12 de setembro de 2010

Ela me chamava de Quimera

Parte 1 - Sobre a minha preguiça

Ela dizia que eu tinha mistérios. Lembro disso e rio. Um homem como eu, tão perdido, teria preguiça até mesmo de fazer rodeios. Um homem como eu, que escuta blues e recita Manuel Bandeira, não poderia ser tão enigmático. Acredito que eu a mantinha por perto porque ela realmente acreditava que por detrás da minha simplicidade existia algo mais. Pobrezinha. Ela acordava e falava tanto que mal conseguia acompanhar seu ritmo. Era rítmica, na maioria do tempo. Trazia uma inquietação que me dava certo tédio do que ainda deveria ser feito, eu realmente achava que nada deveria ser feito. Por vezes hesitei em calar-lhe a boca afirmando que o mundo estava em boas mãos e que a nova política não alteraria os nossos dias. Mas fingia prestar atenção. Fechava os olhos e resgatava a mim mesmo daquele mundo criado por ela. Vai ver eu não queria nada criado. Queria usado, rasgado, maltrapilho. Procurava outras que fossem mais simples de gênero e acabava voltando com sorriso amarelo e estômago vazio. Ela me chamava de Quimera e até hoje penso no significado disso. Ainda tento lembrar se eu a chamava de algo.

Um comentário:

Diogo disse...

Gosto Muito dos seus textos! (:
Um dia publico os meus!