28 de novembro de 2006

Dos olhos d'água



Tão somente menina, adornada de laços nos cabelos e sapatilhas apertadas nos pés. Aladas, com jeito de voar para onde fosse, mesmo que somente em seus sonhos. Seus olhos negros contrastavam com as águas calmas daquele velho lugarejo, a pequena praia escondida entre as montanhas de seu pensamento. Acompanhavam as ondas como sinfonia dos silêncios, poderia até mesmo escutar a voz de seu amor. E este sussurrava no coração da pobre menina:
-Terra a vista Marujos!
Todos o dias traçava o mesmo caminho pela areia branca, repleta de bichinhos que a menina faziam companhia, todos os dias ficava a olhar o mar e esperar. Dia este que nunca chegava. Desvanecida de amor não perdia suas esperanças, fitava as ondas, fitava o céu, olhava para dentro de si e nada avistava.
Cansada da longa espera resolveu mudar seu rumo e caiu. Um abismo tão profundo e intenso. Lá não havia ar, nem cor, nem bichinhos para se conversar. Tudo era cinza, feito de concreto e aço, como um grande e feio monstro.
Acordou assustada, olhou imediatamente para seus pequenos pés e neles não encontrou suas asas, olhou em sua volta, fechou os olhos almejando voltar a adormecer, abriu-os novamente e deparou-se com uma vida inteira a esperar por seu amor, não mais em sua nuvem, mas em seu mundo real.

“Morena dos olhos d'água, tire os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho
pra lhe dar". (Chico)

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