que o rumor é antigo demais perto da tua sabedoria. Dá gargalhada como se ela fosse muito pior, de uma ignorância que te faz superior. Arrisca dizer que tem cara de traveco. Balança os cabelos e fala mais alto, diz que ele não deve ter sentido as mesmas coisas que sentiu contigo, e que se experimentou de tudo, fingiu. Ela não tem música em comum, esperança. Pisca os olhos devagar, é sinal de tranqüilidade, talvez ela não tenha ganho uma dedicatória no livro, isso ainda te faz mais adorada. No pretérito. Ela arrancou dele algumas cervejas, uns beijos, algo mais e foi embora. Acreditou ser a rainha da noite. Mas no fim das contas, de camiseta velha, aquele sapo continua sendo o príncipe da tua vida.


no fone: She & Him - You really got a hold on me

22 de fevereiro de 2010

CALLmeKAT

Algumas músicas simplesmente caem no nosso colo. Algum amigo mostra, toca no café, passa no programa de televisão. Elas são pequenos pedaços de loteria, alteram a trilha sonora da nossa vida sorrateiramente. Hoje isso aconteceu, conheci “CaLLmeKAT”, apelido pra Katrine Ottosen, uma menina linda que mudou o meu dia. Tamanho egoísmo seria não compartilhar esse acontecimento, não sou ninguém para dar dicas, é apenas uma declaração de um coração amolecido, mas pode acreditar em mim.

Dita cuja: http://www.youtube.com/watch?v=LxYnQxqLJEM&feature=related

18 de fevereiro de 2010

tu tens uma caneta?

Se escrever é uma terapia, sinto muito Doutor, sei que ando relapsa. No entanto, é só uma tempo fora, um pé na grama - outro no céu -, um caminhar flutuante, essas coisas sinônimas à descanso. E então, a gente perde os guardanapos escritos e embriagados, é de praxe. Mas, ao menos eles ficam espalhados pelas ruas da cidade, e talvez, perder as palavras tenha virado a minha terapia de férias.

10 de fevereiro de 2010

“Mas, de que autor?”

Impossível não amar as teorias, mesmo sem concordar, amo-as todas. Teorias de conspiração, de idolatria, de amantes. Teorias furadas, de bar, borrachas. Admiro intensamente aqueles que afrontam a roda de amigos, falam mais alto, batem na mesa, possibilitam ao outro o conhecimento daquela guardada ali há tanto tempo – ou melhor, aquelas que nascem no palavrear da hora . Eis que tenho uma:
- “Fiéis são aqueles que possuem uma lei a cada instante”.
Porém, mesmo que moral houver, “não coloco a mão no fogo, só um louco o faria”. E ainda cito o embasamento.

26 de janeiro de 2010

Solta, é meu!

É engraçado essa coisa de falar “Viva cada dia como se fosse o último”. Ninguém acorda e vai trabalhar no último dia de vida. Ninguém paga contas, se faz de difícil, aposta em conquistas. Ninguém estuda, faz prova, se importa realmente com a vontade alheia, no último dia de existência. É tudo balela.

Se tivesse o poder de mudar o jargão, diria: “Viva cada lance como se fosse o único”. O chefe como se fosse o único que te contrataria, a conta como se fosse a única na gaveta, ele como se fosse o único que sabe te irritar – e te amolecer – daquela forma.

O valor das coisas não está em ser fim, mas sim, em ser incomparável. E nosso.