7 de outubro de 2012

"votar sou eu querendo ser nós"


Lá em casa todo ano de eleição era bem agitado, com direito a muita discussão, carreata, comício, bandeira, adesivo, atenção no horário eleitoral, meu pai voltando com alguma novidade que escutou na esquina do Café Aquários. Nos tempos de eleição eles ficavam mais cheios de vontade, minha mãe ficava mais ocupada e meu irmão fumava mais. Nos domingos de eleição todos nós ficávamos na sala esperando a contagem dos votos, eles tomavam cafezinho, ansiosos e eu, no meio, desejava ter dezesseis anos pra poder participar daquilo. Por vezes tinha festa da vitória com choro emocionado, por vezes eu ficava triste porque via meus pais desesperançosos. O que eu via era esperança e entendia o que aquilo representava. Mal sabia de qualquer coisa da vida, mas entendia. No meu olhar infantil tinham os malvados e os bonzinhos (os quais transformariam o país em um lugar melhor pra se viver). E, claro, os meus pais estariam ao lado dos bonzinhos, sempre. Um dia eles desistiram. As bandeiras foram desaparecendo, os adesivos foram deixando de ser colados e assim por diante. Depois de um tempo consegui perceber que foi um sentimento que envolveu muita gente. Não só lá em casa. O que incomoda mais.
Hoje é domingo. Dia de eleição. Tive que justificar meu voto, o que doeu, a sensação foi de colocar toda a esperança em uma sacola de lixo e assinar. Não tem todo mundo na sala esperando a contagem de votos, não tem cafezinho, não tem festa da vitória, não tem partido, não tem lado, não tem malvado e não tem bonzinho. Tem um fiozinho de esperança nos meus grandes amigos que entraram na política e nos meus amigos que se esforçaram em permanecer atentos nas eleições de Pelotas e que, em sua maioria, me pareciam firmes na ideia de mudança. Tem um fiozinho de esperança naqueles que nem conheço, mas que levantaram a bandeira do amor em São Paulo. Tem um fiozinho de esperança na nossa geração. Fiozinho de esperança que, pelos meus pais e pela vontade de ver a melhora do país que sempre vi nos olhos deles, espero nunca perder. O Galeano disse e nesse domingo vou ficar mentalizando: “Esse mundo de merda está grávido de outro”. 

Um comentário:

Fernanda Peres disse...

Fantástico. Pode ter certeza,em Pelotas ou qualquer lugar que fores, encontrarás sempre esse fiozinho de esperança, hoje ao falar de politica, feliz ou o, infelizmente né?
Bom, mas li o artigo (nem sei se foi um artigo,um desabafo... tanto faz.)cheguei aqui por outros motivos.Não sei se vais lembrar, talvez tenha um vaga lembrança, o que eu tive ao te encontrar nas redes sociais, depois de tanto tempo.Acredito que lembrança era de um tempo onde as esperanças eram maiores né?, só quero te dizer, que ao te encontrar ou devo dizer reencontrar, tamanha foi surpresa te ver assim, uma mulher tão cheia de idéias(boas,idéias) e tenho acompanhado teus posts, e os "180 cartazes pra sair da fossa", extremo bom gosto e delicadeza, mas pela menina que conheci, não poderia ser diferente.Fiquei feliz, por estares aí, estares bem. Parabéns...eu tenho uma assinatura em uma agendinha, tinhamos 10 ou 12 anos (eu acho), ela é tua, de letra "pegada", caligrafia meio desanhadinha, é tua sim, do teu nome,de nós, de ti, daquela época, me lembro bem. Sejas feliz, grande beijo.