Insoniazinha desgraçada que apareceu por aqui. Fazia tempo
que não tinha uma insônia dessas. Andei pela casa, abri a geladeira oito vezes
e nada apareceu, não gostei do filme que passava na Globo, quis escrever pra
alguém, desisti de tudo. Resolvi ler as coisas que eu escrevia há um tempo.
Acho que uma das melhores ideias que eu tive na vida foi fazer o blog. Se dependesse
da maneira como eu guardo as coisas que escrevo, certamente não teria mais
nenhuma lembrança em papel. Onde será que foram parar os meus cadernos? Será
que alguém os leu? Será que reciclaram? Será que eles viraram novos papéis e
agora alguém escreve neles? Bonito, seria bonito. Daí que me dei conta de que a
maioria dos meus dilemas envolvia TEMPO. Eu tinha dezesseis e falava sobre a
dor do tempo passar. Que paranoia com o tempo e eu nem compartilho dos medos
femininos de ver o tempo passar em mim. Fiquei atordoada com essa grilhice de
tempo passar, de perder o tempo, tempo, tempo, mano velho. Me dei conta também de que,
em 2012, temi os vinte e dois. Loucura com o tempo. Eu deveria ler alguém que
me tirasse da cabeça essa coisa. Ou deveria pintar um quadro com um relógio
derretendo e fingir que sou Dali e provar pra mim e pra todo mundo que odeio
relógios. Se nesse quadro o relógio tivesse um inimigo esse inimigo seria o
amor. Vai ver é isso. Vai ver eu era uma adolescente que não gostava do tempo
porque ele era o inimigo do amor. Vai ver eu era uma adolescente que pensou demais
nisso e bebeu cerveja de menos. Eu devia ter bebido mais cerveja pra não
prestar atenção no tempo, pra pensar menos no amor. Eu deveria ter deixado eles
se entenderem sozinhos.
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