7 de outubro de 2012

"votar sou eu querendo ser nós"


Lá em casa todo ano de eleição era bem agitado, com direito a muita discussão, carreata, comício, bandeira, adesivo, atenção no horário eleitoral, meu pai voltando com alguma novidade que escutou na esquina do Café Aquários. Nos tempos de eleição eles ficavam mais cheios de vontade, minha mãe ficava mais ocupada e meu irmão fumava mais. Nos domingos de eleição todos nós ficávamos na sala esperando a contagem dos votos, eles tomavam cafezinho, ansiosos e eu, no meio, desejava ter dezesseis anos pra poder participar daquilo. Por vezes tinha festa da vitória com choro emocionado, por vezes eu ficava triste porque via meus pais desesperançosos. O que eu via era esperança e entendia o que aquilo representava. Mal sabia de qualquer coisa da vida, mas entendia. No meu olhar infantil tinham os malvados e os bonzinhos (os quais transformariam o país em um lugar melhor pra se viver). E, claro, os meus pais estariam ao lado dos bonzinhos, sempre. Um dia eles desistiram. As bandeiras foram desaparecendo, os adesivos foram deixando de ser colados e assim por diante. Depois de um tempo consegui perceber que foi um sentimento que envolveu muita gente. Não só lá em casa. O que incomoda mais.
Hoje é domingo. Dia de eleição. Tive que justificar meu voto, o que doeu, a sensação foi de colocar toda a esperança em uma sacola de lixo e assinar. Não tem todo mundo na sala esperando a contagem de votos, não tem cafezinho, não tem festa da vitória, não tem partido, não tem lado, não tem malvado e não tem bonzinho. Tem um fiozinho de esperança nos meus grandes amigos que entraram na política e nos meus amigos que se esforçaram em permanecer atentos nas eleições de Pelotas e que, em sua maioria, me pareciam firmes na ideia de mudança. Tem um fiozinho de esperança naqueles que nem conheço, mas que levantaram a bandeira do amor em São Paulo. Tem um fiozinho de esperança na nossa geração. Fiozinho de esperança que, pelos meus pais e pela vontade de ver a melhora do país que sempre vi nos olhos deles, espero nunca perder. O Galeano disse e nesse domingo vou ficar mentalizando: “Esse mundo de merda está grávido de outro”. 

12 de setembro de 2012

a falha de Toninho

Eu pego uma roupa emprestada e derrubo mostarda, compro um colar e perco uma pedra, tento fazer um andar sensual e tropeço. Essa sou eu e já aceitei. Deve ser por culpa desse jeito que nunca soube lidar muito bem com quem faz o tipo "jogo de sedução" (nome de música de pagode) ou com pessoas que não são simpáticas logo de cara. É que se eu fizer logo amizade posso ficar suja de mostarda, perder uma parte do colar e tropeçar que não vou me sentir mal. Fica tudo em casa. Toda essa falta de coordenação se reflete em qualquer tipo de relação amorosa. Aceitei, não levo o menor jeito pra isso. Tentei. Vai ver daqui um tempo eu aprenda, ou sei lá, eu posso adotar gatos. E o mais hilário é que nasci no dia de Santo Antônio. Tá perdoado, Toninho, sei bem como é ser atrapalhado. 

Quando eu morrer não quero choro, nem vela. Apenas peçam ao Selton Mello pra fazer um filme engraçadinho da minha vida.  

4 de setembro de 2012

fé no tempo

Tentei escrever, mas me dei conta de que qualquer palavra se voltaria contra mim e explodiria aqui dentro e meu coração se despedaçaria em tantos pedaços que nem a cola do tempo colaria e, aí sim, tava tudo perdido. É melhor tentar criar pra fora. Que isso tudo exploda em outro lugar. E eu... fico aqui quietinha esperando passar.

http://180cartazesprasairdafossa.tumblr.com/

30 de agosto de 2012

pois o menino voltou




-Eaí, me conta. 
-Já te deram um "caldinho"?
-Um "caldinho"?
-É, um "caldinho", quando alguém tenta te afogar de brincadeira. Coisa de irmão, bobagem.
-Ah, já, claro.
-Uma vez o meu irmão me deu um "caldinho" sem noção. Eu engoli muita água e saí cambaleando do mar. Tossi, cuspi água, foi foda. Fiquei mal pra caramba. 
-Tá, eai?
-Quando as pessoas tentam te dar um "caldinho" tu só tem um objetivo que é voltar a respirar. Tudo isso foi uma mistura de volta de "caldinho" com soneca que se estende até umas 21h e a pessoa acorda perdida e quando a gente faz uma coisa no modo automático - tipo quando tu fecha o carro, entra em casa, volta na rua pra ver se fechou o carro mesmo e já tinha fechado. Eu voltei a respirar ainda meio perdida e preciso aceitar oito meses de vida levada no modo automático. 
-Entendo, as vezes eu me sinto assim em festas, só que daí eu tô bêbada. Diz aí, tá feliz? 
-Tô bebassa de felicidade. 

27 de agosto de 2012

e não me venha com a Simone

Quando eu tinha uns 17 curtia muito a Martha Medeiros (eu também li vários livros do Paulo Coelho com 14 e tô aí, vivona). Eu curtia tudo o que ela falava, me identificava, o Divã era feito pra mim, nossa, a Mercedes tinha problemas amorosos como os meus e tal e coisa. E eu sofria e chorava e escrevia e-mails longos e o meu blog tá aí pra provar a minha chatice. Foi importante pra mim. Importante mesmo. Textos legais organizando o pensamento de uma quase mulher querendo ser mais mulher do que era. Daí o tempo foi passando e eu fui abrangendo a lista dos livros da vida, e gradativamente fui deixando a Martha de lado. Desculpa, Martha, e obrigada por tudo. O lance é que tenho visto as Marthas se multiplicando. Várias Marthas em vários blogs só seus, com liberdade de expressão pra serem exatamente quem são. Mulheres REAIS, com problemas REAIS, que SOFREM quando querem SOFRER e CHORAM quando querem CHORAR. Em caps porque elas são mulheres incisivas e decididas e comandam suas próprias vidas e são donas do seu próprio nariz e zzzzzzzzz. Tá. Daí eu comecei a olhar pra isso com um olhar mais crítico. As novas Marthas têm sempre uma "urgência de viver", pra elas a vida é muito "intensa", pra elas ou "mulher nenhuma precisa de homem" ou elas vivem o maior amor da vida e sofrem muito por isso. Elas são meio parecidas. Ao que me parece, as novas Marthas tão vivendo o auge dos seus 17 só que lá pela casa dos 30. Engraçado, o melhor texto que li nos últimos tempos falava que só os malas ficam dando opiniões e juro que não tô opinando sobre as Novas Marthas Blogueiras de Sucesso. É mais um questionamento. Se o nosso universo cresceu tanto, por que as autoras que tão fazendo mais sucesso são aquelas que falam sobre os mesmos dilemas que a gente tinha, quando adolescente? Sei não. Tô precisando de alguma outra autora pra dar uma organizada nos meus pensamentos.

dane-se o cavalo branco e os grilos

horto sessions #5_nina becker & marcelo callado from horto filmes | clara cavour on Vimeo.

Quando penso nele vem a imagem de um chão de parquet claro e o sol entrando pela janela. Que doidera isso de pensar em alguém e ver imagem de coisa. Faz tempo que tô com essa imagem fixa de casa que se misturou com os pensamentos que envolvem ele. Tô chegando a conclusão que depositei nele toda essa vontade de ver o sol entrando pela janela e batendo no parquet claro de uma casa com poucos móveis. Acho que sempre que eu pensar nele essa ideia e esse sentimento de salvação vão me atormentar. Ele chegando de camiseta do Botafogo e deitando do meu lado no chão, no parquet, me salvando de todos os males e esmagando a agonia desse interlúdio interminável. Nos meus pensamentos eu seria muito feliz nesse lugar. Eu sorrindo e o sol batendo. O sol batendo e eu sem sofrer porque não teria lugar pra despedida, só chegada. Quando penso nele me imagino sorrindo. 

Não tem parquet e chove. A minha memória me prega peças e o tempo sacaneou com tudo. Já não sei mais quem é aquele que existe, aquele que existia, aquela bola verde que por vezes manda notícias e o homem do parquet claro com sol batendo. Meu príncipe do parquet claro e sol batendo. Por onde andas? 



("Descanse um pouco e amanheça aqui comigo...")

15 de agosto de 2012

notícias da janela

Estão mudando a cor do prédio que fica na minha janela. Era amarelo. Agora é branco. Não sei se é uma base pra ir outra cor em cima, mas por enquanto é um grande prédio antigo e branco. Eu ia gostar se ficasse assim. Tá bonito. O mesmo velhinho curioso segue na porta do prédio ao lado, segue também com a cara de ranzinza. Não deve estar entendendo o porquê dessa balbúrdia toda. Garanto que logo ele toma alguma providência. Mais informações sobre esse capítulo em seguida.


(aqui toca Mautner) 

10 de agosto de 2012

pra "lá"

Um dia, quando der, vou até "lá" e escrevo sobre tudo isso. 

8 de agosto de 2012

cadê a aventurice?

Hoje li uma frase que dizia: "cadê a aventurice?". Comecei a pensar sobre isso. Eu achava que se eu dissesse: VEM VAM'BORA! Receberia uma resposta do tipo: PARTIU, SIM'BORA! A VIDA É CURTA POR ISSO CURTA A VIDA! (tinha isso escrito com errorex no banheiro do meu colégio e eu achava incrível). Só que não é assim. Eu esqueci que o tempo passou e que agora as respostas demoram horas pra chegar. Esqueci que agora eu sou "Lanna". Será que a gente virou bunda? Careta? Que medo. Era o meu maior medo. Sempre foi, eu acho. Virar bunda. Vou ficar com isso na cabeça. Vou olhar um casal bunda e pensar que preferiria morrer a olhar assim pra gente. Vou olhar pra eles e pensar: se ele quisesse pular daquela cachoeira de novo, dessa vez eu deixaria, pularia junto, sei lá, não brigaria com ele porque ele pulou de uma ponte só com uma corda na cintura. Porque ele sempre foi meio maluco e se a gente virou bunda a culpa foi toda minha. A culpa foi toda minha. De tudo. Mas, põe aí na mochila grande toda nossa aventurice e vam'bora.



26 de julho de 2012

meu peito é de sal de fruta


Da trilha sonora de hoje: http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=KruHDD1xaXs&NR=1

25 de julho de 2012

mudanças de todos os hábitos


A mudança de hábito começou pelo desktop. 

24 de julho de 2012

café pra um

Tem uma música da Nina Becker que fala de saudade e que diz "meu café tem gosto horrível". Eu também descobri que o meu café é horrível e eu não consigo lembrar qual era a marca que tu comprava, nem quantas colheres tu colocava, nem quanto tempo tu deixava passando. Eu não sei no que eu tava prestando atenção em todas as vezes que tu passou café, mas devia ser alguma bobagem. Acho que pro resto da vida eu vou tomar "café do padre" (vou seguir levando todos os ingredientes à mesa nos almoços de domingo lá na mãe) e a minha casa não vai ter cheirinho de café passado. Ou, pode ser que um dia eu, simplesmente, consiga. Vai ser um grito de independência. Vou te mandar uma mensagem: "hoje tenho certeza que tô sabendo me virar sozinha". Mas, ainda não sei se vai ser um dia bom ou um dia ruim.  

23 de julho de 2012

três amores








Três amores de uma segunda em que eu quis que fosse verão.

18 de julho de 2012

take it easy my brother

Quando eu cheguei aqui não pensei muito sobre a logística de certas coisas. O plano era o seguinte: eu acordaria atrasada, colocaria meus fones, me despencaria pro trabalho, no caminho amaria a cidade mais um pouco, na volta passaria no super, iria pra casa, colocaria água nas plantas, escreveria umas bobagens, faria umas comidinhas e viveria a minha vidinha. Tava tudo feito, tava tudo perto e não tinha muita chance de erro (porque se tiver que dar errado vai dar errado comigo, é meu estilo de vida). Só que domingo ocorreu o choque da desordem. Eu fiquei doente. Em seis meses eu tive a minha primeira grande crise de gastrite. Daquelas. Pra acabar comigo. Pra dar um tapa na cara da ordem da desordem da minha vida. Fazia tempo que isso não acontecia. Acho que eu aprendi a viver com a gastrite e ela aprendeu a viver comigo. Eu fumava, eu tomava café e coca-cola. Ela me dava um alô quando eu ultrapassava no nervosismo. E, "assim íamos vivendo em paz". Desde domingo ela rompeu comigo como uma Amélia enfurecida. E agora... eu não sabia o que fazer. O Omeprazol não bastou, a Magnésia não bastou, comer de hora em hora não bastou, dormir igual um caracol não bastou, deitar no chão da sala e acender incensos não bastou. Fui pro google procurar por "hospitais", perguntei aos amigos, fiz o auê necessário. "Onde tem pronto atendimento nessa porra?". A essa hora eu já odiava tudo que fugia do meu controle e, em transe, me imaginava arrancando a cabeça do segurança da Unimed que me avisava: "aqui fecha às 19h, moça". Daí, eu chorei. Chorei porque "queria a minha mãe", chorei porque eu, em sonho, podia sentir o Omeprazol+Buscopan entrando na minha veia com sorinho e cama de hospital e chorei porque o ônibus tava demorando pra cacete. Passei no super, comprei pão, voltei pra casa, coloquei água nas plantas e em forma de caracol escrevi umas bobagens. No meio disso tudo eu dormi. Acordei hoje sem dor. Atrasada. Mas, sem dor. No meio disso tudo... passou. Acho que era um aviso. "Take it easy my brother". Eu prometi que passaria a semana sem café e não fumo há exatos 13 dias. Voltamos a nos dar bem. Voltamos a viver em paz. E, hoje no caminho pro trabalho voltamos a amar a cidade. 








9 de julho de 2012

hay que llorar y jamás perder la ternura


Quando tô cansada eu choro. Não brigo com ninguém, não xingo ninguém, não reclamo pro vizinho que ele não tranca a porta do prédio e, de olhar marejado, sigo batendo papo com a caixa do supermercado que ouve meus problemas amorosos. Entro no banho e choro. Sento na cama e choro. Dobro algumas roupas e choro. Mas, passa rápido. É um choro só pra extravasar mesmo, só pra sensação de "dor do mundo" (que eu inventei) ir embora de mim. Daí a dor vai embora e fica só o sono mesmo. Durmo, acordo e nem lembro porque tô com a maquiagem borrada. Acho que se as pessoas aderissem a essa terapia nós teríamos um mundo com menos acidentes de carro e atendentes de loja de mal com a vida. Taí, vou lutar por um mundo em que as pessoas chorem mais. 

6 de julho de 2012

2 de julho de 2012

sobre poesia e sorte



"Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi"

O Oswaldo de Andrade disse isso e eu fico pensando: o que será que ensinei pra vocês? Porque eu poderia ficar só ouvindo e aprendendo. Tenho vontade de ficar invisível pra ver como vocês tão levando a vida sem a gente, numa casa sem grito, sem bagunça, sem cabelo no chão e com um neto. Queria ficar olhando e aprendendo durante um tempão. Queria olhar e aprender como é levar essa vida torta e sem projeto que, entre tangos e barrancos, rega a felicidade há tanto tempo. Porque alguém que nasceu do maior amor do mundo deveria ser só aprendizado. Tenho vontade de sair de fininho e deixar um bilhete: "Aprendi com vocês que a poesia é a descoberta de todas as coisas que vi aqui". E, com uma nota de rodapé: "Espero que os meus filhos tenham a mesma sorte". 

29 de junho de 2012

28 de junho de 2012

do intervalo


Entre uma espera de aprovação e outra, um cartazinho da trilha sonora do dia.

27 de junho de 2012

26 de junho de 2012

pra não esquecer que tive uma ideia

Coloquei meu colchão na "sala" e resolvi dormir no chão. Não sei, talvez pra ver a casa por uma outra perspectiva. De visita, talvez, sei lá. Espalhei todas as coisinhas que peguei no final de semana, jornais, folhetos, flyers (que a gente põe na bolsa e nunca mais vê) e li, anotei os cursos legais que queria fazer, as oficinas, os shows, coisa e tal (mas acho que vou esquecer de tudo). Li as revistas que comprei. E, no chão, acho que tive uma ideia. Acho que tive uma ideia e acho que vou convencer as minhas amigas a entrarem nessa comigo. Um projeto mulherzinha, nosso e debochado (sintoma ex-bbb que precisa sempre de um "novo projeto"). Se elas perguntarem o porquê dessa coisa toda eu vou começar assim: coloquem seus colchões na sala pra me ouvir... 


a trilha do chão:









25 de junho de 2012

mergulho








  














Final de semana pra mergulhar na cidade que agora é a minha. E olhar. E amar, cada vez mais.

21 de junho de 2012

das notícias


(ouvi essa música umas 876 vezes hoje) 

Tô me "amarrando" no livro que tô lendo. Era pra ser uma revolução na praia, mas foi em mim mesmo.      Tô com uma nova que são as gírias desse livro, do tipo "fundir a cuca", tô curtindo "pacas". Tô escrevendo muito num caderno que ganhei. Era pra ser um presente normal, mas virou um porta-desabafos que levo na bolsa (antes eu escrevia em um monte de caderninhos que sempre acabava perdendo, lembra? Um dia eu vou colocar vários desses pensamentos no blog, eu gosto do blog, curto ler algumas coisas que eu escrevia em outros tempos). E, ah, eu vou falar muito sobre esse livro ainda. Tô querendo começar um curso de arte. Era pra voltar a desenhar, sinto saudade das aulas de modelo vivo, eu achava a maior "onda". Tô ansiosa e quero pintar a minha casa de "azul ideal", eu vou pintar um metro quadrado de parede e vou ficar com preguiça. Era pra dar uma mudada no clima, um alto astral, cansei do cheiro de incenso, mas não sei se vai dar certo. Tô muito feliz que as malucas tão chegando por aí, tá rolando um monte de exposição "maneira" e a Laurinha quer fazer uma sessão de fotos, a Erika vem tirar o visto pra "dar no pé" e ir pra Portugal e a Paula já trouxe mala e cuia. Todo mundo tá sempre um pouco "indo", né? "Bicho, que maluquice isso". Tô aí. Não sei por onde tu anda, mas achei que deveria mandar notícias. Um beijo

14 de junho de 2012

22 + todo o resto

Fiz aniversário e não ganhei nenhuma ruga, não fiquei com dor nos joelhos e (infelizmente) não me tornei uma pessoa mais tranquila. Recebi um bocado de abraços, muitas mensagens, uma penca de ligações, vários presentes, algumas festas, um bolo em formato de coração e muito carinho. Vinte e dois. Os vinte, daquela comemoração que encasquetei que não tinha roupa pra ir e fui vestindo uma camiseta velha do Strokes, que a gente tomou um porre e bebeu água da torneira de um posto de gasolina e que cheguei com a camiseta toda suja, mais dois. Os dezoito, mais quatro. Os dez, mais doze. Os dois, mais vinte. Vinte e dois. Fiz aniversário e não cresci. Mas, me senti como quando a gente tá indo pro Uruguai e em determinado momento a estrada vira uma pista de vôo. Acho que é isso. Vinte e dois mais uma pista de vôo. Vinte e dois mais uma vida inteira pela frente. 

11 de junho de 2012

frames de um domingo








A vida me deu dos bons. 

9 de junho de 2012

Reflexões de uma gripe


 “Tá tocando Jota Quest, fica tranquila e vê se melhora”. Recebi essa mensagem a uma da manhã, de uma amiga que sabia que eu só queria estar bem e ouvindo música boa. Sai do trabalho saltitante, coloquei meus fones, voei em casa, peguei minha mala e fui direto ao encontro dos meus amigos. Só que deu tudo errado. Foram três horas e meia de muito sofrimento. O moço que sentou do meu lado já não sabia se me acudia, se me oferecia uma água ou se só me garantia que ia ficar tudo bem mesmo. Levanta, senta, caminha pelo ônibus, dói aqui, dói ali e um mal estar que nunca ia embora. Nisso, baixinho, eu já recitava: “descansem o meu leito solitário, na floresta dos homens esquecida, à sombra de uma cruz e escrevam nela: foi poeta, sonhou e amou na vida”. Tá, não foi dessa vez que eu morri e eu nunca fui poeta. Era só gripe mesmo ou o tal “rotavírus”, seja lá o que isso for. Ou, de acordo com o Seu Jeco: “isso é o frio que tu tens passado, nunca vi sair de casa pra passar frio”. Perdi o samba, mas ganhei a história sobre o junho mais gelado que meus pais já vivenciaram: o tal de 1990. Perdi o samba, mas ganhei a possibilidade de ver o documentário do Woody Allen no Telecine Cult (saudoso Telecine Cult) e seguir com o meu preconceito. Perdi o samba, mas meu drama acarretou um belo fogo na lareira e muito mimo. Fiquei tranquila, e ó, desse jeito vai ser facinho melhorar.

Acordei sem força nem pra caminhar, mas tinha compromissos a serem compridos. Bobagem. O compromisso era comigo mesmo e poderia facilmente ser adiado. Mas, não. “Levanta, bamboleia, sacode a poeira e vai pro dia de beleza que tu tinhas marcado”, foi o que minha consciência me disse, e eu, em um ato difícil de ser visto, escutei. Lá estava a doente, sentada em frente ao espelho, ouvindo que o Maicon não valoriza a fulana, que o Kléber só sabe olhar pro seu próprio umbigo e pensando: gente, que tal uma marcha pelos novos assuntos no salão? Peguei minha revista e parei de dar pitacos nos relacionamentos alheios. Eu assino a Lola há um tempão, só que leio sempre com um delay porque chega na casa da minha mãe e tenho preguiça de pedir pra mudar o endereço. Resolvi assinar porque talvez seja uma das poucas revistas femininas que fale da grandeza do universo feminino e não seja um passo a passo de como dominar seu homem na cama. A edição desse mês foi como a primeira vez que vi Ipanema. Não tem nada a ver, eu sei. Mas, é uma sensação de que tudo aquilo poderia ser escrito pra mim, pra eu ler em um salão com alguém falando sobre seus problemas com o marido ao fundo. Ipanema foi mais ou menos isso, eu mais ou menos já me sentia parte de tudo aquilo quando cheguei lá. Uma das matérias mais legais (difícil escolher) chamava “Tudo muito demais” e quis xerocar e deixar embaixo da porta de cada amiga minha. Era simples e falava sobre nossa visceralidade, sobre o nosso dilema em ser tantas ao mesmo tempo e sobre como a gente se autocrítica facilmente. Mas, uma coisa me chamou a atenção “Fazer drama, inclusive através do nosso vestuário, é a nossa vingança! Quando ocorre o drama é que soltamos os nossos fantasmas, os bichos, as inconsciências”. Achei isso tão verdadeiro e tão lindo que, além de me tornar uma leitora mais fiel, de bandeja ainda disse a moça: veste um vestido bem bonito e dá logo um pé na bunda do Maicon.

Perdi meu celular na rua. Cheguei em casa recitando o mantra “Lanna fazendo Lannices” e me culpando, muito, por ser assim tão desastrada. Uma pessoa em uma parada de ônibus achou e me devolveu. Se o meu mundo não é feito de cetim, eu não sei do que é. 

5 de junho de 2012

mirando


Liniers Animado - Bonjour: Un Ósculo Suyo from GAZZ.TV on Vimeo.



Liniers Animado - La Vaca Cinéfila from GAZZ.TV on Vimeo.

O Liniers só não mora no coração de quem não deixa.

“Pois é, não deu.”


Toda pessoa que faz a pergunta “e vocês?” não sabe que toda vez que escuto essa frase tenho vontade de arremessar uma garrafa na parede. Não porque a pergunta não faça sentido, mas porque existe uma aura de descrença, de “modernidade líquida”, de história de relacionamento raso que a gente comenta sem se aprofundar, porque eu teria que explicar muita coisa antes de ousar falar qualquer coisa sobre a gente. Toda pessoa que me faz essa pergunta não para pra pensar nas noites sem dormir, nos filmes que deixei de ver, nas músicas que deixei de ouvir, nos bares que deixei de me sentir feliz, nas ruas que não consigo passar, nos emails que escrevi aos amigos, nos porres que tomei pra esquecer. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que não existiu a cena de ir buscar as minhas coisas na casa dele porque já não existia mais o espaço que era só dele e que não era meu também. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que a gente dividia uma vida e o mesmo teto e que, como de praxe, era tempo dele fazer a mala e ir embora e ele foi e tudo mudou. Acho que perdi as contas das vezes que vi ele fazendo a mala e até hoje não gosto de malas, nem de aeroportos, nem de despedidas. Eu odeio todas as despedidas e acho que é por isso que não consigo dormir cedo. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que um dia fiz uma mala também, que fui embora, que por algum tempo esperei que ele viesse atrás de mim e ele não veio. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele só tinha uma mania chata e que essa mania era apertar a minha costela e aí eu estipulei que a quinta-feira era o único dia da semana que ele podia fazer isso. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que a gente se abraçou e comemorou quando chegamos ao final do Mario Bross 3 como se fosse final de copa do mundo. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que todo dia nós sentávamos no mesmo café ao lado da faculdade e que ele sacava um bloquinho e ficava desenhando e não me dava bola, mas que eu achava aquilo tudo tão bom e familiar que meu coração ficava tranquilo por saber que no dia seguinte nós estaríamos lá de novo, só que acabou a faculdade e ele deve continuar indo no mesmo café e eu não. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que as vezes ele só queria dormir, mas eu queria muito, muito, ir pra praia e ele ia e dormia e ficava com o nariz vermelho. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele foi a pessoa mais calma que já conheci e que ele não tentaria me convencer de nada, não por preguiça, mas porque “logo tudo se ajeita”, só que não se ajeitou. Toda pessoa que me faz essa pergunta simplesmente não sabe a estranheza que o olhar dele trazia quando apareceu aqui com um quadro nas mãos, quando eu chorei e quando ele disse que eu tinha que viver e que ele daria um jeito.  Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que minha mãe diz nascemos com um problema e que esse problema se chama “imediatismo”, ela diz que um dos motivos do meu pai ser o amor da vida dela é que ele sempre correspondeu ao sentimento “imediato” das vontades dela, e realmente aceito que tenho esse problema e que ele é genético, mas apostava que ele também poderia ser o amor da minha vida porque ele sentia quando eu ia ter uma crise e que as soluções saiam da minha alçada e, tranquilamente, em silêncio, levantava, pegava a bicicleta e milagrosamente resolvia os meus problemas. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que ele sentiria vergonha de mim porque tento ser uma pessoa boa, mas sou uma fraude, e porque mesmo sabendo que erro, sigo errando e ele nunca concordaria com os meus erros porque nem carne ele come porque alguém sofreu e ele não deixaria ninguém sofrer por uma vontade dele. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que dele cobrei tanto, fui tanto, senti tanto, ciúme, felicidade, amor e dor, que ele me odiaria se soubesse que sei ser diferente dessa intensidade toda. Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe que tudo que vier daqui pra frente parece tão pequeno perto da grandeza do coração dele, que inflava e se tornava um balão, que me levava e me oferecia um mundo, mesmo que o mundo fosse um quarto todo bagunçado e cheio de desenhos pelo chão que eu reclamava porque ele não cuidava, mas que não importava porque era nosso. 
Toda pessoa que me faz essa pergunta não sabe, nem nunca vai se interessar por saber, que nenhuma resposta seria simples. Toda pessoa que me pergunta “e vocês?” recebe um sorriso amarelo que vem sempre acompanhado da frase “pois é, não deu” e o pensamento: uma garrafa se explodindo na parede.

Uma vez ouvi que o tempo pra hemorragia de uma dor de amor é cerca de seis meses. Hoje li isso em um livro. Parei pra pensar e faz seis meses da última mala que vi ele fazer. Acho que chegou a hora. “Avisa que é de se entregar pro viver” e vamos lá.  



4 de junho de 2012

TÁ TUDO BEM EU TO TRANquila...

Passei e no corredor estavam duas amigas vendo um vídeo e eu parei pra olhar. Era o vídeo do Mil Casmurros e, mesmo sendo antigo, a gente se emocionou porque quem faz uma coisa dessas já pode morrer - e, olha, eu preciso comer muito arroz e feijão pra fazer uma coisa dessas e poder morrer. Daí voltei à problemática de fazer vinte e dois anos. Vinte e dois. Não é nem vinte, que me marcou porque eu mudava de década, nem vinte e cinco, que é mais poético. É uma idade que as pessoas geralmente não dão bola: "Ahhhh os meus vinte e dois". Daí, por ser uma idade meia boca comecei a pensar o que eu poderia fazer até a chegada do dia de completar vinte e dois anos. Pensei em coisas bobas que serviriam só pra sentir a idade passando mesmo. Vinte e dois. Pensei em ler as coisas que li quando adolescente pra ter aquela sensação de que eu não sabia nada (e que certamente vou ler com quarenta e dois e sentirei de novo), mas pra dar alguma importância aos vinte e dois, mesmo que seja só uma maturidade de mentira. Pensei em Dom Casmurro, por amor (e tanto que sempre disse que meu filho chamaria Bento, mas que não seria lunático, só exageradamente romântico porque o nome permitia) porque a gente se emocionou hoje, porque talvez me dê uma luz pra criar alguma coisa legal pra que pessoas legais parem no corredor e se emocionem. Os dias que antecedem meus vinte e dois anos (vinte e dois) serão assim: de amar o que já foi amado (pra amar diferente e sempre mais), de Bentinho e de ideias. Tá resolvido. Tô mais calma. 

Lembrei:
(a música que fechou com chave de ouro a série mais bonita que a televisão já produziu: Capitu) 


30 de maio de 2012

lembrete


Dormi rindo e tentando lembrar que raio de música dizia que a felicidade era cheia de sono. Lembrei no caminho para o trabalho. Lembrei que gosto muito do Tom Zé e que deveria dar mais bola pra ele. Lembrei que desde que eu vi o Pignatari falar pertinho de mim sempre quis saber mais sobre o concretismo, mas sempre tive preguiça. Quando eu comprar um som pra colocar na "sala" vai tocar Tom Zé. Vai ter felicidade, vai ter poesia concreta... E vai ter sono.